Ao lado da presidente taiwanesa, chefe da Câmara norte-americana diz que Washington não abandonará compromisso com Taiwan. Visita gerou indignação em Pequim, que considera ilha autogovernada como parte de seu território.
Por Redação, com DW - de Taipé
A presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, assegurou nesta quarta-feira o apoio de Washington a Taiwan, durante uma visita à ilha que provocou ira no governo chinês.
– Hoje, nossa delegação veio a Taiwan para deixar inequivocamente claro: não abandonaremos nosso compromisso com Taiwan, e estamos orgulhosos de nossa amizade duradoura – afirmou Pelosi em coletiva de imprensa ao lado da presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen.
Segundo a deputada americana, "o mundo enfrenta hoje uma escolha entre democracia e autocracia", e Taiwan se apresenta como "uma das democracias mais livres do mundo, orgulhosamente liderada por uma presidente mulher".
– Agora mais do que nunca, a solidariedade dos Estados Unidos com Taiwan é crucial. E essa é a mensagem que trazemos aqui hoje – disse Pelosi.
Tsai, por sua vez, afirmou que a invasão da Ucrânia pela Rússia elevou as preocupações de segurança em relação a Taiwan. "Agressões contra uma Taiwan democrática teriam um tremendo impacto na segurança de todo o Indo-Pacífico", alertou a presidente taiwanesa.
– Enfrentando ameaças militares deliberadamente intensificadas, Taiwan não recuará. Defenderemos firmemente a soberania de nossa nação e continuaremos a manter a linha de defesa da democracia – disse Tsai. "Faremos o que for necessário para fortalecer a capacidade de autodefesa de Taiwan."
Pelosi desembarcou em Taiwan na terça-feira para uma visita que não havia sido confirmada até a última hora, apesar de incisivos alertas da China sobre possíveis consequências militares e diplomáticas da iniciativa. Ela é a mais alta autoridade americana a visitar a ilha em 25 anos.
Taiwan é uma ilha autogovernada, com um regime democrático e politicamente próximo de países do Ocidente, e uma importante produtora de chips eletrônicos. A ilha declarou sua independência da China em 1949, mas Pequim a considera parte de seu território e rejeita contatos oficiais entre seus parceiros diplomáticos e o governo em Taipei.
Reação da China
Como se esperava, a visita de Pelosi provocou indignação entre as autoridades chinesas. Em resposta, Pequim iniciou exercícios militares em seis áreas nas águas ao redor de Taiwan. Espera-se que eles durem até domingo e incluam exercícios de disparos de longo alcance.
As manobras são vistas como a maior demonstração de força militar da China desde a crise do Estreito de Taiwan em 1995, quando Pequim disparou mísseis sobre Taiwan, e os EUA despacharam dois grupos de porta-aviões.
Nesta quarta, o Ministério do Exterior chinês convocou o embaixador americano na China, Nicholas Burns, em protesto contra a visita de Pelosi, a qual descreveu como uma "séria provocação e violação" do princípio de "uma só China", informou o jornal estatal chinês Global Times.
Pequim enviou ainda um total de 21 aviões para a zona de identificação de defesa aérea de Taiwan somente na terça-feira, disse o Ministério da Defesa em Taipei.
O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, disse na terça que Washington espera que a China "continue a reagir em um horizonte de longo prazo, mesmo após a viagem de Pelosi".
Kirby, que enfatizou que a visita da presidente da Câmara foi "totalmente consistente com nossa política de longa data de 'uma só China'", afirmou ainda que a reação de Pequim foi "infelizmente de acordo com o que prevíamos".
– Não há razão para Pequim transformar esta visita, que é consistente com a política de longa data dos EUA, em algum tipo de crise, ou usá-la como pretexto para aumentar a agressividade e a atividade militar dentro ou ao redor do Estreito de Taiwan, agora ou depois de sua viagem – disse Kirby em coletiva de imprensa em Washington.
Diplomacia
Taiwan, com seus 23 milhões de habitantes, há tempos se considera independente. Mas a invasão russa da Ucrânia elevou os temores de que a China pudesse anexar a ilha democrática à força. As tensões em relação a Taiwan nunca estiveram tão altas desde 1990.
O presidente chinês, Xi Jinping, considera a "reunificação" com Taiwan um objetivo fundamental, e não descartou o possível uso da força para alcançar isso. Já Taiwan rejeita as reivindicações de soberania da China e diz que somente seu povo pode decidir o futuro da ilha.
Washington segue uma política de "uma só China" e reconhece diplomaticamente apenas Pequim, e não Taipei, o que significa que Taiwan não tem uma relação diplomática oficial com os Estados Unidos. No entanto, os EUA fornecem apoio político e militar considerável a Taiwan.
A China exige que os países escolham entre manter relações formais com Pequim ou com Taipei. Apenas 14 países do mundo mantêm relações diplomáticas oficiais com Taiwan.