Rio de Janeiro, 15 de Junho de 2025

Rede de atividades ilegais impulsiona devastação da Amazônia

Essa rede de atividades ilícitas foi mapeada por um levantamento do Instituto Igarapé, ONG que atua nas áreas de segurança pública, climática e digital. Foram analisadas 369 operações com a participação da Polícia Federal (PF) na Amazônia Legal entre 2016 e 2021. 

Quarta, 06 de Abril de 2022 às 08:16, por: CdB

Essa rede de atividades ilícitas foi mapeada por um levantamento do Instituto Igarapé, ONG que atua nas áreas de segurança pública, climática e digital. Foram analisadas 369 operações com a participação da Polícia Federal (PF) na Amazônia Legal entre 2016 e 2021. 

Por Redação, com Brasil de Fato - de Brasília

Os crimes ambientais que impulsionam cada vez mais o desmatamento da Amazônia se tornaram negócios milionários, atrelados a crimes violentos, fraudes, corrupção e até tráfico de drogas.
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Toras de madeira nativa apreendidas em 2020 durante a Operação Handroanthus GLO, da Polícia Federal, no oeste do Pará Metade das ações identificadas estiveram ligadas a associações ou organizações criminosas
Essa rede de atividades ilícitas foi mapeada por um levantamento do Instituto Igarapé, ONG que atua nas áreas de segurança pública, climática e digital. Foram analisadas 369 operações com a participação da Polícia Federal (PF) na Amazônia Legal entre 2016 e 2021. – A partir do estudo a gente mostra que o crime ambiental na verdade não acontece sozinho. Ele precisa de muito financiamento e é envolto por um ecossistema muito mais complexo – afirma Melina Risso, diretora do Instituto.

Operações têm crescido, mas são insuficientes

A face mais visível da atuação dos criminosos está em atividades que degradam diretamente a floresta, como a extração ilegal de madeira, o garimpo ilegal, a grilagem das terras públicas e a agropecuária. Segundo a pesquisa, metade das operações analisadas está ligada a associações ou organizações criminosas. Quase um terço das ações estão relacionadas a crimes violentos contra a pessoa, trabalho escravo, tráfico de drogas ou posse de armas, munições e explosivos. Segundo o Instituto Igarapé, a frequência desses crimes vem aumentando. Os flagrantes de armas, munições e explosivos, por exemplo, mais que dobraram entre 2016 e 2021. O estudo aponta ainda que 60% das operações tinham foco em mais de uma atividade ilegal. – Há uma expansão do desmatamento e das economias ilícitas. Por mais que as operações (policiais na Amazônia) tenham crescido no último ano, elas ainda são insuficientes para fazer frente ao avanço do crime ambiental – salienta Risso.

"Camada vulnerável" é explorada pelo topo da pirâmide

O garimpo de ouro foi a atividade que mais se conectou com crimes tributários, lavagem de dinheiro e outros crimes ambientais, como a poluição. Atos de corrupção e lavagem de dinheiro estão presentes em cerca de 20% das operações. – Parece que o crime ambiental, pela segurança pública, é quase um crime menor. E o que a gente vem mostrando é que é um crime muito organizado, com uma estrutura pesada financiando essa dinâmica e com outras repercussões, tanto do ponto de vista ambiental, como social e econômico.
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A diretora do Instituto Igarapé aponta a existência de uma “camada vulnerável” de pessoas usadas como mão de obra nos grandes empreendimentos ilegais. É o elo mais fraco das economias ilícitas na floresta. – A gente observa inclusive trabalho escravo, por exemplo. Precisamos ter medidas protetivas que deem resposta a esses trabalhadores que acabam se envolvendo e sendo explorados pelo crime ambiental – alerta.

É preciso responsabilizar os mandantes, diz ONG

Das 369 operações analisadas, em 69 as informações sobre os desdobramentos judiciais não foram disponibilizadas publicamente. Das 300 ações restantes, 56 (19%) tiveram indiciamentos por crime ambiental e 57 (19%) tiveram envolvidos indiciados apenas por crimes não ambientais. Outras 24 operações (8%) não apresentaram nenhum indiciamento. Para o Instituto Igarapé, a sensação de impunidade pode estimular a continuidade dos crimes. O levantamento conclui que o cenário complexo exige uma "sobreposição de competências” dos órgãos responsáveis por proteger o bioma. O estudo indica ainda a necessidade de políticas de desenvolvimento socioeconômico que retirem pequenos infratores do ecossistema de crimes. Por outro lado, é preciso responsabilizar os mandantes e financiadores da devastação ambiental. – A gravidade e o alcance dos danos ambientais traz consequências a toda a população. Portanto é prioridade que a gente coloque o combate ao crime ambiental no topo da nossa agenda política – reforça Risso.
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