“O racionamento grudou em FHC como tatuagem e virou palavrão. A experiência de 2001 ensinou que boa comunicação e divisão igualitária dos sacrifícios são fundamentais para a adesão da população", afirmou a economista Helena Landau.
Por Redação - de São Paulo
“Não é todo dia que um ministro fala em cadeia nacional. A gravidade da situação justifica”, afirmou a economista Helena Landau, em coluna divulgada para os assinantes do diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo (OESP), nesta sexta-feira, em análise sobre a crise hídrica que atinge o país. A colunista do OESP, especializada no setor elétrico, esperava do ministro de Minas e Energia, o almirante de esquadra Bento Albuquerque, “uma mensagem que passasse à população os riscos reais de racionamento”.
“Não veio. Anunciou três frentes de ação: um apelo à sociedade para reduzir o desperdício no consumo de água e energia; o desenho de um programa voluntário para que a indústria desloque seus horários de produção, aliviando a pressão em momentos de pico de demanda; e a criação de uma Câmara emergencial, para fortalecer a governança do processo decisório para implementar medidas emergenciais”, cita Landau.
A especialista percebeu, no entanto, que o ministro “não entrou em detalhes de como funcionaria a Câmara nem que tipo de parceria está propondo com o setor produtivo”.
— É com serenidade, portanto, que tranquilizamos a todos — disse Albuquerque.
Sacrifícios
Segundo Landau, “deu a impressão que basta nossa solidariedade para evitar um apagão”.
“O racionamento grudou em FHC como tatuagem e virou palavrão. A experiência de 2001 ensinou que boa comunicação e divisão igualitária dos sacrifícios são fundamentais para a adesão da população. Além de sinais de preços, é claro. O custo foi a redução no ritmo de atividade econômica. Bons tempos em que PIB de 1,1% era sinal de fracasso”, acrescentou.
Ainda no texto, a articulista lembra que “desde então uma questão técnica – risco hidrológico – foi politizada e qualquer iniciativa de restringir o consumo de energia é afastada. Ou tratada com metáforas, como ‘racionalização voluntária’. Bento Albuquerque não escapou dessa armadilha. Trazendo um cenário mais róseo que a realidade, diminuiu a urgência das ações necessárias para afastar o risco de racionamento”.
“Sou cética sobre a possibilidade de apelos para a população dar resultado. Se dourar a pílula, ninguém vai entender ou apoiar medidas excepcionais. Se não for perigo real e imediato, os sacrifícios exigidos de todos, por igual, não terá apoio”, resume.