Na véspera, sem muito alarde, o governo lançou um programa de economia para grandes consumidores, embora o programa focalize no deslocamento da demanda para evitar problemas nos horários de maior consumo, o que terá pouco efeito sobre o nível dos reservatórios, segundo especialistas.
Por Redação - de São Paulo
O racionamento de energia, no Brasil, está mais perto do que admitem setores políticos do governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Nesta terça-feira, o Instituto de defesa do Consumidor (Idec) sugeriu a formação de um programa de bonificações para incentivar a economia de energia por consumidores residenciais, medida considerada fundamental por especialistas para enfrentar a crise hídrica em curso.
Na véspera, sem muito alarde, o governo lançou um programa de economia para grandes consumidores, embora o programa focalize no deslocamento da demanda para evitar problemas nos horários de maior consumo, o que terá pouco efeito sobre o nível dos reservatórios, segundo especialistas.
— O racionamento já bate às portas, a gente já vê ele como uma realidade. A demora para assumir a crise tende a piorar as condições para consumidores residenciais no futuro — advertiu o coordenador do programa de Energia e Sustentabilidade do Idec, Clauber Leite, a um dos diários conservadores paulistano.
Metas
Segundo Leite, o modelo de enfrentamento da crise adotado pelo governo amplia a pressão sobre as tarifas, ao optar pelas termelétricas, mais caras, na tentativa de garantir o fornecimento de energia. Sem o consumidor, disse, ficará praticamente impossível reduzir a pressão sobre o sistema.
— Não há espaço para aumento da geração a custo razoável — adverte Leite. A primeira térmica emergencial contratada pelo governo, no Mato Grosso do Sul, por exemplo, tem custo superior a R$ 2 mil por MWh (megawatt-hora).
A proposta do Idec dá descontos sobre o valor da bandeira tarifária para consumidores que economizarem energia. As metas de economia variam de 5% a 25% sobre o consumo médio de 2020, dependendo do porte do consumidor.
Transparência
Já aqueles que não cumprissem as metas, teriam uma penalização, que ajudaria a compensar as bonificações. Consumidores de baixa renda, com consumo de até 100 kWh por mês, seriam isentos da bandeira, com esse custo transferido ao Tesouro.
— Sabemos que isso pode ter algum custo político, mas a falta de ação vai trazer prejuízos muito maiores para os consumidores. A gente vê cenários de aumento de tarifas de 13% a 16% no ano que vem. Se nada for feito, isso pode ser muito pior — acrescenta.
Além da pressão tarifária, especialistas do Instituto Clima e Sociedade (ICS) acreditam que, sem redução do consumo, o Brasil tende a estender a duração da crise para o ano de 2022.
— A crise não termina em dezembro. A situação é grave e não faz mais sentido atacar só pelo lado da oferta. Se a gente não tratar com clareza e transparência necessária, a gente não vai ter o engajamento necessário — resume a consultora do instituto Amanda Ohara.