Rio de Janeiro, 21 de Abril de 2025

Racismo na Alemanha é uma rotina, revela pesquisa

Mais de 60% das muçulmanas e pessoas negras na Alemanha relatam discriminação constante. Descubra os dados alarmantes deste estudo e as experiências de Hanna e Fatma.

Domingo, 23 de Março de 2025 às 15:35, por: CdB

Hanna, que também mora em Berlim, diz que não se atreve a entrar em certos bairros. Quando viaja de metrô com os filhos, ouve regularmente o que chama de “comentários estúpidos”, por causa das crianças e do seu cabelo escuro.

Por Redação, com DW – de Berlim

Mais de 60% das muçulmanas e das pessoas negras afirmam sofrer discriminação constante na Alemanha, segundo levantamento pelo Monitor Nacional para Discriminação e Racismo divulgado neste domingo. As consequências são graves.

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Alemães protestam contra o racismo endêmico que avassala o país

Quem é jornalista em Berlim, por exemplo, e quer conversar sobre experiências pessoais de discriminação na Alemanha, não precisa ir muito longe: os casos brotam por todos os lados. E o que confirma o recém-publicado Monitor nacional para discriminação e racismo (NaDiRa, na sigla em alemão).

Professora de um maternal em Berlim, Fatma começa o dia dirigindo o carro para o trabalho.

— Os outros motoristas me olham com desconfiança — revela.

Ela se veste de maneira elegante, e usa lenço de cabeça.

— No curso de formação, minha professora disse que achava o lenço anti-higiênico — acrescentou.

 

Emprego

Fatma lembra que concluiu o treinamento com uma nota “muito boa”. Mas não é fácil para ela conseguir um emprego, embora a Alemanha precise urgentemente de mais instrutores para as escolas maternais. Sua sensação é de que o lenço a coloca em desvantagem.

— Isso me põe para baixo, faz algo comigo — lamenta

Hanna, que também mora em Berlim, diz que não se atreve a entrar em certos bairros. Quando viaja de metrô com os filhos, ouve regularmente o que chama de “comentários estúpidos”, por causa das crianças e do seu cabelo escuro.

— As pessoas dizem que eu deveria voltar para o meu país — descreve.

É bem visível o quanto essa hostilidade a magoa, especialmente se acontece na frente dos filhos.

 

Ultradireita

Coautora do Monitor sobre racismo, Aylin Mengi, do Centro Alemão de Pesquisa sobre Integração e Migração (Dezim), lembra que “as experiências de discriminação não acontecem por acaso, mas geralmente se baseiam em atribuições racistas”.

O estudo, para o qual os pesquisadores entrevistaram quase 10 mil indivíduos de todo o país, se caracteriza como uma das mais abrangentes compilações de dados sobre racismo e discriminação na Alemanha.

Os resultados apontam que quem é percebido como imigrante ou muçulmano é particularmente afetado, independentemente de sê-lo ou não. Algumas mulheres por usarem um lenço na cabeça, como Fatma; outros por causa da cor da pele. Ou por terem cabelo escuro, como Hanna. Mais da metade dos entrevistados rotulados por características físicas como essas sofrem discriminação no dia a dia pelo menos uma vez por mês.

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