Militares israelenses dão ultimato para que 1 milhão de palestinos deixem suas casas em direção ao sul, em meio a preparativos para ofensiva terrestre. ONU alerta para "consequências humanitárias devastadoras".
Por Redação, com DW - de Jerusalém
Israel ordenou nesta sexta-feira a retirada de 1 milhão de civis do norte de Gaza em 24 horas, em meio a preparativos para uma ofensiva terrestre destinada a reprimir o grupo fundamentalista islâmico Hamas, em retaliação aos ataques contra a população israelense no fim de semana.
O porta-voz das Forças de Defesa de Israel, Jonathan Conricus, disse que os militares enviaram aos residentes da Cidade de Gaza uma mensagem pedindo que eles se retirem "de suas casas em direção ao sul para sua própria segurança e proteção".
– A organização terrorista Hamas travou uma guerra contra o Estado de Israel, e a Cidade de Gaza é uma área onde se executam operações militares – declarou Conricus na manhã desta sexta.
– Essa evacuação é para sua própria segurança. Você poderá retornar à Cidade de Gaza apenas quando outro anúncio de permissão for feito – acrescentou, explicando que os habitantes da região foram alertados a não se aproximar da cerca de segurança com Israel, mas seguirem rumo ao sul da Faixa de Gaza.
O porta-voz afirmou ainda que a orientação das forças israelenses é "um passo humanitário a fim de minimizar as baixas civis, à medida que esta guerra se desenrola".
"Propaganda falsa", segundo Hamas
Observadores acreditam que seja iminente uma ofensiva terrestre por parte de Israel, que já executa intensos ataques aéreos contra Gaza em resposta ao atentado em grande escala do Hamas no sábado passado, 7 de outubro.
Na quinta-feira, o porta-voz do Exército israelense, Richard Hecht, informou que os militares aguardavam apenas uma decisão da liderança política. "Estamos nos preparando para uma manobra terrestre se isso for decidido", declarou.
O Hamas, que é classificado como uma organização terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE) e governa Gaza desde 2007, tachou de "propaganda falsa" a ordem de evacuação de Israel.
Fontes de segurança em Gaza disseram à agência de notícias DPA que residentes da região estavam sendo impedidos de deixar o norte em direção ao sul.
Os militares israelenses, por sua vez, afirmam que os combatentes do Hamas estão escondidos em túneis sob casas e edifícios onde vivem civis inocentes em Gaza, e acusam o grupo fundamentalista de usar civis como escudos humanos.
ONU pede que ordem seja revogada
Ao todo, mais de 2 milhões de pessoas vivem em condições precárias em Gaza, uma estreita faixa que se estende por cerca de 40 quilômetros ao longo do Mar Mediterrâneo e faz fronteira com Israel ao norte e a leste, e com o Egito ao sul.
A ONU confirmou ter sido informada pelas forças israelenses de que toda a população ao norte de Wadi Gaza deveria se mover para o sul nas próximas 24 horas. "Isso equivale a aproximadamente 1,1 milhão de pessoas", disse o porta-voz das Nações Unidas, Stephane Dujarric, ao site de notícias americano Axios. Ou seja, mais da metade da população de Gaza.
Segundo Dujarric, a mesma ordem de retirada "foi aplicada a todos os funcionários da ONU e às pessoas abrigadas em instalações da ONU, incluindo escolas, centros de saúde e clínicas".
– As Nações Unidas consideram impossível que tal movimento ocorra sem consequências humanitárias devastadoras – acrescentou o porta-voz, pedindo que "qualquer ordem desse tipo, se confirmada, seja revogada".
O alerta ocorre num momento em que a crise humanitária se escala em Gaza, em meio à escassez de suprimentos vitais devido a um "cerco total" imposto por Israel à região após os ataques do Hamas. A medida interrompeu o fornecimento de comida, água, combustível e energia para o enclave. Intensos ataques aéreos também miram infraestrutura crítica para a sobrevivência dos residentes.
Dois terços da eletricidade consumida em Gaza dependiam de fornecimento israelense. Com o corte, o enclave passou a depender exclusivamente de uma termelétrica local, que também ficou sem combustível na quarta-feira, segundo autoridades palestinas. Há temor de que o corte total de energia afete duramente os hospitais locais, já superlotados de feridos nos ataques aéreos.
Falando à rede Al Jazeera, o repórter Nedal Samir Hamdouna, baseado em Gaza, disse que as condições no enclave sitiado "se assemelham a um inferno". "Não tenho palavras para descrever como é terrível a situação aqui", disse.
Apoio do Ocidente a Israel
No último sábado, o braço armado do Hamas realizou um massacre devastador contra Israel, matando mais de 1,3 mil pessoas e ferindo mais de 3,3 mil em cidades fronteiriças israelenses e em um festival de música.
Israel respondeu com pesados bombardeios sobre Gaza, prometendo "esmagar" o Hamas. Mais de 1,5 mil palestinos já morreram e mais de 6,6 mil ficaram feridos, segundo autoridades locais.
O governo israelense tem apoio do Ocidente em sua ofensiva. "Nós sempre estaremos do lado de vocês", declarou o secretário de Estado americano, Antony Blinken, em visita a Israel na quinta-feira. A viagem, juntamente com remessas de armamento dos Estados Unidos, serviu como uma poderosa luz verde para que Israel prossiga com sua retaliação.
A Otan também tem enfatizado o direito de Israel de se defender após os ataques do Hamas. Em entrevista à agência alemã Deutsche Welle (DW), o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg, afirmou, porém, que é importante que os israelenses "façam todo o possível para evitar a perda de vidas de civis inocentes".