Rio de Janeiro, 08 de Novembro de 2024

Bayer é condenada a pagar US$ 80 milhões por glifosato

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Quinta, 28 de Março de 2019 às 08:11, por: CdB

Júri nos EUA decide que empresa deverá indenizar vítima por não alertar sobre o risco apresentado pelo herbicida Roundup, amplamente utilizado ao redor do mundo mas, segundo a OMS, potencialmente cancerígeno.

Por Redação, com DW - de Washington

A Bayer foi condenada na quarta-feira por um júri nos Estados Unidos a pagar mais de US$ 80 milhões em danos a um morador do estado da Califórnia que alega que o herbicida Roundup, produzido pela Monsanto, contribuiu para que ele desenvolvesse câncer.
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Principal ingrediente da marca Roundup é o glifosato, amplamente utilizado ao redor do mundo.
O caso pode influenciar milhares de outros processos similares contra a companhia nos EUA. Adquirida pela Bayer no ano passado por US$ 63 bilhões, a Monsanto enfrenta 11,2 mil casos similares na Justiça americana envolvendo o Roundup. O júri ordenou que a Bayer pague a Edwin Hardeman, de 70 anos, uma quantia de US$ 5 milhões em compensações, US$ 75 milhões como punição e 200 mil dólares por despesas médicas depois de concluir que o Roundup foi fabricado defeituosamente, que a Monsanto não fez advertências sobre o risco apresentado pelo herbicida e que a companhia agiu de forma negligente. Ao longo de anos, Hardeman usou produtos da marca  para tratar carvalhos envenenados, ervas e outras plantas em sua propriedade em São Francisco. Segundo ele, o uso do produto levou ao desenvolvimento de um linfoma não-Hodgkin, um tipo de câncer que afeta as células do sistema imunológico. O principal ingrediente da marca é o herbicida glifosato, amplamente utilizado ao redor do mundo, apesar de ter sido classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como "provavelmente cancerígeno" em 2015. Em uma primeira fase do julgamento, o mesmo júri havia concluído que o Roundup foi um "fator substancial" entre as causas do câncer de Hardeman. Na segunda fase, realizada nesta quarta, as advogadas de Hardeman apresentaram documentos internos que, segundo elas, provam o esforço da empresa para influenciar cientistas e órgãos reguladores sobre a suposta segurança do produto. Aimee Wagstaff e Jennifer Moore, advogadas de Hardeman, comemoraram o veredito. Para elas, a decisão é histórica e envia uma mensagem clara de que a Monsanto precisa mudar suas práticas comerciais. – Ficou claro pelas ações da Monsanto que a empresa não se importa se o Roundup causa câncer, e, em vez disso, se foca em manipular a opinião pública e descreditar quem quer que demonstre preocupações genuínas e legítimas sobre o Roundup – afirmaram. "O fato de que nenhum funcionário da Monsanto tenha vindo ao julgamento defender a segurança do Roundup ou as ações da empresa diz muito a respeito”. Hardeman disse a jornalistas estar comovido com o desfecho do caso. "Ainda não caiu a ficha", disse. A Bayer afirmou que, embora simpatize com a situação de Hardeman, vai recorrer. – Estamos desapontados com a decisão do júri, mas esse veredito não tira o peso de mais de quatro décadas de pesquisa extensiva e as conclusões de órgãos reguladores ao redor do mundo que apoiam a segurança de herbicidas baseados em glifosato e que eles não são cancerígenos – disse a empresa em comunicado. – O veredito nesse julgamento não tem impacto em casos e julgamentos futuros, pois cada um é moldado por suas próprias circunstâncias factuais e jurídicas – acrescentou a Bayer. Apesar de a OMS ter classificado o glifosato como provavelmente cancerígeno, agências reguladoras como a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA, na sigla em inglês), a Agência Europeia dos Produtos Químicos (ECHA) e a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) não seguiram a decisão. A Bayer nega que o herbicida cause câncer e questiona as conclusões da OMS. No ano passado, a Monsanto também perdeu um caso contra um funcionário de uma escola da Califórnia que sofria de linfoma não-Hodgkin e processou a empresa por conta dos herbicidas Roundup e Ranger Pro, ambos baseados em glifosato. A Monsanto recebeu ordem de pagar 289 milhões de de dólares a Dewayne Johnson, mas a penalidade foi reduzida para 78,5 milhões. A Bayer também entrou com recurso. No continente europeu, o glifosato também suscita polêmica. Depois de dois anos de debate acirrado, a União Europeia decidiu em 2017 renovar a permissão de uso do glifosato por mais cinco anos, citando a aprovação do composto pela EFSA. Mas a independência do relatório da EFSA foi questionada após notícias na mídia sugerirem que trechos haviam sido copiados e colados de análises feitas pela própria Monsanto. No Brasil, o glifosato é amplamente empregado pelo agronegócio, principalmente nos plantios de soja e milho transgênicos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirma que a substância não causa câncer, mutações, e não é tóxica para reprodução ou provoca malformação no feto.
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