Rio de Janeiro, 06 de Maio de 2025

Prisão de supostos hackers tenta neutralizar vazamentos da Vaza Jato

Moro teria acompanhado, de perto, cada etapa da operação junto à Polícia Federal (PF). O nível de confiança de integrantes do governo é tamanho que, na noite passada, a líder do governo na Câmara, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), chegou a ameaçar o jornalista Glenn Greenwald.

Quarta, 24 de Julho de 2019 às 15:41, por: CdB

Moro teria acompanhado, de perto, cada etapa da operação junto à Polícia Federal (PF). O nível de confiança de integrantes do governo é tamanho que, na noite passada, a líder do governo na Câmara, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), chegou a ameaçar o jornalista Glenn Greenwald.

 
Por Redação - de Brasília e São Paulo
  O presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL) reuniu-se, nesta quarta-feira, com o ministro da Justiça, Sérgio Moro, que passou ao superior um informe sobre a prisão temporária de quatro suspeitos de terem hackeado o seu celular e do procurador e coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol. A solução encontrada, de capturar supostos hackers e atribuir a eles a autoria dos vazamentos sobre um possível conluio para prender o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; e beneficiar, eleitoralmente, o atual mandatário, ganha credibilidade na mídia conservadora.
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Walter Delgatti Neto, filiado ao DEM e um dos alvos da operação, já foi preso e condenado por receptação, falsificação de documentos e porte ilegal de arma
Moro teria acompanhado, de perto, cada etapa da operação junto à Polícia Federal (PF), segundo observaram jornalistas que cobrem o Ministério da Justiça e Segurança Pública. O nível de confiança de integrantes do governo é tamanho que, na noite passada, a líder do governo na Câmara, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), chegou a ameaçar o jornalista Glenn Greenwald, editor-chefe da agência norte-americana de notícias Intercept Brasil, que detém o conteúdo vazado, com um possível mandato de prisão preventiva. A investigação da PF, contudo, ainda não conseguiu estabelecer se o grupo investigado, no interior de São Paulo, tem alguma ligação com o pacote de mensagens vazadas. Sequer há provas de que os diálogos, enviados ao Intercept por fonte anônima, foram obtidos a partir deste suposto ataque hacker. Pesam, ainda, mais suspeitas do que certezas sobre a ação policial, uma vez que Walter Delgatti Neto, um dos alvos da operação, já foi preso e condenado por receptação, falsificação de documentos e porte ilegal de arma. Delgatti, que é filiado ao DEM, também é investigado por vários crimes de estelionato e foi detido em 2015 com uma carteira falsa de delegado de polícia.

Válvula de escape

Bastaram algumas prisões, ainda que sem qualquer ligação evidente com o caso abordado pela Intercept, para que a mídia conservadora e os veículos de comunicação sustentados pela extrema-direita voltassem ao curso do noticiário favorável ao governo Bolsonaro. A redistribuição de parte da verba publicitária, nos últimos dias, parece também que ajudou na guinada promovida nas manchetes desta manhã. Estampada na primeira página, o jornal O Globo assumiu de pronto a “suspeita de que os detidos tenham atuado na invasão da conta do ministro da Justiça, Sergio Moro , no aplicativo Telegram”. O diário conservador carioca afirma, ainda, que “a partir de agora, a PF tentará descobrir se os presos têm alguma relação com o vazamento de conversas com o procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Operação Lava-Jato em Curitiba”. Porta-voz da ultradireita, o diário conservador paulistano Estado de S. Paulo vai adiante. Ressalta que “desde 9 de junho, o site The Intercept Brasil divulga supostas mensagens trocadas pelo então juiz federal titular da Lava Jato em Curitiba com integrantes do Ministério Público Federal, principalmente com Dallagnol”.

Conteúdo

O Estadão acrescenta que “o ministro da Justiça já afirmou que a invasão virtual foi realizada por um grupo criminoso organizado. Para ele, o objetivo seria invalidar condenações por corrupção e lavagem de dinheiro, interromper investigações em andamento ou “simplesmente atacar instituições”. O outro diário conservador paulistano, Folha de S. Paulo, foi mais reticente nas tintas com que imprimiu a ação policial em suas páginas. Na reportagem, afirma que “uma possível relação entre os dois assuntos não foi confirmada oficialmente pela PF”. Em seguida, porém, a reportagem afirma que, "as investigações seguem para que sejam apuradas todas as circunstâncias dos crimes praticados”. A posição dos jornais é semelhante à dos sites ligados à extrema direita. Nesta terça-feira, o Antagonista disse que o caso somente pode ser enquadrado como um “atentado à liberdade de imprensa” se os jornalistas que veicularam o conteúdo roubado pelos invasores fossem presos”. A menos, é claro, que os jornalistas em questão tenham participado ativamente do hackeamento", diz o site em seguida.

Esquema

O último vazamento divulgado pela Intercept trata sobre o caso do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). Em chats secretos, o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da operação Lava Jato, concordou com a avaliação de procuradores do Ministério Público Federal de que o parlamentar mantinha um esquema de corrupção em seu gabinete quando foi deputado estadual no Rio de Janeiro. Segundo os procuradores, o esquema, operado pelo assessor Fabrício Queiroz, seria similar a outros escândalos em que deputados estaduais foram acusados de empregar funcionários fantasmas e recolher parte do salário como contrapartida. Dallagnol disse que o hoje senador pelo PSL, primogênito do presidente da República, “certamente” seria implicado no esquema. O procurador, no entanto, demonstrou uma preocupação: ele temia que Moro não perseguisse a investigação por pressões políticas do então recém eleito presidente Jair Bolsonaro e pelo desejo do juiz de ser indicado para o Supremo Tribunal Federal, o STF. Até hoje, como presumia Dallagnol, não há indícios de que Moro, que na época das conversas já havia deixado a 13ª Vara Federal de Curitiba e aceitado o convite de Bolsonaro para assumir o Ministério da Justiça, tenha tomado qualquer medida para investigar o esquema de funcionários fantasmas que Flávio é acusado de manter e suas ligações com poderosas milícias do Rio de Janeiro.
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