Paulo Ricardo era reconhecido em toda a região como um jornalista gabaritado, de grande talento e futuro. Aos 34 anos era um cobiçado assessor de imprensa, especialmente para o mundo político, além de colunista de sites e blogs, radialista, jornalista e professor de radialismo.
Por Fábio Lau - de Canoinhas (SC)
Vingança após divergência pode ter sido a motivação do assassinato do jornalista e radialista Paulo Ricardo Ferreira, 34 anos, ocorrido na cidade de Canoinhas, localizada a 358 quilômetros de Florianópolis. O instrumento utilizado para assassinar a vítima, pedras pontiagudas encontradas no local, e a tentativa de dificultar a identificação do corpo e também do automóvel da vítima levam a polícia a acreditar que a ação ocorreu por divergência momentânea e praticamente descartar um crime premeditado.
Paulo Ricardo era reconhecido em toda a região como um jornalista gabaritado, de grande talento e futuro. Aos 34 anos era um cobiçado assessor de imprensa, especialmente para o mundo político; além de colunista de sites e blogs, radialista, jornalista e professor de radialismo. Todas estas credenciais forjaram em seu entorno uma gama muito grande de fãs, admiradores, mas também de adversários políticos.
Em uma cidade majoritariamente bolsonarista, fenômeno que ocorre praticamente em todo o Estado de Santa Catarina, Paulo Ricardo era reconhecido como um polo de resistência progressista entre os defensores do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL). Ele também foi uma voz ativa no processo de impeachment que teria levado à destituição do poder do último prefeito eleito. Beto Passos (PSD) foi poupado do processo no legislativo municipal porque preferiu renunciar.
Recentemente, mesmo sem contar com muitos recursos, Paulo Ricardo apostava as fichas e conhecimento de marketing político na viabilização da candidatura do amigo e ex-vereador de Canoinhas, Paulo Basílio. Ele acreditava ser possível elegê-lo deputado estadual, mesmo em uma região onde a demarcação de áreas de ação, embora não visível ao eleitorado médio, pode gerar conflitos nas disputas políticas.
Crime chocante
Quem conhece bem a cidade de Canoinhas, com seus 55 mil habitantes, sabe que a área onde o corpo de Paulo Ricardo foi deixado é pouco recomendável para quem não esteja à procura de aventuras. No entorno do antigo Parque de Exposições Ouro Verde há pontos de venda de drogas e prostituição. O que não quer dizer que um incauto não possa ser atraído até ali por outros interesses ou mesmo vítima de uma cilada.
Embora haja centenas de casas na região do entorno do Parque, a uma distância não superior a 100 metros, a bárbara ação que provocou a morte de Paulo Ricardo não foi denunciada por nenhum morador. O ataque, à pedradas, pode ter provocado gritos ou pedidos de socorro da vítima. Mas ninguém se manifestou.
Também chama a atenção que o fogo colocado no carro não tenha atraído a atenção de moradores da área – o que seria quase impossível.
Assassinato
Mas não menos chocante é que no dia do encontro do cadáver do jornalista, já pela manhã, um grupo de pessoas se refestelasse num churrasco nas imediações. Naquele momento todos tinham conhecimento do assassinato e da presença do cadáver nas proximidades:
— É a banalização da morte — protestou um antigo morador.
Na noite do crime, Paulo Ricardo esteve cercado de amigos e conhecidos na badalada Boate 408, na Rua Getúlio Vargas. Em seguida seguiu, de carro, para a Ideal Conveniências, outra cultuada lanchonete na Rua 3 de Maio. Ele foi visto fumando e falando ao telefone. Dali teria seguido, obrigado, atraído ou espontânea, até o lugar onde seria cruelmente assassinado.
A Associação Brasileira de Imprensa acompanha as investigações da polícia catarinense sobre este assassinato. De 2012 até este ano foram assassinados 16 jornalistas no Brasil. E só este ano foram registradas duas mortes: o britânico Dom Phillips, ocorrido no Amazonas há um mês e que chocou o mundo, expondo a violência explícita contra defensores dos Direitos Humanos no governo Bolsonaro, e o de Paulo Ricardo Ferreira, 34 anos, por motivos ainda desconhecidos.
Fábio Laué jornalista e articulista doCorreio do Brasil.