Rio de Janeiro, 21 de Novembro de 2024

Bar e samba também podem ensinar

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Quinta, 25 de Julho de 2024 às 09:19, por: CdB

Um relato emocionante sobre o samba raiz no Lucas Bar, onde resistência cultural e solidariedade se encontram no Bixiga, promovendo educação e transformação social.

Por Rosana Alves Professora – de São Paulo

Sou uma emocionada por natureza. Não é arrogância, fui formada para isso e tive um dirigente partidário que me dizia que eu devia ter opinião sobre tudo. Até hoje não sei se ele estava certo, mas costumo ter opinião sobre tudo, sou uma curiosa e atrevida.

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Lucas Bar, um autêntico boteco, desses que nos deixam muito à vontade

Historiadora e pedagoga de formação, mas também uma apaixonada pela vida, aprendi muito cedo o que é luta de classes e isso tem um impacto imenso, de tender a nos tornar incrédulos, pois consegui transformar a indignação em entrega a vida, em confiança na humanidade e me emocionar com tudo que significa resistência, verdade e possibilidade de transformação.

Militante da educação que sou, acredito que devemos socializar todo conhecimento e cultura produzida pela humanidade, como bem imaterial, imensurável, expressão dos anseios, percepção e compreensão da coletividade.

Há uns tive a oportunidade de experenciar uma atividade única. Há mais ou menos um ano voltei ao samba, essa manifestação cultural que expressa a nossa origem, que surge do povo, que representa resistência, mas que assim como vários elementos da cultura do povo brasileiro, vem há tempos sendo sequestrada pela elite burguesa pós-moderna.

Infelizmente, quando procuramos ouvir e participar de uma roda de samba raiz encontramos dificuldades, considerando que as periferias são bombardeadas pela indústria do entretenimento e as rodas genuínas que nascem nas periferias enfrentam uma disputa desleal com o mercado da música, e, por vezes, percorrem o circuito cultural da classe média intelectualizada da cidade, que por também ter maior acesso à educação e ao conhecimento, percebem o grande valor cultural que o nosso samba tem.

Transformar o mundo

Fui ao Bixiga, na rua Conselheiro Carrão  402, Lucas Bar, um autêntico boteco, desses que nos deixam muito à vontade, com um espaço físico pequeno, mas que nem prestamos atenção no tamanho. O dono, Lucas, nos atende pessoalmente, mas nem parece ser o dono. Se deixar, ele passa a noite com os clientes conversando sobre o Samba e contando a sua trajetória de migrante, que chegou em São Paulo cheio de sonhos, mas não se rendeu somente à vontade de ganhar dinheiro e montou um bar para divulgar e coletivizar o samba raiz. Não se importando só com o lucro, ele abriu espaço no bar de altíssima qualidade e cerveja extremamente gelada para a moçada jovem que coletiviza um samba raiz.

Assisti e ouvi o Samba Sem Patente. A molecada tem em média 30 anos de idade, mas, com certeza, um repertório de muitos mais anos. O Samba Sem Patente coletivizou um repertório de altíssima qualidade, teve Elton Medeiros, Jovelina, João Nogueira, Roberto Ribeiro, entre tantos outros, que nem consegui anotar, porque me emocionei a cada canção.

Foi a junção de tudo que defendendo e acredito, cultura e conhecimento, produzido por pessoas reais, que compartilham com generosidade o que aprenderam e o que estão construindo, fazendo-nos, assim, renovar as energias para transformar o mundo.

Para quem estiver disposto a experimentar o que é samba, bar e solidariedade, é só chegar toda quinta-feira no Lucas Bar, no famoso Bixiga, com a roda Samba Sem Patente, porque a educação extrapola os muros da escola.

 

Rosana Alves Professora,  é historiadora e pedagoga. Atualmente coordenadora pedagógica na rede Municipal de Ensino de São Paulo. Mestranda no Programa Filosofia e História da Educação – Faculdade de Educação Unicamp. Membro da direção Municipal PCdoB Capital -SP.

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

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