Durante seus quatro anos de governo, Bolsonaro manteve uma relação próxima com o governo de Israel, de onde a Abin importou o sistema. No ano passado, Bolsonaro manteve uma reunião confidencial com o embaixador israelense no Brasil, Daniel Zonshine, poucos dias antes de deixar a Presidência.
Por Redação, com ABr - de Brasília
Investigadores da Polícia Federal (PF) avaliam que o uso do sistema israelense First Mile, empregado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar ilegalmente adversários políticos, críticos e opositores do governo Jair Bolsonaro (PL), colocou em risco a soberania nacional.
Segundo a coluna do jornalista Paulo Cappelli, do Metrópoles, “a ameaça à soberania nacional estaria configurada uma vez que as informações foram obtidas por meio de um sistema criado em outro país. É que não havia proteção, fiscalização ou regulamentação por parte da Anatel. Os dados de geolocalização iam, sem filtro, para o sistema israelense”.
Durante seus quatro anos de governo, Bolsonaro manteve uma relação próxima com o governo de Israel, de onde a Abin importou o sistema. No ano passado, Bolsonaro manteve uma reunião confidencial com o embaixador israelense no Brasil, Daniel Zonshine, poucos dias antes de deixar a Presidência.
First Mile
A PF, ao investigar o caso, enfrentou obstáculos, como a falta de colaboração da Abin, que forneceu apenas números, sem os nomes correspondentes, da lista de pessoas monitoradas pelo software First Mile.
Entre os alvos do suposto monitoramento ilegal estão jornalistas, políticos e opositores da gestão Bolsonaro. A suspeita de obstrução das investigações levou à discussão na PF sobre a possibilidade de prisão preventiva de mais servidores da Abin, além dos dois já detidos. O comando da Polícia Federal, porém, interveio para evitar que mais membros da agência fossem alvos da operação.
Ainda nesta manhã, a Abin revelou que conseguiu identificar aproximadamente 50% dos 1,8 mil números de telefone cuja geolocalização estava sob monitoramento por meio do programa First Mile. O trabalho foi realizado a pedido da PF pelo Departamento de Operações da Abin. No entanto, essa colaboração tem sido marcada por tensões, especialmente no que diz respeito à quebra de sigilo telefônico, segundo informações do jornalista Guilherme Amado, do diário brasiliense ‘Metrópoles’.
Geolocalização
A desavença entre a PF e a Abin veio à tona quando a agência sugeriu que seria necessário violar o sigilo das linhas telefônicas para descobrir os proprietários dos números monitorados. Agentes da PF suspeitaram que a Abin já tinha conhecimento da identidade das pessoas monitoradas e estava relutante em compartilhar essa informação.
Na outra ponta, a Abin negou a existência de uma lista completa de titulares das linhas, argumentando que os monitoramentos eram realizados caso a caso, com inserção de números de telefone no sistema para obtenção de dados de geolocalização.
A lista de nomes que a Abin conseguiu identificar, a pedido da PF, inclui políticos, jornalistas, advogados e até professores universitários que eram considerados opositores do governo de Jair Bolsonaro. Esse programa foi intensamente utilizado em áreas privilegiadas do Rio de Janeiro e Brasília, bem como durante as eleições de 2020.
Integrantes do serviço de inteligência comentaram com jornalistas que todas as informações disponíveis foram fornecidas à PF. No entanto, os policiais alegam que a Abin recusa-se a cooperar, não respondendo a todas as solicitações e, em alguns casos, respondendo somente após ordem do Supremo Tribunal Federal (STF).