Em linha com as afirmações da diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, a Rússia acusou os países ocidentais de querer provocar um "default artificial" por meio de suas sanções, congelando os bens de Moscou nos bancos internacionais, revivendo memórias do humilhante calote na dívida pública, em 1998.
Por Redação, com agências internacionais - de Londres e Moscou
"A Rússia tem dinheiro para pagar sua dívida, mas não tem acesso a ele”. A observação é da diretora do FMI, Kristalina Georgieva, em entrevista ao canal norte-americano CBS, nesta segunda-feira. A executiva, embora descarte uma crise financeira global por conta das sanções aplicadas ao governo do presidente Vladimir Putin, ressaltou que o aumento dos preços dos alimentos e da energia causado por esta crise pode provocar fome, em particular na África.
— O que mais me preocupa é que há consequências que vão além da Ucrânia e da Rússia — afirmou, embora observe que os efeitos econômicos sobre as populações russa e ucraniana serão graves, com o risco de afundar na pobreza, bem como os países vizinhos.
Em linha com as afirmações de Georgieva, a Rússia acusou os países ocidentais de querer provocar um "default artificial" por meio de suas sanções congelando os bens de Moscou no exterior, revivendo memórias do humilhante calote de 1998.
Sanções
“As declarações de que a Rússia não pode cumprir as suas obrigações em relação à sua dívida pública não correspondem à realidade", acrescentou o ministério das Finanças, nesta manhã, antes de pontuar que "o congelamento de contas em moeda estrangeira do Banco da Rússia e do governo pode ser visto como o desejo de alguns países estrangeiros de organizar um default artificial".
Para a Rússia, trata-se de sua honra e não apenas de seu acesso aos mercados financeiros. Por duas décadas e especialmente desde a crise de 2014, Moscou tentou, de fato, construir uma saúde financeira irrepreensível, com um índice de endividamento muito baixo e reservas de mais de US$ 600 bilhões (R$ 3 trilhões) acumuladas graças à renda do petróleo.
Atualmente, no entanto, em retaliação à invasão russa da Ucrânia, as reservas mantidas no exterior, cerca de US$ 300 bilhões (R$ 1,5 trilhões), tornaram-se o calcanhar de Aquiles da economia russa: estão congeladas no âmbito das sanções ocidentais, desafiando a Rússia a cumprir vários prazos de pagamento de dívidas em moeda estrangeira durante março-abril.
Ativos
Se os 'eurobonds' emitidos desde 2018 podem ser reembolsados em rublos, não é o caso do primeiro vencimento que acontece na quarta-feira, com um reembolso de US$ 117 milhões (R$ 587 milhões).
— É uma situação única em que o lado que impõe as sanções decide sobre um default da Rússia em 2022 — afirma Elina Ribakova, vice-economista-chefe do Instituto Internacional de Finanças (IFF) à agência francesa de notícias AFP.
Ela observa que "a menos que o Tesouro norte-americano permita o desbloqueio de parte dos US$ 300 bilhões em ativos congelados da Rússia para pagar menos de US$ 20 bilhões (R$ 100 bilhões) em participações estrangeiras de eurobonds russos, provavelmente veremos um default".