Na CPI da Covid, Elcio Franco disse ainda que o planejamento para aquisição de vacinas pelo governo federal foi “estratégia acertada”. Ele foi questionado sobre a falta de compra de vacinas, mas respondeu que acompanhava os estudos das farmacêuticas.
Por Redação, com RBA - de Brasília
Chamado de “mentiroso” por mais de um senador na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, nesta quarta-feira, o coronel Antônio Elcio Franco Filho, ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, insistiu na versão fabulosa que desfiou sobre a compra de hidroxicloroquina; além das contradições sobre a sequência de fatos que causaram o atraso de meses na compra das vacinas Coronavac, com o Instituto Butantan, e da Pfizer.
No início do depoimento, Franco Filho disse que não ocorreu aquisição de cloroquina para covid-19, mas para o programa antimalária, no que integrantes da Comissão protestaram, de imediato. Em 30 de abril de 2020, foi assinado termo aditivo com a Fiocruz visando à aquisição para entrega posterior.
Uma reportagem do diário conservador paulistano Folha de S.Paulo, todavia, comprova que o Ministério da Saúde desviou, para covid-19, 2 milhões de 3 milhões de comprimidos de cloroquina fabricados pela Fiocruz. Na época, o desvio de finalidade do medicamento deixou descoberto o programa nacional de controle da malária, com risco de desabastecimento para pacientes da doença.
Contradição
Na CPI da Covid, Elcio Franco disse ainda que o planejamento para aquisição de vacinas pelo governo federal foi “estratégia acertada”. Ele foi questionado sobre a falta de compra de vacinas, mas respondeu que acompanhava os estudos das farmacêuticas e que não permite aquisição de medicamentos sem aprovação da Anvisa.
— A fase 3 de estudos clínicos é considerada um cemitério de vacinas. Pela incerteza do sucesso dos imunizantes, nós não avançamos — acrescentou.
Presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM) perguntou então se era prática do Ministério da Saúde adquirir vacinas apenas após a terceira fase, e Elcio diz que sim. Porém, o próprio ex-secretário confirmou que a vacina da Astrazeneca foi comprada ainda na fase 2.
Em mensagem divulgada durante o depoimento de Franco, o jornalista da agência norte-americana de notícias The Intercept Brasil, Leandro Demori apontou a contradição de Elcio. “A verdade: Pfizer e Coronavac ofereceram vacinas antes da aprovação da Anvisa e o governo não pagaria caso a vacina não fosse aprovada”, escreveu em uma rede social. O jornalista Flávio Fachel, do grupo Globo, também lembrou que o argumento de eficácia também é mentiroso. “Mas para o uso da cloroquina, um medicamento sem comprovação alguma de eficácia, houve ação de divulgação, compra e distribuição”, acrescentou.
Butantan
Sobre carta de intenções de compra ao Butantan, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) perguntou se foi a cancelada por ordem de Bolsonaro e Pazuello. Elcio Franco afirmou que não falou com o ex-ministro da Saúde sobre o tema e não interrompeu as negociações.
Em seguida, a integrante da CPI da Covid Eliziane Gama (Cidadania-MA) apontou documento do Instituto Butantan mostrando que as negociações foram suspensas, contradizendo Elcio Franco. O senador Humberto Costa (PT-PE) também leu uma entrevista do ex-secretário dizendo que Pazuello se equivocou ao anunciar a compra da vacina.
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) criticou, por meio das redes sociais, as mentiras do ex-membro do governo Bolsonaro. “Elcio Franco mente! O presidente do Butantan, Dr. Dimas Covas, foi claro: as negociações ficaram paralisadas desde a ordem de Bolsonaro até janeiro”, tuitou.
Convocações
Logo na abertura da sessão, a CPI da Covid aprovou a convocação de mais depoentes, como Osmar Terra, integrante do chamado “gabinete paralelo”, e de Renato Spallicci, presidente da Apsen, farmacêutica que produz a cloroquina.
Osmar Terra é apontado como um dos conselheiros do presidente Jair Bolsonaro e influencia em suas decisões negacionistas. Já Spallicci deve responder sobre um pedido de 100 quilos de sulfato de hidroxicloroquina por US$ 155 mil (cerca de R$ 821.500). Mensagens entre autoridades indianas e o embaixador brasileiro em Nova Deli, Elias Luna Santos, apontam como compradora e beneficiada da transação a Apsen Farmacêutica, do bolsonarista Spallicci.
A CPI também aprovou o requerimento para convocação da coordenadora do Plano Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde, Franciele Francinato. Outro requerimento, também aprovado, solicita a acareação entre Franciele e a doutora Luana Araújo, para prestar esclarecimentos sobre vacinação de gestantes. O senador Otto Alencar (PSD-BA) busca saber quem foi o responsável por orientar que gestantes que tomaram a primeira dose da vacinação com AstraZeneca pudessem tomar a segunda dose de qualquer outro laboratório.
Foi aprovada também a convocação do desenvolvedor do aplicativo TrateCOV ou do técnico responsável da empresa contratada. A ferramenta foi publicada pelo Ministério da Saúde com o objetivo de incentivar pacientes de covid-19 a utilizarem o “tratamento precoce”.