Rio de Janeiro, 21 de Novembro de 2024

Ataques de hackers desafiam baixa presença do Estado na infraestrutura dos EUA

Arquivado em:
Sexta, 21 de Maio de 2021 às 10:18, por: CdB

Enquanto o presidente dos EUA, Joe Biden, negocia a aprovação de pacote trilionário de infraestrutura, rede de gasoduto privatizada norte-americana sofre ataques de hackers. O Estado norte-americano deveria investir e controlar setores-chave de sua infraestrutura?

Por Redação, com Sputnik - de Washington
Enquanto o presidente dos EUA, Joe Biden, negocia a aprovação de pacote trilionário de infraestrutura, rede de gasoduto privatizada norte-americana sofre ataques de hackers. O Estado norte-americano deveria investir e controlar setores-chave de sua infraestrutura?
hacker.jpg
Atentados de hackers desafiam baixa presença do Estado na infraestrutura dos EUA, diz especialista
Nesta semana, o presidente dos EUA, o democrata Joe Biden, realizou negociações com representantes do Partido Republicano para viabilizar a aprovação de pacote trilionário de investimentos em infraestrutura. A proposta inicial apresentada pelos democratas em 31 de março prevê investimentos de cerca de US$ 2 a 3 trilhões (entre R$10 e 15 trilhões) em um período de oito anos. Mas os republicanos expressaram descontentamento, afirmando que o pacote democrata trabalha com uma definição ampla de infraestrutura, que inclui investimentos em outros setores, como saúde e habitação. A contraproposta republicana sinaliza para um pacote de US$ 568 bilhões (cerca de R$ 3 trilhões), a serem investidos em um período de cinco anos. Apesar dos diferentes métodos, parece haver certo consenso bipartidário sobre a necessidade de investimento público no setor.

Plano de investimento massivo

Os primeiros debates recentes sobre a realização de plano de investimento massivo no setor inclusive foram feitos durante a administração do antecessor e rival de Biden, Donald Trump. – Vejo diversos traços de continuidade da política de Biden em relação à Trump – disse o professor do Instituto de Economia da UNICAMP, Bruno De Conti, à Sputnik Brasil "A forma é distinta, o discurso é diferente, mas a essência é praticamente a mesma." Segundo ele, agendas como a tentativa de reindustrialização dos EUA e a exigência de conteúdo nacional em projetos públicos já vinham sendo defendidas por Trump. – Deve haver um consenso bipartidário maior (sobre a necessidade de investir em infraestrutura) mas a maneira de se fazer isso não é unanimidade – disse o economista. "A disputa lá hoje é em torno dos gastos públicos, se eles serão inflacionados ou não, se isso significará um rompimento com o mantra da responsabilidade fiscal." Além disso, as disputas políticas interferem na aprovação do pacote, já que os republicanos "não querem dar os louros para o Biden", acredita De Conti. – A maioria democrata do Biden é frágil, então os republicanos sentem que tem o poder de interferir – notou o economista. Apesar da rivalidade, tanto democratas, quanto republicanos, associam planos nacionais de infraestrutura à disputa com a China. – O plano de infraestrutura em particular é uma reação à ascensão chinesa. A China tem o projeto da Nova Rota da Seda, estimado em US$ 1 trilhão (cerca de R$ 5 trilhões), e os EUA então respondem com um plano que custará o dobro – considerou. "É como se a China tivesse trucado, e os EUA pedido seis." Apesar dos EUA ainda estarem na frente da China em muitos setores-chave, como o de semicondutores, a falta de investimentos públicos deixou a infraestrutura norte-americana muito aquém de seu rival asiático, acredita o economista. – De acordo com o ranking do World Economic Forum sobre a infraestrutura nos principais países, os EUA se encontram na décima terceira posição, o que é lamentável, se considerarmos que é o país mais rico do mundo – relatou De Conti. Segundo ele, a precariedade da infraestrutura tem reflexos na competitividade norte-americana: "defender o mercado doméstico, ampliar as exportações, atrair a indústria de volta para os EUA, tudo isso passa por uma melhoria da infraestrutura".

Setores sensíveis

Enquanto políticos debatiam o pacote, os EUA sofreram um dos maiores ataques cibernéticos contra seu setor de infraestrutura em sua história. No início de maio, a maior rede de gasodutos do país, foi alvo de ataque pelo grupo DarkSide, que roubou mais de 100 GB de informações da empresa e suspendeu suas operações. O gasoduto transporta cerca de 2,5 milhões de barris de óleo e combustíveis por dia, o equivalente a aproximadamente 45% do consumo de gasolina, diesel e querosene de aviação da costa leste dos EUA. O incidente fez com que especialistas questionassem o nível de investimento em segurança cibernética feito pela empresa privada que opera a rede, chamada Colonial Pipeline. Em fevereiro deste ano, a empresa responsável pela geração e transmissão de eletricidade do estado do Texas também apresentou falha grave em suas operações, em um momento em que a população mais carecia dela. Durante onda de frio inédita no Estado, milhões de pessoas ficaram sujeitas a racionamento de energia elétrica e sem aquecimento por semanas. Esses incidentes colocam em cheque o modelo norte-americano, que não prioriza o controle estatal de setores-chave da infraestrutura nacional. "Eu diria que o melhor seria que esses setores estratégicos fossem públicos", disse De Conti. "Só pelo fato de os serviços públicos serem operados por empresas com capital aberto, isso já faz com que a sua administração mude completamente." Segundo o professor, "ao invés de reinvestir os lucros no serviço que ela presta, a empresa prioriza a distribuição de dividendos para os acionistas". – O objetivo no fim das contas é menos o objeto em si no qual a empresa atua, e mais a valorização das ações – acredita. "Por isso o setor público deveria estar mais presente em setores estratégicos, como é na China e como já foi no Brasil e outros lugares do mundo." Apesar do diagnóstico, o economista não acredita que Biden "terá a força política para reverter a tendência em favor do estabelecimento de parcerias público-privadas" em setores-chave da indústria. Nesse contexto, o plano de infraestrutura de Biden pode se converter em um grande repasse de recursos públicos para empresas privadas do setor. – Entre o que foi proposto por Biden e o que vai de fato ser aprovado no Congresso já tem mudanças. Entre aquilo que passa no Congresso e o que é implementado, teremos uma mudança maior ainda – alertou De Conti. Em 31 de março, a administração Biden apresentou projeto de investimento em infraestrutura que prevê investimentos de cerca de US$ 2 a 3 trilhões (entre R$ 10 e 15 trilhões). Parlamentares republicanos negociam a alteração em termos do projeto, principalmente no que se refere ao escopo e cronograma de investimentos.
Edições digital e impressa
 
 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo