Embarcação naufragou logo após invasão do país liderada pelos EUA há vinte anos. Hoje, carcaça é ponto de encontro para piqueniques entre pescadores.
Por Redação, com DW - de Bagdá
Na confluência dos rios Tigre e Eufrates, no Iraque, uma imagem parece ter sido congelada no tempo: os destroços enferrujados de um iate que naufragou há 20 anos, quando a invasão do país liderada pelos Estados Unidos pôs fim a décadas do regime opressor de Saddam Hussein. Trata-se do Al-Mansur (Vitorioso), que pertenceu ao ex-ditador e hoje virou atração turística e ponto de encontro para piqueniques entre pescadores locais.
Medindo 120 metros de comprimento e pesando mais de 7 mil toneladas, o antigo iate presidencial foi montado na Finlândia e entregue ao Iraque em 1983, segundo o site do designer dinamarquês Knud E. Hansen, responsável pela obra. Hoje, o que um dia foi símbolo da riqueza e megalomania do ex-líder iraquiano jaz caído de lado, meio submerso, nada mais do que um frágil eco das falsas glórias do passado.
– Quando era propriedade do ex-presidente, ninguém chegava perto dele – disse à agência inglesa de notícias Reuters o pescador Hussein Sabahi, que gosta de terminar um longo dia no rio Shatt al-Arab com uma xícara de chá a bordo dos destroços. "Custo a acreditar que isso pertenceu a Saddam e agora sou eu que transito por aqui", completou.
Al-Mansur foi bombardeado em março de 2003
No período imediatamente anterior à invasão em 20 de março de 2003, o Al-Mansur estava atracado no Golfo. Algumas semanas depois, porém, Saddam emitiu ordens para que o iate, no qual ele nunca embarcou, deixasse seu ancoradouro em Umm Qasr.
A embarcação foi então levada até Basra, onde se encontra atualmente, "para protegê-la do bombardeio de aviões americanos", segundo o engenheiro marítimo Ali Mohamed. "Isso foi um fracasso", acrescentou.
De acordo com o ex-chefe de patrimônio de Basra, Qahtan al-Obeid, em março de 2003 "vários ataques" foram lançados no iate ao longo de vários dias. "Ele foi bombardeado pelo menos três vezes, mas nunca afundou", conta.
Em fotos tiradas por um fotógrafo da AFP em 2003, o Al-Mansur ainda pode ser visto flutuando na água, com seus andares superiores carbonizados por um incêndio que começou devido ao bombardeio. Mas em junho daquele ano, o barco já começava a se inclinar. O fator decisivo teria sido quando os motores foram roubados. "Isso criou aberturas e a água entrou, fazendo com que ele perdesse o equilíbrio", disse Obeid.
No tumulto que se seguiu à queda de Saddam, o iate foi saqueado. Quase tudo foi removido, desde lustres e móveis até partes de sua estrutura de metal. Desde então, ele entrou em decadência. Embora alguns iraquianos defendam a preservação dos destroços, sucessivos governos não conseguiram alocar fundos para recuperá-los.
– Este iate é como uma joia preciosa, como uma obra-prima rara que se guarda em casa – disse Zahi Moussa, capitão naval que atua no ministério iraquiano dos transportes. "Nos entristece que esteja assim."