"Riscos climáticos, incêndios, secas, enchentes, temperaturas extremas afetam preços relativos na economia e portanto podem ter impacto nas nossas decisões de política monetária", disse Nechio em seminário virtual da Febraban e do Banco Internacional de Compensações (BIS).
Por Redação - de Brasília
Eventos climáticos extremos têm se tornado mais frequentes no mundo, com possibilidade de afetar as decisões da autoridade monetária e trazer riscos ao sistema financeiro, reforçou a diretora de Assuntos Internacionais do Banco Central, Fernanda Nechio, nesta quarta-feira.
— Riscos climáticos, incêndios, secas, enchentes, temperaturas extremas afetam preços relativos na economia e portanto podem ter impacto nas nossas decisões de política monetária — disse Nechio em seminário virtual da Febraban e do Banco Internacional de Compensações (BIS).
Ainda segundo a diretora, “esses mesmos eventos extremos põem em risco o sistema financeiro nacional, podendo alterar a demanda por moeda, os valores dos bens físicos, colaterais, além de trazerem riscos financeiros altos para a sociedade como um todo”. Nechio justifica a afirmativa com o fato de a agenda de trabalho do BC ter recentemente incorporado a dimensão da sustentabilidade.
Safra menor
Na prática, o Rio Grande do Sul, segundo maior fornecedor de trigo do Brasil depois do Paraná, percebe o que significa a afirmação da diretora do BC. Em razão do clima, a safra de trigo deverá ter uma quebra de pelo menos 30% ante as expectativas iniciais, com a produção deste ano estimada em cerca de 2 milhões de toneladas. Os dados são da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (FecoAgro/RS).
Segundo o presidente da FecoAgro/RS, Paulo Pires, o produtor investiu no cereal este ano em meio a bons preços, mas uma geada e a seca nas últimas semanas prejudicaram o potencial produtivo de plantas.
A colheita do trigo segue em andamento no Rio Grande do Sul, com regiões de clima mais quente, como as Missões, já tendo colhido cerca de 50% da área. No Estado, aproximadamente 20% da lavoura havia sido colhida até a semana passada, segundo a Emater-RS.
Preço ‘excepcional’
"Da euforia passamos para a frustração. Iniciamos um plantio com 26% de aumento de área e o Rio Grande do Sul sonhou em colher 3 milhões de toneladas de trigo. Infelizmente tivemos uma geada em 22 de setembro que levou parte deste potencial produtivo e depois a seca, somando dois eventos climáticos em uma cultura só", disse Pires, em nota divulgada pela FecoAgro.
Ele comentou ainda que os "preços excepcionais" que o produtor de trigo tem hoje, de mais de R$ 70 por saca, não serão aproveitados por muitos produtores, pois um volume de cerca de 1 milhão de toneladas está comprometido com contratos fechados anteriormente com valores mais baixos.
Caso a previsão de safra da FecoAgro se confirme, a produção ficaria ligeiramente abaixo da colheita de 2,2 milhões de toneladas da temporada passada, disse a federação.
Já o Paraná tem a safra estimada em cerca de 3,3 milhões de toneladas, conforme a previsão mais recente do Departamento de Economia Rural (Deral). A colheita paranaense está entrando na reta final, com mais de 80% da área colhida. Os dois Estados respondem pela grande maioria da produção do Brasil, um importador líquido do cereal.