Rio de Janeiro, 22 de Novembro de 2024

Pesquisa mostra que vulcões fertilizam e regeneram a vida do oceano

Arquivado em:
Quinta, 07 de Outubro de 2021 às 06:23, por: CdB

O vulcão Tagoro, que entrou em erupção debaixo de água perto da ilha de El Hierro, vizinha de La Palma, em outubro de 2011, foi o objeto de estudo do Instituto Espanhol de Oceanografia e da Universidade de Las Palmas, em Gran Canaria.

Por Redação, com ABr - de Madri

A lava incandescente tem efeito devastador de imediato, mas em médio prazo revela-se um fertilizante no mar. Um estudo concluiu que a vida marinha se recuperou em três anos, após a erupção do vulcão Tagoro, nas Ilhas Canárias. A lava e os gases libertaram nutrientes que favoreceram o aumento de fitoplâncton (micro-organismos aquáticos), atraindo mais peixes, crustáceos e cefalópodes, como polvos e lulas.
vulcao-2.jpg
Vida marinha se recuperou em três anos após erupção do vulcão Tagoro
O vulcão Tagoro, que entrou em erupção debaixo de água perto da ilha de El Hierro, vizinha de La Palma, em outubro de 2011, foi o objeto de estudo do Instituto Espanhol de Oceanografia e da Universidade de Las Palmas, em Gran Canaria.

Tagoro

Tagoro permaneceu em atividade quase seis meses, o que causou alterações na temperatura, acidez e composição química da água do Mar de las Calmas. A vida marinha existente nesse recanto do Atlântico e que atraía os adeptos do mergulho foi exterminada. O vulcão subaquático matou os peixes após a erupção, conforme a temperatura da água subiu e os níveis de oxigênio caíram. As investigações, que se concentraram à volta da cratera, revelaram que a área fora do raio de 200 metros da chaminé vulcânica, estava repleta de vida, ao fim de três anos após a erupção. – A lava é rica em ferro, além de magnésio e silicatos, e isso fornece nutrientes para a água – diz Carolina Santana González, oceanógrafa da Universidade de Las Palmas, em Gran Canaria, citada no The Guardian. Além de registar um aumento de fitoplâncton, havia também peixes adultos, lulas e polvos, mas os cientistas lembram que se perdeu biodiversidade. – Isso acontece quase imediatamente. A lava fertiliza a água e a área se recupera em curto espaço de tempo. No caso da ilha de El Hierro, a vida marinha restaurou-se quase completamente em três anos – afirmou Carolina González. – É como um incêndio florestal. Ele destrói tudo, mas ao mesmo tempo fornece nutrientes para um novo crescimento. A diferença é que a vida marinha se recupera muito mais rápido do que uma floresta – acrescentou. Em El Hierro, as análises químicas perto do cone do vulcão demonstraram que a concentração de ferro era quase 30 vezes maior que o nível normal. As águas ao redor do vulcão também eram ricas em dióxido de carbono, que diminui os níveis de pH e, assim, ajuda os micro-organismos a absorver o ferro, diz o estudo. Embora o ferro oxide na água e se forme em outros compostos, a baixa atividade vulcânica existente em El Hierro manteve a emissão desse nutriente. Os cientistas também destacam o fenômeno que ocorre quando a lava empurra a água do fundo do mar, rica em nutrientes, para a superfície, facilitando a difusão desses nutrientes. – Não podemos parar a natureza, mas a natureza possui mecanismos de regeneração rápidos e eficazes – diz Eugenio Fraile Nuez, responsável pelo monitoramento do vulcão La Palma, do navio do Instituto de Oceanografia atracado ao largo da costa onde a lava está caindo no mar. – É por isso que não é uma catástrofe ambiental, mas muito pelo contrário: vulcões são vida – afirma.

Cumbre Vieja

Em La Palma, a lava está a cerca de 8 quilômetros de uma reserva marinha que cobre cerca de 3,5 mil hectares de mar. É o abrigo de anêmonas tropicais, douradas, algas castanhas, lagostas e tartarugas marinhas. Durante as erupções do Cumbre Vieja, a lava já cobriu mais de 30 hectares de fundo de mar, até a profundidade de 24 metros, duplicando o tamanho da península criada recentemente na ilha. Assim que o vulcão se estabilizar, em terra o quadro será sombrio. A lava destruiu 855 edifícios, tornou centenas de hectares de terra inutilizáveis, enterrou mais de 27 quilômetros de estrada, e cerca de 20% das plantações de banana se perderam. Mas, ao contrário da renovação em terra, que será mais lenta, a vida no mar é promissora. Os seis anos de investigação das consequências da erupção do El Hierro podem dar pistas para entender como a crise climática pode afetar os oceanos, diz Carolina González. Nesse contexto, a cientista lembra que "a maior ameaça à vida marinha da ilha não é o vulcão, mas a atividade humana. O verdadeiro problema é a pesca excessiva".
Edições digital e impressa
 
 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo