Alianças, disputas e reconstrução de base: a corrida eleitoral já começou nos bastidores e nas ruas, com a esquerda buscando força além da institucionalidade.
Por Luciano Siqueira – de Brasília
Naturais porque sempre foi assim. Menos de dois anos antes das próximas eleições, todas as forças políticas fazem conjecturas a propósito da disputa pelo governo do Estado, incluindo hipotéticas alianças.

Isto conectado com pleito nacional, em certa medida, pois as regras eleitorais permitem que partidos convirjam na eleição presidencial e disputem entre si em plano estadual, onde estarão em jogo os governos locais e a composição das assembleias legislativas.
O anódino e multifacetado PSD, por exemplo, tanto se encontra na aliança que governa com Lula como em composições estaduais e municipais as mais diversas, inclusive com bolsonaristas. Seus componentes podem tudo, a critério de cada um e conforme interesses imediatos.
Em Pernambuco, por exemplo, a governadora Raquel Lyra desembarcou do hoje esquálido PSDB e levou consigo para o PSD mais de 30 prefeitos e lideranças locais. De quebra, permite que se especule acerca da possibilidade de Lula, se candidato à reeleição, frequentar dois palanques em Pernambuco: o dela e o do provável candidato João Campos, do PSB, atual prefeito do Recife, à testa de ampla aliança que reunirá a esquerda e até grupos de centro-direita.
Isto num cenário que aponta para uma possível candidatura de extrema direita correndo por fora. Porém ainda é um cenário furta cor. Há muita água a correr por baixo da ponte.
Às forças situadas à esquerda, PCdoB e PT, integrantes da Federação Brasil da Esperança, junto com o PV, ora em aliança com prefeito do Recife, cabe intensificar sua ação “por cima”, nas articulações da chamada grande política e casas parlamentares, e “pela base”, visando adquirir maior robustez nos movimentos sociais e na cena política.
“Pela base”
A expressão “pela base” tem hoje dimensão tão necessária quanto sob certos aspectos dramática. Especialmente porque é impossível vencer a “guerra cultural” travada nas redes sociais e congêneres, onde a extrema direita leva vantagem sob os auspícios de mecanismos controlados pelas big techs, prescindindo da abordagem direta das pessoas.
A expressão “nas redes e nas ruas”, frequentemente arguida pelo movimento estudantil, traz em si uma lacuna: é preciso acrescentar, além de “nas redes”, “os salões” e “os ambientes de convivência” (no trabalho, na escola, no bairro, na igreja, no lazer), onde a troca de sentimentos e ideias pode e deve propiciar, adiante, amplitude e robustez nas manifestações de rua, para além da camisa de força da chamada “atuação institucional”.
O subproduto desse esforço multifacetado, do ponto de vista das forças situadas à esquerda, pode ser a recuperação de sua base social e uma influência marcante nos pleitos majoritários estaduais e federal, incluindo a conquista de bancadas mais amplas na Câmara dos Deputados e no Senado e nas Assembleias Legislativas.
Luciano Siqueira, é médico, membro do Comitê Central do PCdoB e secretário nacional de Relações Institucionais, Gestão e Políticas Públicas do partido, foi deputado estadual em Pernambuco e vice-prefeito do Recife.
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