Quinta, 18 de Fevereiro de 2021 às 07:34, por: CdB
Indicadores da pandemia de covid-19 estão em queda no país desde o início do ano, o que mostra que o lockdown teve efeitos. Agora todos se perguntam: como e quando a vida vai voltar ao normal?
Por Redação, com DW - de Berlim
Assim tem sido o segundo lockdown do coronavírus na Alemanha: escolas e a maior parte das lojas fechadas desde meados de dezembro; museus, restaurantes e academias de musculação, desde o início de novembro. O que parece não ser tão evidente para todos os alemães, porém, é que o confinamento funciona, ao contrário do observado, por exemplo, na França ou na República Tcheca, onde o número de infecções estagnou ou continua a aumentar apesar do bloqueio.
Desde o início de 2021, o número de novas infecções vem caindo constantemente na Alemanha, a segunda onda está virando marolinha, ao menos por enquanto. O chamado número de reprodução R está abaixo do valor crítico "1" há semanas, ou seja, cada infectado transmite o vírus para, em média, menos de uma pessoa. O número de pacientes com covid-19 em hospitais também está caindo, embora num ritmo mais lento do que o número de casos.
Mesmo assim, o lockdown foi estendido até 7 de março, pois o governo da Alemanha prioriza a cautela na luta contra a pandemia e teme uma terceira onda impulsionada pelas novas variantes do coronavírus. Mas, diante das boas notícias, uma pergunta começa a dominar o debate público: como vamos sair deste lockdown? E quando?
Primeiras medidas de relaxamento já definidas
Os cabeleireiros poderão voltar a trabalhar a partir de 1º de março. Escolas e creches também têm permissão para reabrir, seja totalmente, seja em combinação com o ensino em casa. Isso já está decidido.
O resto é especulação. Mas a impaciência está crescendo, especialmente no comércio e serviços. Até porque alguns países vizinhos têm agido de forma diferente. Na Áustria, por exemplo, onde a taxa de infecção é até mais alta, museus e lojas já podem abrir.
Proteção à saúde é prioridade
Representantes do comércio, dos bares e restaurantes e da indústria hoteleira exigiram do ministro da Economia, Peter Altmaier, uma perspectiva clara de reabertura. Para eles, um plano para sair do bloqueio está mais do que atrasado.
O lockdown deve ser abandonado gradualmente devido aos riscos da pandemia para a saúde, justificou o governo alemão, que defende uma abordagem prudente. "Para não corrermos o risco de uma abertura fazer com que os números voltem a disparar e novas medidas sejam necessárias", argumentou um porta-voz.
Sobre quais seriam os passos para essa saída gradual do lockdown ainda há muita polêmica.
O 35 é o novo 50
A começar pela taxa de incidência, ou o número de infecções registradas nos últimos sete dias por 100 mil habitantes. Quando, afinal, a pandemia pode ser considerada sob controle? Por muito tempo, 50 foi considerado o limite para que autoridades de saúde voltassem a conseguir rastrear os contatos de infectados. Agora o número passou para 35, o que, claro, gerou polêmica.
– Não podemos ficar inventando novos valores-limite para impedir a vida de voltar a acontecer – disse Armin Laschet, governador da Renânia do Norte-Vestfália e, como novo presidente da CDU, também um possível candidato a chanceler federal. E foi, ele mesmo, criticado.
Ambas as taxas, 50 e 35, foram definidas como valores-limite na Lei de Proteção contra Infecções em novembro do ano passado. No entanto, as definições do que isso significa não são muito exatas. Medidas "abrangentes" (50) ou "amplas" (35), "contenção eficaz" (50) ou "mitigação rápida" (35). O que exatamente pode ser aberto, e quando, não está especificado na legislação.
Com um valor de 35, as lojas poderiam abrir, prometeu a chanceler Angela Merkel. Mas por quanto tempo esse valor terá de ser mantido para que continuem abertas? Segundo o porta-voz do governo, o valor deve permanecer "estável"; a chanceler falou de três a cinco dias.
Alguns Estados estão próximos de atingir esse valor. Se isso acontecer, e a incidência ficar "estável" abaixo de 35 por duas semanas, disse Merkel, novas aberturas poderão ser cogitadas: cultura, esporte, restaurantes e hotéis. Mas o valor deve se referir ao Estado inteiro? Ou poderiam também as cidades e os distritos, entre os quais vários já caíram abaixo do valor de 35, relaxar as medidas num futuro próximo?
Falta de consenso entre os Estados
As medidas de contenção do coronavírus são coordenadas entre a chanceler federal e os chefes de governo dos Estados federais. A próxima reunião está prevista para 3 de março. Quais são as chances de haver, então, um plano concreto para o que vem pela frente? A reunião passada, em 10 de fevereiro, deixou claro que os Estados estão divididos. Alguns querem um plano gradual concreto; outros são contra.
Laschet, da Renânia do Norte-Vestfália, aponta para o risco causado pelas mutações e diz que prefere agir com cautela. Alguns Estados, como Schleswig-Holstein, já definiram um plano próprio de saída, estipulando com detalhes quais aberturas são possíveis para cada estágio de infecção. Ou seja, o plano não se baseia mais em datas, como antes, mas em estágios.
O perigo das mutações
A história das pandemias ensina que a onda mais letal da gripe espanhola em 1918-19 foi causada por uma mutação do vírus. Mas quão perigosas são as mutações do novo coronavírus?
O Instituto Robert Koch (RKI), instituição do governo para a vigilância e prevenção de doenças, tem evitado se manifestar a respeito do assunto. Um questionamento feito pela agência alemã de notícias Deutsche Welle (DW) foi respondido com uma referência ao conteúdo digital disponível no site da entidade. Lá, consta que é possível "que as novas variantes dificultem o combate à pandemia na Alemanha".
Uma avaliação mais precisa da variante B.1.1.7, do Reino Unido, pode ser encontrada no relatório diário do RKI: há "indicações clínico-diagnósticas e epidemiológicas de aumento de infecciosidade e de desenvolvimento de quadros mais graves da doença".
Na quarta-feira, o ministro alemão da Saúde, Jens Spahn, alertou que a variante britânica já foi detectada em 22% das novas infecções na Alemanha, podendo em breve se tornar a dominante.
Por uma incidência zero
Nem 50, nem 35, alguns querem a taxa de incidência ainda mais baixa. A iniciativa ZeroCovid defende um lockdown rigoroso até que a incidência esteja próxima de zero. Já a prefeita de Colônia, Henriette Reker, defendem um valor limite de 10 para que haja qualquer relaxamento na região.
O 35 pode então em breve virar 10, como temem alguns e desejam outros? Um plano coordenado com etapas poderia fornecer mais clareza e novas perspectivas.