Rio de Janeiro, 18 de Julho de 2025

Quem ganhou a guerra, Israel ou o Irã?

Análise da Guerra dos 12 Dias entre Israel e Irã: quem realmente saiu vitorioso? Descubra as diferentes perspectivas e o impacto da guerra na região.

Domingo, 29 de Junho de 2025 às 13:49, por: Rui Martins

Afinal quem ganhou a Guerra dos 12 Dias, desencadeada por Israel contra o Irã? Não são todas as mídias que se arriscam a fazer o balanço e proclamar o vencedor, mesmo porque o suposto perdedor, o Irã, comemorou com manifestação popular o cessar-fogo entre os dois países como uma vitória.

Por sua vez, o Líder Supremo iraniano Ali Khamenei, numa declaração televisiva, se vangloriou dessa vitória, negando ter havido destruição no Irã, que deu um tapa na cara dos EUA. O comentarista do Uol Josias de Souza considerou essa declaração uma mostra da senilidade do chefe religioso iraniano.

Por Rui Martins, editor do Direto da Redação.
Quem ganhou a guerra, Israel ou o Irã? | Para a extrema esquerda, quem ganhou a guerra foi o Irã.
Para a extrema esquerda, quem ganhou a guerra foi o Irã.

Entretanto, essa versão de um Irã vitorioso é também defendida pelo professor da Fundação Getúlio Vargas, Salem Nasser, no seu canal de YouTube, e pelo analista político do canal Ópera Mundi, Breno Altman, contraditada por comentaristas de jornais e televisões de diversos países ocidentais.

Onde estão a informação e a contrainformação, sabendo-se que, em tempos de guerra, a verdade é a primeira vítima?

Vamos começar pela Rádio Canadá, órgão estatal de comunicação, vizinha dos Estados Unidos, cuja participação nos bombardeios dos centros nucleares iranianos permitiu a suspensão da guerra.

A rádio canadense cita o discurso do dirigente israelense, no qual Benjamin Netanyahou proclamou a vitória de Israel contra o Irã por ter “destruído a indústria de fabricação de mísseis”, afirmando recomeçar a guerra se ocorrer qualquer “tentativa do Irã retomar suas ambições nucleares”, comemorando terem sido liquidadas as capacidades nucleares iranianas.

Disse também “ter dado um golpe decisivo contra o regime iraniano”, o mais severo desde sua implantação no Irã. Esse ataque incluiu a eliminação de diversos dirigentes dos Guardiães da Revolução e de uma dezena dos principais cientistas do programa nuclear iraniano, mais a destruição de instalações militares e a danificação de centrais nucleares. Netanyahu também citou os ataques aos radares e à defesa aérea iraniana.

Israel contou também com o apoio de agentes secretos recrutados dentro do Irã, facilitando a eliminação de importantes dirigentes do governo iraniano. A razão da intervenção israelense no Irã, qualificada de preventiva, seria uma próxima ameaça nuclear iraniana com o objetivo de destruir Israel.

Os objetivos de Israel eram três: derrubar o governo do aiatolá e molás iranianos, destruir o programa nuclear e liquidar o arsenal balístico.

Embora tenha havido uma eliminação de generais dirigentes do regime, ela não foi suficiente para derrubar o regime. Também não houve uma revolta popular derrubando o regime, pois os ataques reavivaram sentimentos nacionalistas na população e os apelos do filho do Xá Reza Pahlevi não tiveram eco. E existem dúvidas quanto ao sucesso dos ataques às centrais nucleares de Natanz, Ispahan, Arak e Fordow.

Embora o presidente Trump tenha assegurado, no encontro da Otan em Haia, ter liquidado o programa nuclear iraniano, existem as informações de terem sido transferidos 400 quilos de urânio enriquecido e centrífugas para outros subterrâneos mais seguros, antes dos bombardeios israelenses e norte-americanos.

Por sua vez, a CNN informou, com base em informações militares, refutadas por Trump, não terem sido totalmente destruídas as instalações nucleares iranianas, mas apenas danificadas, podendo ser reparadas em no máximo seis meses.

De acordo com o responsável pela Organização da Energia Nuclear Iraniana, existe uma outra central de enriquecimento de urânio num lugar secreto, possibilitando que o país continue com o programa nuclear.

Restam os mísseis iranianos de diferentes tipos, disparados numa média de 40 por dia contra Israel, num total de 500, durante os 12 dias de guerra, causadores de sérios danos em Haifa e Tel Aviv. Ironia da guerra – o último míssil disparado pelo Irã matou a quase totalidade de uma família palestina vivendo em Haifa.

Patrick Sauce, chefe do Serviço Internacional de BFMTV, em Paris, diz ter sido Netanyahu o vencedor dessa guerra, mesmo sem conseguir derrubar o regime. Entretanto, o regime saiu enfraquecido e começou uma grande repressão no Irã, tendo o enforcamento de três suspeitos de espionagem como ponto de partida.

Gaidz Minassian, jornalista do Le Monde, se indaga o que pode ser crível numa situação de guerra, mas afirma terem sido afetados o programa nuclear e a situação política no Irã. Embora não se possa falar em vitória israelense, mesmo porque um cessar-fogo não significa o fim da guerra, que pode recomeçar a qualquer momento.

Prefere falar em resultados positivos e operação bem-sucedida. Em síntese, mudou a maneira de como se tratará a questão: o Irã não poderá mais fingir obedecer ao controle nuclear e continuar a fabricar suas bombas nucleares.

A visão do prof. Salem Nasser é totalmente contrária a essas análises. No YouTube, cujo link está mais embaixo, ele afirma que o cessar-fogo teria sido uma iniciativa de Israel “que não aguentava mais os ataques iranianos por estarem causando muito prejuízo aos israelenses, com muita gente querendo sair e a economia muito afetada… com os riscos de uma guerra prolongada que seria muito mais prejudicial a Israel que ao Irã”.

Verdade ou isso é contestável? Nessa mesma linha, o Irã teria mostrado uma força e resistência não esperada pelos EUA e Israel, enquanto as informações da Agência Internacional de Energia Atômica foram colocadas em dúvida com um recuo do seu diretor-geral sobre o programa iraniano. Por isso, afirma o professor, se houver novas tentativas de negociações sobre o programa nuclear, o Irã terá uma posição mais firme com a Agência Internacional e com os EUA.

O que não será fácil, pois segundo a imprensa internacional, não simpatizante do chamado regime teocrático repressivo dos molás e do aiatolá Khamenei, o Irã saiu fragilizado dessa Guerra dos 12 Dias.

Por uma feliz coincidência, nesse período, havia em Paris o 12º Festival do Cinema Iraniano, com 18 filmes. O cinema iraniano tem revelado, nos festivais internacionais, a repressão do regime iraniano aos seus cineastas, ganhadores de prêmios em Berlim, Cannes, Veneza e Locarno. Por isso, ao divulgar o festival, a Rádio France fala em “grito de resistência” representado pelo cinema iraniano.

De acordo com a iraniana Nahal Khaknegar, programadora do festival, o jovem cinema iraniano confirma seu papel de resistência, depois do movimento Mulheres, Vida e Liberdade.

Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.

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