Operação Floresta Devastada investiga grupo suspeito de ocultar quase meio bilhão de reais em fraudes com uso de offshores e blindagem patrimonial.
Por Redação, com Agenda do Poder – de São Paulo
Uma operação de grande porte deflagrada pela Polícia Civil de São Paulo nesta semana teve como alvos principais os irmãos Nelson, Noberto e Jaime Nogueira Pinheiro, sócios da empresa MRCP Participações S/A. A ação faz parte da operação batizada de Floresta Devastada, que investiga o desvio de grandes somas de dinheiro de clientes por meio de esquemas financeiros sofisticados.

Ao todo, 11 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em nove endereços relacionados aos investigados. Mais de 50 agentes participaram da ação, que teve autorização da 2ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens. Foram apreendidos obras de arte, joias, documentos, dinheiro em espécie, celulares e computadores. A reportagem do G1 informou que, até o momento, não conseguiu contato com a defesa dos investigados.
Além dos irmãos Pinheiro, outros executivos e empresas ligadas ao grupo também foram alvo de mandados. Entre elas, o FPB Bank Inc., com sede no Panamá, que sofreu intervenção das autoridades panamenhas; a Brickell Participações S/A, liquidada pelo Banco Central do Brasil; e a Ducoco Produtos Alimentícios S/A, vendida posteriormente para a Malibu Holding S/A, uma operação que atualmente é questionada na Justiça.
A Justiça paulista determinou ainda o sequestro de bens no valor de até R$ 469 milhões, envolvendo 16 pessoas físicas e 19 pessoas jurídicas. As investigações apontam para a prática de estelionato, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa. Segundo a Polícia Civil, parte dos investimentos dos clientes foi transferida sem autorização para uma offshore em Belize. Esses recursos, de origem lícita segundo os próprios empresários, nunca foram devolvidos aos investidores.
As fraudes teriam se intensificado a partir de 2023, quando uma decisão judicial determinou a apuração de um possível esquema no pedido de recuperação extrajudicial da Brickell Participações S/A. O Ministério Público de São Paulo acredita que houve desvio e ocultação de ativos com o objetivo de lesar credores, além da utilização de manobras societárias para proteger o patrimônio dos sócios.
Judiciário paulista
O advogado Guilherme San Juan, representante de um dos investidores lesados, revelou que seu cliente teve um prejuízo de R$ 50 milhões. Segundo ele, “cuida-se de um caso emblemático em que houve o desvio de centenas de milhões de investidores. Após os desvios, o grupo tentou ludibriar o Judiciário paulista através de um fraudulento pedido de recuperação judicial, que tinha o claro propósito de blindar o patrimônio dos investigados”.
De acordo com a Polícia Civil, algumas vítimas são empresários que haviam aderido ao programa de repatriação de recursos, lançado em 2016 pelo governo federal. O programa permitia a declaração de bens mantidos no exterior de forma legal, com tributação reduzida. Duas dessas vítimas informaram que os prejuízos ultrapassam R$ 130 milhões.
A operação segue em andamento, e a Polícia trabalha na análise do material apreendido para aprofundar a identificação da rede financeira montada pelos investigados. A complexidade do esquema, que envolve o uso de empresas de fachada, paraísos fiscais e movimentações internacionais, faz com que a apuração ainda deva se estender por meses.