A princípio, a estreia paralímpica de Beth no atletismo seria nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016, no arremesso do peso. Meses antes, porém, a santista teve de passar outra vez por uma classificação funcional (processo que categoriza o atleta conforme o grau da deficiência) devido à esclerose ser uma patologia degenerativa.
Por Redação, com ABr - de São Paulo
Quando Beth Gomes aparece entre as competidoras do lançamento do disco, é quase certo que um novo recorde mundial paralímpico está a caminho. Foi assim nos Jogos Parapan-Americanos de Lima (Peru), no Mundial de Dubai (Emirados Árabes Unidos), ambos em 2019, e na seletiva da seleção brasileira de atletismo da Paralimpíada de Tóquio (Japão), em junho. Nesta última, em São Paulo, a lançadora de 56 anos, que já estava com a vaga nos Jogos garantida, bateu o próprio recorde duas vezes, cravando 17,41 metros. A marca supera a de Dubai em mais de meio metro (52 centímetros). Natural de Santos (SP), Beth compete na classe F52, uma das oito voltadas a cadeirantes nas provas de campo (lançamentos de disco e dardo e arremesso do peso). A categoria reúne atletas sem controle de tronco e com deficiência nos membros superiores. A principal adversária na disputa pelo topo do pódio é a ucraniana Iena Lebiedieva, da classe F53, uma acima da paulista (portanto, com menor comprometimento motor que ela). “Cada competição é uma surpresa para nós. Eu entro na prova para fazer o meu melhor e os recordes têm vindo. É fruto do trabalho, da evolução. Minha treinadora, a Roseane Farias, é uma pessoa que é tudo na minha vida e contribuiu muito para eu chegar a esse ápice na carreira. Sei que a esclerose múltipla, minha patologia, causa muito impacto e fadiga, então, a cada treino, venho me superando. Elas, lá fora, também estão treinando para fazer um bom papel. Cada quebra de recorde passa a sensação de ter uma grande chance, mas tenho que ter as rodas da cadeira no chão”, projetou Beth à Agência Brasil. Apesar de os Jogos de Tóquio serem os primeiros em que disputará medalhas no atletismo, Beth teve o gostinho de competir no maior evento paralímpico do planeta. Em 2008, a paulista integrou a seleção de basquete em cadeira de rodas na Paralimpíada de Pequim (China). A modalidade foi a que introduziu a hoje lançadora no movimento paradesportivo em 1996, três anos após ser diagnosticada com a esclerose múltipla. – Naquela época, era o basquete que inseria as pessoas com deficiência no esporte. Foi uma experiência inacreditável ser convocada à Paralimpíada. Na abertura, quando adentrei o Ninho de Pássaro (estádio que recebeu a cerimônia), eu me beliscava para ver se era um sonho. Agora, os Jogos são em outra modalidade. É muita adrenalina, um friozinho na barriga. Quero que meu disco vá o mais longe possível – emocionou-se. Simultaneamente ao basquete, porém, Beth já vivenciava o atletismo. Foi corredora em cadeira de rodas e representou a cidade de Santos (onde é guarda-civil municipal reformada) nos Jogos Regionais e Abertos do Interior, este último o principal torneio poliesportivo amador do país. As provas de arremesso e lançamento entraram de vez na rotina em 2006. – Meu treinador sugeriu que fizéssemos as provas de campo, que poderíamos trazer mais pontos para a cidade nos Jogos. Aceitei o desafio. Comecei a treinar junto com o basquete e consegui trazer resultados. As provas de campo se tornaram uma outra paixão – contou a santista, que deixou o basquete em 2010 para se dedicar integralmente ao atletismo a partir do ano seguinte, tendo como inspiração a campeã paralímpica Rosinha Santos, ouro no arremesso de peso e no lançamento de disco na Paralimpíada de 2000, em Sydney (Austrália).