Rio de Janeiro, 23 de Novembro de 2024

Visita de Scholz à América Latina visa reacender velhas parcerias

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Sábado, 28 de Janeiro de 2023 às 11:46, por: CdB

Hinos de louvor de janeiro de 2023 pouco antes de sua viagem à Argentina, Chile e Brasil, que começa neste sábado? Poderia até ser, mas, na verdade, Scholz disse isso há exatamente dez anos, em abril de 2013 – não como chefe de governo, mas como prefeito de Hamburgo antes de embarcar para uma viagem de uma semana à América do Sul.

Por Redação, com DW - de Berlim
Chanceler federal, o chefe de Estado alemão Olaf Scholz inicia uma viagem estratégica ao Brasil, Argentina e Chile na próxima semana, mas a Alemanha precisa se reinventar para conseguir enfrentar com sucesso o avanço chinês na região. Ao ser questionado pela agência alemã de notícias Deutsche Welle (DW), neste sábado, sobre os objetivos de sua visita, o pragmatismo habitual do chanceler alemão foi deixado de lado e ele foi quase efusivo. — A América Latina possui um potencial inacreditável — afirmou, acrescentando que temas como expansão de energias renováveis, ecologia e sustentabilidade estão em pauta na região, assim como na Europa.
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O chanceler alemão, Olaf Scholz, embarca para uma viagem estratégica à América Latina
Hinos de louvor de janeiro de 2023 pouco antes de sua viagem à Argentina, Chile e Brasil, que começa neste sábado? Poderia até ser, mas, na verdade, Scholz disse isso há exatamente dez anos, em abril de 2013 – não como chefe de governo, mas como prefeito de Hamburgo antes de embarcar para uma viagem de uma semana à América do Sul.

Política

Assim, quase parece que o tempo parou na relação entre a Alemanha e a região. Há décadas, a América Latina tem sido exaltada como um parceiro em mesmo nível, com quem se divide a mesma cultura, os mesmos valores e os mesmos interesses. Uma ofensiva amplamente alardeada da Alemanha ou da União Europeia (UE) é encadeada na outra. Günter Maihold quase não aguenta mais ouvi-las. O vice-diretor do Instituto Alemão para Política Internacional e Segurança (SWP) já teme a eterna manchete da imprensa alemã que poderia acompanhar a viagem de Scholz: "A Alemanha redescobre a América Latina". Ou ainda pior: “(O naturalista alemão Alexander von) Humboldt seria ativado novamente como uma referência histórica, embora ele nunca tenha podido viajar ao Brasil", afirma Maihold. — A base comum desmoronou — continuou Maihold, numa análise que escreveu para a think-tank de Berlim sobre a relação entre a UE e a América Latina. A política de Berlim, assim como de Bruxelas, causou sérias rupturas nos últimos anos em toda a América Latina.

Moscou

O especialista pontua, ainda, que a recusa da União Europeia de enviar vacinas contra a covid-19 e, ao mesmo tempo, sua atitude contra o imunizante chinês não a tornaram exatamente popular. A política de sanções contra a Rússia também enfrentou rejeição na região. — O Brasil depende muito da importação de fertilizantes da Rússia. O presidente argentino esteve em Moscou pouco antes do início da guerra e promoveu seu país com a porta de entrada para a Rússia na América Latina — afirmou Maihold. Para o especialista, não se deve ter "ilusões demais" em relação a um grande apoio para a posição alemã sobre a Ucrânia. O mais recente levantamento do renomado instituto de pesquisa de opinião Latinobarómetro mostra como as relações de poder mudaram na região nos últimos anos. Em relação a temas como direitos humanos, proteção ambiental ou promoção da democracia, a Alemanha e a União Europeia continuam sendo vistas como parceiros, mas quando se trata de tecnologia e ciência, a China é citada quase sem exceção.

Ressalva

Produtos da Alemanha são responsáveis por 5,1% das importações do Brasil. Nos últimos 20 anos, caíram quase pela metade. Ao mesmo tempo, a China passou a ser o principal fornecedor do Brasil, com 22,8%, além de ser o maior comprador de bens brasileiros. — A China é interessante para a América Latina porque não impõe grandes condições. Não faz questão de democracia, Estado de direito, proteção ambiental e os estudos correspondentes em cada projeto. E, na dúvida, a China vem com seus próximos trabalhadores e implementa os projetos de infraestrutura estratégicos. Embora, é claro, haja uma certa ressalva a respeito do tipo de influência que será exercida — avalia Maihold. Para o Brasil, Argentina ou Chile, a Alemanha é como um antigo amigo da escola, que faz visitas esporádicas, nas quais a amizade e os velhos tempos são brindados, e depois desaparece rapidamente de novo. Uma estratégia que claramente chegou ao seu limite diante da difícil situação geopolítica global.

Demanda

Segundo o especialista em América Latina, uma das tarefas de Scholz nesta viagem é deixar claro a diferença da China, que só tem em vista a exportação rápida de matérias-primas. A situação da "força-tarefa hidrogênio" – que foi criada pelos dois países em 2021 no âmbito de parceira energética teuto-chilena –  também será um tema na conversa com o presidente chileno, Gabriel Boric. Na teoria, em 2050, o Chile poderia cobrir de três a quatro vezes a demanda alemã de importação de hidrogênio verde. Scholz também deve falar com o presidente argentino, Alberto Fernández, sobre matéria-prima, especificamente, sobre o "ouro branco" da transição energética: lítio. Há dois anos, a montadora alemã BMW explora o metal num lago de sal da Argentina. A Alemanha quer, ainda, apoiar Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na proteção climática. O presidente brasileiro anunciou que quer acabar com o desmatamento. — O ex-presidente Jair Bolsonaro havia extinto os comitês responsáveis pela gestão do Fundo Amazônia. Logo após sua posse, Lula reativou esses comitês e a Alemanha liberou então 35 milhões de euros para o mecanismo — afirma Katharina Fietz, do Instituto Alemão para Estudos Globais e Regionais (Giga).

Acordo comercial

Para Lula também se trata também de melhorar a imagem. Depois dos turbulentos anos de Bolsonaro, ele quer promover o Brasil no cenário internacional. A viagem de Scholz vem na hora certa. O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, esteve em Brasília para a sua posse. O presidente francês, Emmanuel Macron, também já anunciou uma viagem ao Brasil. O acordo comercial entre o Mercosul e a UE será também um tema que volta ao topo da agenda nas conversas com os chefes de Estados europeus. Devido à política climática de Bolsonaro, o acordo acabou paralisado. Apesar da resistência do lobby do agronegócio, o Brasil "tem um grande interesse em fechar o acordo", afirma Fietz. Segundo a especialista, o acordo deve ganhar um novo impulso quando a Espanha assumir a presidência do Conselho Europeu na segunda metade deste ano. — A Espanha é uma grande defensora da zona de livre comércio — conclui.
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