Barbosa relatou também, ao ao Ministério Público Federal, em dezembro, ter sido coagida por dois assessores do atual ministro a devolver R$ 50 mil dos R$ 60 mil de verba pública de campanha que havia recebido do PSL.
Por Redação - de Brasília
Após denunciar o esquema criminoso de uso do dinheiro público na campanha eleitoral do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, a professora aposentada Cleuzenir Barbosa, que concorreu a uma vaga como deputada estadual pelo PSL-MG, fugiu do país e teme por sua vida. Ela disse à colunista do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, Mônica Bergamo, ter sido ameaçada por dois assessores do ministro. Barbosa pediu asilo político para o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) de Portugal.
— Não viria pra cá (Portugal) assim rapidamente se não fosse para poupar a nossa vida — disse. Ela afirmou, ainda, ter sido aposentada por invalidez por ter artrite reumatoide e depressão profunda. Segundo acrescentou, o irmão teria trabalhado em sua campanha e, por isso, recebeu pagamentos.
Barbosa relatou também, ao ao Ministério Público Federal, em dezembro, ter sido coagida por dois assessores do atual ministro a devolver R$ 50 mil dos R$ 60 mil de verba pública de campanha que havia recebido do PSL.
Candidaturas
O ministro diz, via assessoria, que jamais fez ou autorizou alguém a fazer pressão contra candidatos.
“Até o momento, todos os fatos encontrados desabonam a conduta e colocam em xeque a credibilidade da própria candidata, que repassou dinheiro público para familiares e é aposentada por invalidez com base num laudo psiquiátrico que aponta ‘patologia total e permanente’”, diz o ministro, em nota.
De acordo com o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, a denúncia sobre o patrocínio de candidatura forjadas em Minas Gerais por parte do atual ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL), será apurada "se surgir a necessidade”.
— Particularmente não sei se esta matéria é totalmente consistente. Se surgir a necessidade de apuração, será apurado. Não cabe ao ministro da Justiça fazer esse papel de defesa de situações apontadas em relação a membros do governo. Cabe ao ministro da Justiça assegurar que, havendo informações consistentes, que isso seja devidamente apurado pelos órgãos de investigação competentes — afirmou.
Julgamento
Não é a primeira vez, no entanto, que o ministro do Turismo responde a processos na Justiça, geralmente, por motivação financeira. Ao todo, são cerca de 20 processos no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, dos quais um é por crime contra a economia popular.
Marcelo Álvaro Antônio foi acusado de vender lotes que não lhe pertenciam e que também não estavam aprovados pela prefeitura. Várias pessoas reclamaram e uma delas, Joaquim Maurílio Souza, registrou queixa na Delegacia de Polícia, além de entrar com um processo na justiça civil.
O advogado de Joaquim na esfera cível, procurado pelo site de notícias Diário do Centro do Mundo (DCM), disse que Marcelo Antônio e um sócio fizeram acordo e devolveram o dinheiro à vítima. Mas o processo criminal prosseguiu e agora, após 16 anos, a audiência de instrução e julgamento foi marcada para esta terça-feira.
Declaração falsa
O julgamento, todavia, foi marcado antes que o deputado federal Marcelo Álvaro Antônio fosse anunciado ministro de Jair Bolsonaro. Caso condenado, o réu, que se chama, na realidade, Marcelo Henrique Teixeira Dias, poderá ser condenado a até 5 anos de reclusão.
Na esfera cível, Antônio responde a cerca de 20 processos. Em um deles, é acusado de não pagar dívida da campanha de 2012, quando se elegeu vereador. O político mineiro também é dono de uma empresa que deve R$ 59,9 mil ao INSS.
Sobre isso, apresentou uma declaração falsa ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e também responde por isso, judicialmente. O Banco do Brasil, por sua vez, cobra dívidas da empresa dele na Justiça. Antônio e familiares constam como réus em duas ações de usucapião.
Agitado
Marcelo Álvaro Antônio mudou o nome para se candidatar em 2012, incluindo o Álvaro Antônio para lembrar ao eleitor de quem era filho. Seu pai, Álvaro Antônio Teixeira Dias, foi vereador, deputado estadual, deputado federal e vice-prefeito de Belo Horizonte. Tinha prestígio e voto, muito popular na região do Barreiro, populoso bairro da capital mineira.
Foi secretário de Tancredo Neves, quando governador, e de Newton Cardoso. Faleceu em 2003, mas o filho só foi se candidatar pela primeira vez em 2012. No bairro, é conhecido por ter sido um jovem agitado. Álvaro Antônio ganhou notoriedade nacional em 2016, quando votou a favor da abertura de processo de impeachment contra Dilma Rousseff.
Dedicou o voto à mulher, a duas filhas, à mãe, ao bairro do Barreiro. Esqueceu de mencionar o filho. Na mesma sessão, voltou ao microfone para corrigir o lapso, e dizer que, se não fizesse isso, teria problemas em casa.
Em 2017, foi anunciado por Jair Bolsonaro como coordenador de sua pré-campanha em Belo Horizonte. Na época, filiado ao PR, foi acusado de golpe contra o PEN, rebatizado Patriotas, partido pelo qual Bolsonaro disputaria a eleição — acabou saindo pelo PSL.