Diante dos fatos, o governo brasileiro passou a considerar a convocação do embaixador de Israel em Brasília, Daniel Zonshine, para prestar esclarecimentos. Para o governo brasileiro, segundo apurou o CdB, o regime sionista israelense eleva a tensão diplomática numa manobra diversionista.
Por Redação - de Brasília
Ao considerar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) uma ‘persona non grata’ em Israel, “o governo do ultradireitista Benjamin Netanyahu rompeu, na prática, as relações diplomáticas com o Brasil”, afirmou na tarde desta segunda-feira um destacado diplomata do Itamaraty à reportagem do Correio do Brasil.
— Em nenhum momento, no trato do Brasil com o Estado de Israel, houve uma atitude semelhante. É algo desproporcional, mesmo diante da gravidade imposta pela declaração do presidente Lula contra o regime de Netanyahu, que também humilhou toda a nação brasileira ao impor uma admoestação pública ao embaixador em Tel Aviv, Frederico Meyer — afirmou o oficial, com a condição de não ter o nome citado na reportagem.
Diante dos fatos, o governo brasileiro passou a considerar a convocação do embaixador de Israel em Brasília, Daniel Zonshine, para prestar esclarecimentos. Para o governo brasileiro, segundo apurou o CdB, o regime sionista israelense eleva a tensão diplomática numa manobra diversionista para tirar o foco do genocídio em marcha na Faixa de Gaza.
Bolsonaro
O embaixador Frederico Meyer foi chamado ainda no domingo, às pressas, para uma reunião com o governo de Israel no Museu do Holocausto, em Jerusalém. A escolha do local e o conteúdo dos pronunciamentos foi alvo de pesadas críticas, nesta manhã, por parte de diplomatas brasileiros, que a consideraram o ato “um circo”. Meyer foi chamado a Brasília, para esclarecimentos, em uma escalada na tensão entre os dois países.
A tendência, nas próximas horas, é do governo brasileiro adotar medidas semelhantes e convocar o embaixador israelense em Brasília, Daniel Zohar Zonshine, para prestar explicações sobre a atitude de seus superiores. Nesta manhã, Lula convocou ministros e assessores para uma reunião de emergência no Palácio da Alvorada mas, até o meio da tarde, ainda não havia feito qualquer pronunciamento oficial.
Como um ponto de inflexão ainda, no possível rompimento de relações entre os dois Estados, Em novembro do ano passado, Zonhshine reuniu-se com ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em solenidade na Câmara, acompanhado de outros parlamentares bolsonaristas da extrema direita.
Terrorista
Em outro momento, que indica o afastamento diplomático entre Brasil e Israel, a primeira-dama, Janja Lula da Silva, atuou em uma rede social, nesta segunda-feira, na defesa presidente a respeito da guerra em curso, em território palestino.
Em mensagem na rede social X (ex-Twitter), Janja disse ter "orgulho" do marido – "que, desde o início desse conflito na Faixa de Gaza, tem defendido a paz e principalmente o direito à vida de mulheres e crianças, que são maioria das vítimas. A fala se referiu ao governo genocida e não ao povo judeu. Sejamos honestos nas análises", escreveu Janja.
Na mesma linha, o ex-chanceler e assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, classificou como “absurda” a decisão de Israel que considerou o presidente Lula como ‘persona non grata’ devido a fala em que ele comparou a escalada dos ataques israelenses contra os palestinos em Gaza ao Holocausto nazista.
— Isso é coisa absurda. Só aumenta o isolamento de Israel. Lula é procurado no mundo inteiro e no momento quem é (persona) non grata é Israel — disse Amorim à mídia conservadora.
Já a Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) afirmou que ser considerado ‘persona non grata’ por Israel é "uma honra para a biografia de Lula". Em Israel, rabinos ortodoxos também manifestaram apoio ao presidente brasileiro e disseram que Netanyahu é ainda “pior do que os nazistas”.
Discurso
Durante uma coletiva de imprensa na viagem à África, neste domingo, Lula comparou a ação de Israel em Gaza ao massacre de Hitler contra judeus.
— Quando eu vejo o mundo rico anunciar que está parando de dar contribuição humanitária aos palestinos, eu fico imagino qual é o nível de consciência humanitária dessa gente, de solidariedade, que não vê que na Faixa de Gaza não ocorre uma guerra, mas sim um genocídio — afirmou o estadista brasileiro.
Segundo Lula, “o que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico”.
— Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus. O Brasil condenou o Hamas, mas não pode deixar de condenar o que o exército de Israel está fazendo — concluiu Lula.