"Somente uma Europa unida é uma Europa forte", diz a líder alemã ao receber o prêmio Carlos 5º. Rei espanhol destaca pragmatismo e confiabilidade da chanceler federal, descrevendo-a como uma "mulher extraordinária".
"Somente uma Europa unida é uma Europa forte", diz a líder alemã ao receber o prêmio Carlos 5º. Rei espanhol destaca pragmatismo e confiabilidade da chanceler federal, descrevendo-a como uma "mulher extraordinária".
Por Redação, com DW - de Madri/Berlim
Prestes a deixar o cargo após 16 anos, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, recebeu na quinta-feira, na Espanha, o Prêmio Europeu Carlos 5º, que reconhece pessoas, organizações ou iniciativas que tenham contribuído para fortalecer os valores da União Europeia (UE), assim como o processo de integração do bloco.
Rei Felipe 6º entrega a Merkel prêmio que reconhece contribuições para fortalecer os valores da UE
O prêmio, concedido anualmente desde 1995 pela Fundação Academia Europeia e Iberoamericana de Yuste, foi entregue pelo rei espanhol, Felipe 6º, que descreveu Merkel como uma "mulher excepcional" e "uma figura política que simboliza e personifica a história europeia dos últimos anos".
O rei elogiou a líder alemã por ter propiciado "consensos e soluções equilibradas e construtivas" no âmbito da UE. "Seu pragmatismo e confiabilidade têm sido símbolo de solidez na Europa e no mundo. Poucas pessoas podem representar melhor o espírito de unidade da Europa”, afirmou.
O monarca enalteceu Merkel por sua liderança no cenário internacional, pelo legado que deixa, assim como por sua perseverança em todas as crises que enfrentou.
– Esses últimos 16 anos de liderança tão pessoal, tão especial, entrarão para a história com letra maiúscula da UE e da ordem internacional – disse Felipe 6º.
"Somente uma Europa unida é uma Europa forte"
Em seu discurso de agradecimento, Merkel pediu que os países europeus superem suas diferenças. "Somente uma Europa unida é uma Europa forte", disse. "Este é o lema da coexistência da UE."
Em relação a "forças centrífugas" que ameaçam a coesão do bloco, Merkel alertou: "Quando a curto e médio prazo interesses nacionais se sobrepõem ao projeto comum europeu ou à base jurídica, acabaremos tendo problemas."
Merkel ressaltou que viu como uma "obrigação duradoura tanto proteger a paz dentro da Europa e nossa ordem liberal, como também defender a paz e os direitos humanos em nossos vizinhos e no mundo".
Especialmente no contexto de crises, a UE precisa estar em condições de tomar e implementar decisões comuns mais rapidamente do que ocorreu no passado, afirmou a chanceler federal, que permanece no cargo até que um novo governo seja formado após as eleições gerais do mês passado.
Merkel também falou sobre o combate às mudanças climáticas, prevendo que implementar o chamado Acordo Verde, fechado em dezembro passado, exigirá um "trabalho muito duro". O pacto estabelece um plano para reduzir as emissões em 55% ao longo desta década e atingir a neutralidade de carbono no bloco até 2050.
– Eu não estarei mais presente, mas vou observar de perto quão longe vai a capacidade de se engajar – afirmou diante da plateia no Monastério de Yuste, em Cáceres, que contou também com a presença do chefe de governo espanhol, Pedro Sánchez.
– As pessoas falam com frequência demais sobre os custos da proteção ambiental e muito pouco sobre os custos de falhar na proteção climática – disse, fazendo referência às enchentes catastróficas que atingiram a Alemanha em julho.
Ela pediu que sejam colocadas em foco "novas oportunidades de mercado, novas tecnologias e novas oportunidades de trabalho" decorrentes da transição energética.
Terceira mulher premiada
Esta foi a segunda vez que o Prêmio Carlos 5º foi entregue a um chanceler federal alemão, depois de Helmut Kohl, homenageado em 2006.
Merkel é a terceira mulher a receber a honraria, após a primeira presidente do Parlamento Europeu, Simone Veil, em 2008, e a idealizadora do programa Erasmus de intercâmbio entre universidade europeias, Sofia Corradi, em 2016.
Figuram também na lista de agraciados com o prêmio o ex-líder da União Soviética Mikhail Gorbatchov e Jacques Delors, presidente da Comissão Europeia entre 1985 e 1995 e que foi o primeiro a receber a homenagem.
O prêmio costuma ser entregue em 9 de maio, o Dia da Europa, mas neste ano a cerimônia foi postergada devido à pandemia de covid-19.