Queiroga anuncia que idosos e imunossuprimidos serão os primeiros a receber vacina de reforço contra a covid-19. OMS é contra e defende que se espere avanço da imunização em países mais pobres.
Por Redação, com DW - de Brasília
O Brasil vai começar a aplicar a terceira dose da vacina contra a covid-19 em 15 de setembro. No início da fila estarão idosos e imunossuprimidos, segundo anunciou nesta quarta-feira o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
Estudos sugerem que a proteção das vacinas pode cair com o tempo, sobretudo diante de variantes mais contagiosas, como a delta, e a dose de reforço é uma medida atualmente discutida em nível mundial. Pelo menos 14 países, como Estados Unidos e Alemanha, já decidiram aplicar uma terceira dose dos imunizantes.
Em Israel, por exemplo, a terceira dose já é dada a maiores de 50 anos desde julho. No Chile, começou em agosto a aplicação de uma dose extra da AstraZeneca nos idosos que receberam duas doses da CoronaVac.
Para a dose de reforço no Brasil, será usada preferencialmente a vacina da Pfizer-Biontech, ou, de maneira alternativa, os imunizantes de vetor viral da Janssen ou da AstraZeneca, anunciou o governo federal.
A imunização de reforço será inicialmente para pessoas acima de 70 anos, começando pelos maiores de 80 anos, eles devem ter tomado a segunda dose há mais de seis meses. No caso dos imunossuprimidos, a terceira dose pode ser aplicada 28 dias após a segunda.
Segundo o ministro, o dia 15 de setembro foi escolhido porque o governo espera que, até lá, toda a população com mais de 18 anos no Brasil já tenha recebido ao menos uma dose das vacinas.
Horas após o anúncio do governo federal, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que, no estado, a aplicação da terceira dose começará antes, em 6 de setembro, e incluirá idosos acima de 60 anos. Os imunossuprimidos ainda não foram incluídos no calendário de reforço paulista.
A decisão dos países de seguir adiante com a terceira dose ignora um apelo da Organização Mundial da Saúde (OMS), que defende que eles deveriam antes aguardar que a vacinação avance mais no resto do mundo.
Espaço entre as doses será reduzido
Queiroga também anunciou que a partir do mesmo dia 15 de setembro começará a redução do intervalo entre as doses das vacinas da Pfizer e da AstraZeneca: ele cairá de 12 para oito semanas, ficando igual ao realizado no Reino Unido atualmente.
Estudos mostram que a primeira dose, no caso da Delta, tem eficácia reduzida e não consegue evitar boa parte das infecções. Com a segunda, a proteção aumenta, sobretudo contra casos severos da doença. Portanto, antecipar a segunda dose permitirá ao Brasil, como afirmou o ministro, manter a curva de casos em queda.
Queiroga disse que a decisão foi tomada diante da possibilidade de disseminação da variante delta do coronavírus no Brasil.
Variante Delta
Segundo um relatório interno do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), a variante Delta é muito mais contagiosa, tem maior probabilidade de atravessar as proteções oferecidas pelas vacinas contra a covid-19 e é capaz de deixar os infectados mais gravemente doentes do que as outras versões conhecidas do vírus Sars-Cov-2.
Uma pesquisa realizada no Reino Unido com base nos resultados de exames PCR de mais de 1 milhão de pessoas que haviam recebido as duas doses das vacinas da Pfizer-Biontech ou da AstraZeneca mostrou queda no nível de proteção com o tempo.
A proteção da vacina da Pfizer-Biontech contra uma infecção caiu de 88% (um mês após a imunização completa) para 74% após cinco ou seis meses. A proteção da AstraZeneca foi de 77% para 67% após quatro ou cinco meses, segundo o estudo.
Outro estudo britânico, realizado pela Universidade de Oxford a partir dos resultados de exames PCR de quase 400 mil adultos, já havia identificado queda da eficácia de ambas as vacinas contra a variante delta após três meses da imunização completa.