Rio de Janeiro, 22 de Novembro de 2024

Cúpula militar dos EUA temia que Donald Trump desse um golpe

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Sexta, 16 de Julho de 2021 às 10:57, por: CdB

 

Chefe do Estado-Maior relata que militares do alto escalão planejavam renúncia caso Trump tentasse impedir posse de Biden. General chegou a comparar Trump com Hitler e disse que temia um novo "incêndio do Reichstag".

Por Redação, com DW - de Washington

A principal autoridade militar norte-americana, o chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, general Mark Milley, temia que o então presidente do país Donald Trump realizasse um golpe após ter perdido as eleições presidenciais de novembro de 2020, revela um livro de jornalistas do Washington Post.
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A principal autoridade militar dos EUA, o general Mark Milley (esq.), cumprimenta o então presidente norte-americano em 2018
Escrito pelos repórteres Carol Leonnig e Philip Rucker, ambos ganhadores do Prêmio Pulitzer, o livro descreve como Milley e outros membros do Estado-Maior debateram um plano de renúncia coletiva para não terem que cumprir ordens de Trump que consideravam ilegais, perigosas ou imprudentes. Trechos da obra foram divulgados na quinta-feira. A retórica pré-eleitoral de Trump alarmou Milley e outros generais, que então se decidiram preparar para o "inimaginável", segundo o livro "I Alone Can Fix It: Donald J. Trump's Catastrophic Final Year" ("Eu Sozinho Resolvo: O Último Ano Catastrófico de Donald J. Trump", em tradução livre), que será publicado na próxima semana nos EUA, mas ainda não tem edição programada para o Brasil. O livro traz os bastidores de como autoridades do alto escalão do governo e o círculo interno de Trump lidaram com o comportamento do presidente após a derrota na eleição de 2020. Os autores entrevistaram Trump e mais de 140 outras fontes para o livro – a maioria sob anonimato.

"Eles podem tentar, mas não vão ter sucesso"

– Eles podem tentar, mas não vão ter sucesso – disse o general aos seus miltares, de acordo com o livro. "Você [Donald Trump] não pode fazer isso sem os militares, não pode fazer isso sem a CIA e o FBI. Nós somos os homens com as armas", acrescentou. Depois das eleições de novembro do ano passado, Trump se recusou a aceitar a vitória do atual presidente dos EUA, Joe Biden. As constantes acusações infundadas de Trump de que teria havido fraude eleitoral e as trocas de pessoal que colocaram aliados de Trump em posições de poder no Pentágono após a eleição aumentaram a preocupação de Milley e de outros militares. O general comparou a retórica de Trump com a de Adolf Hitler ao afirmar que o então presidente dos EUA estava espalhando o "evangelho do Führer". Nos dias que antecederam a invasão do Capitólio, ocorrida em 6 de janeiro, Milley estava preocupado com a convocação de Trump para a ação e traçou paralelos com o incêndio criminoso do Reichstag em 1933, logo após a eleição de Hitler, episódio que marcou a consolidação da ditadura nazista. "Milley disse a sua equipe que acreditava que Trump estava fomentando uma agitação, possivelmente na esperança de uma justificativa para invocar a Lei de Insurreição e convocar os militares", diz trecho do livro. "Este é um momento Reichstag", disse o general. E antes de uma marcha pró-Trump em novembro de 2020, realizada para protestar contra os resultados das eleições, o general disse a assessores que temia que o momento poderia se transformar no "equivalente norte-americano moderno dos camisas-pardas", uma referência à milícia nazista que agredia e assassinava adversários de Hitler nos anos que precederam o Terceiro Reich. Depois do incidente no Capitólio, Milley participou de um exercício com líderes militares e policiais para se preparar para a posse de Biden. A capital Washington foi completamente isolada. "O negócio é o seguinte, pessoal: esses caras são nazistas, eles são [do movimento] Boogaloo, são os Proud Boys. São as mesmas pessoas que combatemos na Segunda Guerra. Vamos colocar um anel de aço em torno desta cidade e os nazistas não vão entrar", disse.

"Aquela vaca da Merkel!"

O livro também menciona um relacionamento tenso de Trump com a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel. "Aquela vaca da Merkel!", teria dito Trump a seus assessores durante uma reunião sobre a Otan e a relação dos EUA com a Alemanha. "Eu conheço os malditos chucrutes", acrescentou, enquanto apontava para uma fotografia emoldurada de seu pai. "Fui criado pelo maior chucrute de todos." Em resposta aos conteúdos expostos no livro, o ex-presidente norte-americano divulgou um longo comunicado, no qual afirmou nunca ter ameaçado ou falado com ninguém sobre um golpe no governo. Trump explicou que "não gosta de golpes" e repetiu suas afirmações infundadas sobre fraude eleitoral. "Se eu desse um golpe, uma das últimas pessoas com quem gostaria de fazê-lo seria com o general Mark Milley", disse Trump e acrescentou que as alegações do general são "ridículas".
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