Rio de Janeiro, 13 de Fevereiro de 2025

Desmatamento na região amazônica aumenta nos governos de extrema direita

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Segunda, 01 de Abril de 2019 às 15:54, por: CdB

“Com a crise política e econômica do final do segundo governo Dilma Rousseff, a vigilância ambiental afrouxou um pouco, de forma que os desmatamentos chegaram a 7.989 km2 ao ano”, afirmou a professora Violeta Loureiro.

 
Por Marilza de Melo Foucher - de Manaus
  A vigilância ambiental relaxou após o golpe de 2016, com a derrubada da presidenta Dilma Rousseff, e o desmatamento chegou agora a quase 8 mil quilômetros quadrados na região amazônica, constata a professora Violeta Refkalefsky Loureiro, em entrevista à correspondente do Correio do Brasil, em Paris, Marilza de Melo Foucher, de passagem pela Amazônia para o lançamento de seu livro Quase-Poemas. Doutora em Sociologia do Desenvolvimento pela Universidade de Paris III; pós-doutora em Sociologia pela Universidade de Coimbra; mestre em Sociologia pela UNICAMP e professora emérita da Universidade Federal do Pará (UFP), Violeta Loureiro acrescenta que as plantações de soja avançam sobre o bioma do Cerrado, o que coloca em risco espécimes da fauna e flora nativas.
— O que evoluiu concretamente em termos de políticas ambientais na Amazônia? Como a senhora analisa a atual política concernente aos impactos ambientais para a Amazônia?
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A professora Violeta Loureiro constata que a Amazônia vive um período de grave perigo para a floresta
— Embora a legislação tenha continuado praticamente a mesma, dois avanços foram obtidos nas duas últimas décadas. No ano de 2003, por exemplo, os desmatamentos na região chegaram a 24.597km2 (dados do INPE- Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), número muito próximo dos alarmantes índices das décadas anteriores. No governo Lula houve uma redução drástica nos desmatamentos, que continuou no governo Dilma Rousseff. Em 2011/2012 os desmatamentos chegaram a 4.656 km2 por ano (INPE). Com a crise política e econômica do final do segundo governo Dilma Rousseff, a vigilância ambiental afrouxou um pouco, de forma que os desmatamentos chegaram a 7.989 km2 ao ano (INPE). A redução nos desmatamentos nos governos Lula e Dilma decorreu de dois fatores principais: aumento da fiscalização e à moratória da Soja. A moratória foi um acordo firmado entre importadores de soja, entidades representativas dos produtores de soja no Brasil, Ongs ambientais e, mais tarde, do próprio governo, prevendo a adoção de medidas contra o desmatamento da Amazônia e, recusando-se a comprarem soja produzida na região.

Questão ambiental oscila conforme a índole dos governos

O acordo inicialmente teve o prazo de duração de dois anos a contar de 2006 mas, tem sido renovado. Como esse acordo não atingiu o Centro-Oeste, os sojeiros têm avançado sobre áreas do bioma Cerrado, situado no Centro-Oeste. Ora, isto põe em risco não apenas o Centro-Oeste mas todo o Brasil, uma vez que no Cerrado nascem rios que formam seis das principais bacias hidrográficas brasileiras: Parnaíba, Paraná, Paraguai, Tocantins-Araguaia, São Francisco e mesmo alguns rios da margem direita da bacia amazônica. Então, disso tudo pode-se tirar ao menos duas conclusões: a questão ambiental não é uma questão de Estado; é de governo. E oscila conforme a índole dos governos e as pressões internas e externas sobre o aparato governamental. Também, que o Estado brasileiro costuma não enfrentar os problemas diretamente; costuma transferi-los de uma região para outra ou adiar uma solução mais definitiva, sempre que possível.
— As pesquisas nessas áreas evoluíram?
— Sim. Pode-se dizer que, do ponto de vista ambiental, desde a Eco-92 os progressos na área ambiental foram enormes. Um dos grandes méritos da Rio-92 foi divulgar o conceito de biodiversidade; hoje, boa parte da sociedade sabe que, quando se desmata, não é apenas a floresta que fica comprometida: são os rios, os solos, os animais, os insetos, as chuvas, o lençol freático etc. Hoje, há a compreensão de que a região é o maior laboratório genético do planeta e que o rumo certo para o desenvolvimento não está na mineração e no agronegócio, que destroem a biodiversidade e aumentam a desigualdade social. Eles concentram renda nas multinacionais que não se articulam com a economia e as sociedades da região. As pesquisas já mostraram há muito, que podemos manter o máximo de floresta em pé, intensificar a riqueza da natureza com espécies nativas e aproveitar as espécies vegetais e animais na produção de novos medicamentos, novos alimentos (com os frutos de sabores ímpares da região), novos produtos, piscicultura etc.
— Por que não se faz isto?
— Porque os governos acham mais fácil financiar o agronegócio do que articular-se com universidades e laboratórios de pesquisa para aproveitar o resultado das investigações já feitas. É o que fazem os países desenvolvidos mas, no Brasil, predomina a continuidade do velho modelo agroexportador de matéria-prima e um renovado modelo da 'casa-grande & senzala'. Além disso, os governos não relacionam o aumento da criminalidade com a concentração de renda do modelo, a pobreza, o desemprego e a carência de educação. Também a relação homem/natureza (especialmente na Amazônia) tem sido amplamente estudada. Hoje sabe-se que há um enorme saber acumulado pelas populações tradicionais sobre a natureza, que também, não é aproveitado em benefício delas.
— Hoje, com o governo Bolsonaro, existem riscos de retrocesso?
— No período eleitoral Bolsonaro anunciou uma série de retrocessos, como a mineração em terra indígena, acabar com a “indústria de multas” na área ambiental e outras. Atualmente, com pouco mais de 100 dias, seu governo está enfraquecido e sem base concreta de apoio. As críticas são constantes e pertinentes; e vêm de todos os lados, inclusive do partido dele. Isto não significa que não haverá retrocessos, mas creio que ao menos a ideia de mineração em terra indígena deve estar descartada; depois do rompimento de três barragens de mineradoras, (duas em Minas Gerais, uma delas com 19, outra com mais de 300 mortos); e uma terceira em Rondônia. Temos pela frente uma incógnita quanto às questões social e ambiental: se o governo Bolsonaro sofrer impeachment ou renunciar, sobe o vice. Curiosamente, os militares têm sido, até agora, mais sensatos do que o presidente mas, como já tivemos uma experiência anterior muito ruim com eles, melhor aguardar os acontecimentos e não apostar em nada.
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