Nagelsmann se diz chocado por entrevistados serem questionados se deveria haver mais jogadores brancos na seleção alemã: “Isso é racismo”.
Por Redação, com DW – de Berlim
O treinador da seleção alemã de futebol, Julian Nagelsmann, não mediu palavras no domingo para criticar uma pesquisa de opinião divulgada na emissora de televisão pública WDR, da Alemanha, e na qual os entrevistados eram questionados se gostariam de ver mais jogadores brancos com a camisa da seleção nacional.
Nagelsmann disse que a pergunta era racista. “Espero não ter que ler nunca mais sobre pesquisas de merda como esta”, disse em Nurembergue, na véspera do jogo amistoso contra a Ucrânia. “Fiquei chocado que perguntas assim sejam feitas e que haja pessoas que as respondam”, declarou.
Nagelsmann referia-se a uma sondagem feita pelo programa Sport Inside, da emissora pública alemã WDR, cujo resultado apontou que 21% dos alemães gostaria que houvesse mais jogadores brancos na seleção nacional.
– Tenho a sensação de que precisamos acordar um pouco. Acho uma loucura como estamos cegos. Há um número simplesmente inacreditável de pessoas que precisam fugir, que buscam um país seguro. Jogamos a Eurocopa em nome de todos no país – destacou.
Nagelsmann também elogiou Joshua Kimmich, um dos líderes da equipe alemã, por seu posicionamento “claro e refletido” sobre o tema. Na véspera, Kimmich havia assumido uma posição clara contra o racismo ao criticar a pesquisa e defender a diversidade na seleção alemã: “Qualquer um que tenha crescido jogando futebol sabe que isso é totalmente absurdo. O futebol, em particular, é um exemplo de como é possível unir nações diferentes, cores de pele diferentes e religiões diferentes”, afirmou o atleta.
Emissora se defende das críticas
O levantamento, realizado pelo instituto de pesquisas Infratest/Dimap para o documentário Unidade e justiça e diversidade (alusão ao hino nacional alemão, que começa com as palavras “Unidade e justiça e liberdade“) da WDR sobre a diversidade cultural na seleção alemã, foi feito entre 2 e 3 de abril e envolveu 1.304 participantes aleatórios.
Segundo a WDR, 66% dos entrevistados avaliaram positivamente o fato de a seleção ter vários jogadores de origem migratória. No entanto, 17% dos entrevistados lamentaram que o capitão da seleção seja um jogador de origem turca. Atualmente, a função é exercida pelo jogador de 33 anos Ilkay Gündogan, filho de migrantes turcos, que joga no Barcelona.
O diretor de Esportes da WDR, Karl Valks, reagiu às críticas afirmando que a intenção era ter dados mensuráveis sobre uma questão repetidamente ouvida durante as filmagens do documentário. “Nosso repórter Philipp Awounou foi confrontado em entrevistas, durante as filmagens do documentário Unidade e justiça e diversidade, com a afirmação de que há muito poucos alemães ‘de verdade’, de pele clara, no campo. Não queríamos apenas reproduzir isso, mas nos basear em dados sólidos.”
– Nós mesmos ficamos consternados que os resultados sejam como são; mas eles também são uma expressão da situação na sociedade alemã de hoje – disse Valks, acrescentando que a seleção de futebol alemã é um forte exemplo de integração para a sociedade.