Rio de Janeiro, 29 de Junho de 2025

Papa rejeita renúncia de cardeal da Alemanha em meio a escândalo de abusos

Francisco reconhece que Igreja está em crise e precisa de reforma após "catástrofe" de abusos sexuais, mas pede a religioso alemão, que afirmou ser preciso compartilhar responsabilidade, que siga adiante como arcebispo.

Quinta, 10 de Junho de 2021 às 08:39, por: CdB

Francisco reconhece que Igreja está em crise e precisa de reforma após "catástrofe" de abusos sexuais, mas pede a religioso alemão, que afirmou ser preciso compartilhar responsabilidade, que siga adiante como arcebispo.

Por Redação, com DW - de Berlim

O papa Francisco rejeitou a oferta apresentada por uma das mais proeminentes figuras da Igreja Católica na Alemanha, o cardeal Reinhard Marx, de renunciar com o argumento de que é preciso compartilhar responsabilidade pela "catástrofe" dos abusos sexuais cometidos por clérigos nas últimas décadas.
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Francisco agradeceu ao cardeal alemão Reinhard Marx por sua coragem
Numa carta divulgada pelo Vaticano nesta quinta-feira, o papa afirmou que "toda a Igreja está em crise" devido a escândalos de abusos, mas pediu ao cardeal para seguir adiante como arcebispo de Munique e Freising. Marx, de 67 anos, que foi presidente da Conferência Episcopal Alemã de 2014 a 2020, havia anunciado na última sexta-feira que enviara ao papa a oferta de renúncia em 21 de maio. Ele disse que o papa havia dado permissão para que ele publicasse seu pedido enquanto aguardava uma resposta. – Eu preciso compartilhar da responsabilidade pela catástrofe dos abusos sexuais cometidos por membros da Igreja nas últimas décadas – escreveu ao papa. No texto, o religioso, que nunca foi pessoalmente acusado de abuso ou de acobertar casos, disse que esperava que sua saída abrisse espaço para um recomeço. Em sua resposta, escrita em espanhol e divulgada também em alemão, Francisco concordou com Marx em classificar como "catástrofe a triste história dos abusos sexuais e o modo de enfrentá-los adotado pela Igreja até pouco tempo atrás". – A Igreja inteira está em crise por conta da questão dos abusos, e não pode seguir adiante sem assumir esta crise, escreveu. "Assumir a crise, pessoal e comunitariamente, é o único caminho fecundo, porque de uma crise não se sai sozinho, mas em comunidade. – Os silêncios, as omissões, dar peso demais ao prestígio das instituições somente conduzem ao fracasso pessoal e histórico e nos levam e viver com o peso de ter esqueletos no armário – disse. Francisco afirma que é necessária uma reforma na Igreja com relação aos casos de abusos e que esta não pode consistir apenas em palavras, mas de atitudes que tenham a "coragem de assumir a realidade seja qual for a consequência”. Ao mesmo tempo, citou um trecho da carta de Marx em que o cardeal se ofereceu a continuar se engajando na renovação espiritual da Igreja defendida pelo pontífice. "E exatamente esta é minha resposta, querido irmão: continue fazendo como você sugeriu, mas como arcebispo de Munique e Freising", escreveu o papa. O papa agradeceu a Marx por sua coragem. "É uma coragem cristã que não teme a cruz, não teme ser esmagado diante da tremenda realidade do pecado."

Décadas de abusos

A decisão surpreendente do papa vem após a Igreja Católica na Alemanha, assim como em muitos outros países, ser abalada por escândalos de abusos de menores e em meio a uma indignação crescente entre os fiéis alemães. No fim de maio, o papa enviou dois bispos estrangeiros de alto nível para investigar a Arquidiocese de Colônia, a maior da Alemanha, sobre seu tratamento de casos de abuso. Para Marx, as investigações e os relatórios de especialistas dos últimos dez anos mostraram consistentemente que houve "muitas falhas pessoais e erros administrativos", mas também "falhas institucionais ou sistêmicas". – Alguns na Igreja simplesmente não querem aceitar este elemento de corresponsabilidade e, portanto, também de cumplicidade da instituição, se opõem a qualquer diálogo de reforma e renovação em conexão com a crise do abuso – escreveu. Em vez disso, prossegue ele no texto, deve-se continuar com o "Caminho Sinodal", iniciado na Alemanha e que conta com forte engajamento de Marx. O "Caminho Sinodal" é o processo de reformas internas lançado pela Igreja Católica Alemã após os escândalos causados por casos de abuso sexual e se baseia em um debate com os fiéis. Ele trata de questões relacionadas à moral sexual e à abordagem da instituição em relação aos homossexuais. Em 2018, um relatório encomendado pela Igreja concluiu que pelo menos 3.677 pessoas sofreram abusos de clérigos na Alemanha entre 1946 e 2014. Mais da metade das vítimas tinha 13 anos ou menos quando o abuso aconteceu. Três quartos das vítimas tinham uma relação litúrgica ou didática com os acusados, por exemplo como ajudantes de missa, alunos de catecismo, ou aspirantes à primeira comunhão ou crisma. No início deste ano, outro relatório sobre abuso sexual no país, relacionado à diocese de Colônia, trouxe à tona vários casos de abuso sexual por sacerdotes. O arcebispo de Hamburgo, ex-funcionário da Igreja de Colônia e que foi responsabilizado nesse relatório, ofereceu sua demissão ao papa e obteve "período ausente" de duração indeterminada.
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