“Sob nenhuma circunstância deveríamos rasgar antigos acordos de desarmamento. Eles, em Washington, realmente não entendem para onde isso pode levar?”, questiona o ex-líder soviético Mikhail Gorbachev.
Por Redação, com agências internacionais - de Berlim, Londres, Moscou e Washington
Acusado de ‘revisionista’ por intelectuais comunistas e apontado como principal responsável pela queda da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o ex-líder russo Mikhail Gorbachev, co-signatário do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF), afirmou neste domingo que o plano do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de retirar o país do acordo é um erro, publicou a agência russa de notícias Interfax.
“Sob nenhuma circunstância deveríamos rasgar antigos acordos de desarmamento. Eles, em Washington, realmente não entendem para onde isso pode levar?”, questiona Gorbachev, segundo a Interfax.
O ministro alemão de Relações Exteriores, Heiko Maas, também se pronunciou, nesta tarde, com sérias preocupações quanto à corrida armamentista global. Ele afirmou que os EUA deveriam considerar as consequências para a Europa e para os esforços futuros de desarmamento de se retirarem de um tratado internacional para eliminação de uma classe de armas nucleares.
Alerta
“O tratado, por 30 anos, foi um importante pilar da arquitetura de segurança europeia”, disse Maas, em comunicado. “Temos pedido com frequência para a Rússia resolver as sérias alegações de que está violando o tratado. Agora pedimos para os EUA considerarem as possíveis consequências”, acrescentou.
Pela manhã, o presidente norte-americano, Donald Trump, justificou sua decisão, anunciada na véspera, de retirar os EUA do INF, ao afirmar que a Rússia não cumpriu termos do tratado de 1987. Em Elko, no Estado norte-americano de Nevada Trump, afirmou que Washington deixará um tratado da época da Guerra Fria que eliminou uma classe inteira de armas nucleares, alegando violações da Rússia. A medida disparou um alerta de Moscou sobre adoção de medidas retaliatórias.
O INF, negociado pelo então presidente dos EUA Ronald Regan e Gorbachev, em 1987, estabeleceu a eliminação de mísseis nucleares e convencionais de alcances curto e intermediário por ambos os países.
— A Rússia não honrou, infelizmente, o acordo então nós vamos encerrá-lo e sair dele — disse Trump a jornalistas.
Armas nucleares
O vice-ministro de relações exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, afirmou neste domingo que uma retirada unilateral dos EUA seria “muito perigosa” e levar a uma retaliação “técnico-militar”.
Autoridades dos EUA acreditam que Moscou está desenvolvendo e instalou um sistema de lançamento baseado em terra, em violação ao tratado INF. Segundo as autoridades norte-americanas, o sistema russo pode permitir ao país lançar um ataque nuclear contra a Europa com rapidez. A Rússia tem consistentemente negado qualquer violação do tratado.
Trump disse que os EUA vão desenvolver armas a menos que Rússia e China concordem em interromper o desenvolvimento.
A China não faz parte do tratado e tem investido pesado em mísseis convencionais. O tratado INF impede a posse pelos EUA de mísseis balísticos que podem ser lançados a partir da terra e tenham alcances entre 500 e 5.500 quilômetros.
Retaliação
O assessor para segurança nacional de Trump, John Bolton, vai visitar Moscou na próxima semana.
Ryabkov, em comentários publicados pela agência russa de notícias RIA, afirmou que se os EUA abandonarem o tratado, a Rússia não terá escolha além de retaliar, o que incluirá a tomada de medidas de “natureza técnico-militar”.
— Mas preferimos que as coisas não atinjam este ponto — disse o vice-ministro, segundo a RIA.
A agência de notícias TASS citou o funcionário russo afirmando que a retirada dos EUA do tratado seria um “passo muito perigoso” e que é Washington, não Moscou, que não cumpriu o tratado.
Londres
Ele afirmou que o governo Trump está usando o tratado como uma tentativa de chantagear o Kremlin, o que coloca a segurança global em risco.
— Não vamos, claro, aceitar ultimatos ou métodos de chantagem — afirmou Ryabkov, segundo a Interfax.
O ministro da Defesa da Inglaterra, Gavin Williamson, em comentários publicados pelo Financial Times, afirmou que Londres se mantém “resoluta” no apoio a Washington sobre o assunto e que o Kremlin está zombando do tratado.