Rio de Janeiro, 22 de Novembro de 2024

Papa Francisco anuncia nova constituição para Cúria com foco na caridade

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Sábado, 19 de Março de 2022 às 08:44, por: CdB

 

Algumas das medidas anunciadas já foram implementadas ao longo desses anos, como no caso do setor de economia e finanças do Vaticano, alvo de vários escândalos recentes, mas agora foram detalhadas e estruturadas no documento de 250 artigos.

Por Redação, com ANSA - da Cidade do Vaticano

Após mais de nove anos de estudos e debates, o papa Francisco anunciou neste sábado a nova constituição da Cúria Romana. O documento terá como principais focos a caridade e a evangelização e trará mudanças profundas em algumas das estruturas da Igreja Católica.
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Papa Francisco publicou documento com ampla reforma da Cúria Romana
Algumas das medidas anunciadas já foram implementadas ao longo desses anos, como no caso do setor de economia e finanças do Vaticano, alvo de vários escândalos recentes, mas agora foram detalhadas e estruturadas no documento de 250 artigos. Chamada de "Constituição Apostólica Praedicate Evangelium sobre a Cúria Romana", ela substitui integralmente a "Constituição Apostólica Pastor Bonus", promulgada pelo então papa João Paulo II em 28 de junho de 1988.

Conselho dos Cardeais

O texto foi elaborado com a ajuda do Conselho dos Cardeais, criado por Francisco, e que analisou todas as alterações também sob os aspectos jurídicos e canônicos. Na próxima segunda-feira (21), uma coletiva de imprensa será concedida para detalhar e explicar o documento. No preâmbulo do documento, o líder católico afirma que a "conversão missionária da Igreja está destinada a renovar a Igreja segundo a imagem da missão de amor própria de Cristo". – Os seus discípulos e discípulas são chamados a serem 'luz do mundo'. Essa é a maneira com o qual a Igreja reflete o amor salvador de Cristo, que é a luz do mundo. No contexto da missão da Igreja, também está a reforma da Cúria Romana – escreveu Francisco. Já o texto ressalta que a principal entidade de gestão da Igreja "está a serviço do Papa, o qual é sucessor de Pedro, e ao perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade seja dos bispos seja da multidão de fiéis". Entre outras coisas, o serviço na Cúria pede "integridade pessoal e profissional" e "aqueles que prestam serviços são escolhidos entre bispos, presbíteros, diáconos, membros do Instituto de Vida Consagrada e da Sociedade de Vida Apostólica e laicos que se distingam por sua vida espiritual, boa experiência pastoral, sobriedade de vida e amor aos pobres, espírito de comunhão e de serviço, competência nas matérias a ele confiadas e capacidade de discernimento dos sinais dos tempos". Assim, o texto determina que é preciso "dedicar atento cuidado a escolha e a formação" daqueles que forem escolhidos.

Principais medidas 

Entre as principais alterações apresentadas pela nova Constituição, está a redução do número de Dicastérios, uma espécie de "ministério" da estrutura do Vaticano. Segundo o texto, a "redução foi necessária porque é possível unir alguns que tinham finalidades muito similares ou complementares, e racionalizar as suas funções com o objetivo de evitar sobrepor competências e tornar o trabalho mais eficaz". Uma das maiores alterações vem no dicastério mais importante quando se tratam dos assuntos de religião, a Congregação para a Doutrina da Fé. O órgão passará a se chamar de Dicastério para a Evangelização e será diretamente presidido pelo Papa, tendo duas seções: uma voltada para questões "fundamentais" da evangelização do mundo e a outra específica para a primeira evangelização e as novas igrejas particulares nos territórios de suas competências. Outra grande diferença está num dos temas mais caros a Jorge Mario Bergoglio: a caridade e o auxílio aos mais pobres, a igreja que é um "hospital de campo", como gosta de dizer o líder católico. Surge o novo Dicastério para o Serviço da Caridade que, "chamado também de Esmolaria Apostólica, é uma expressão especial da misericórdia e, partindo da opção pelos pobres, os vulneráveis e os excluídos, exercitará em qualquer parte do mundo a obra de assistência e ajuda para eles em nome do Pontífice Romano, o qual nos casos de particular indigência ou de outra necessidade, disporá pessoalmente as ajudas a serem destinadas". O órgão será gerido pelo "Esmoleiro de Sua Santidade". Haverá ainda a unificação do Pontifício Conselho da Cultura e da Congregação para a Educação Católica em um único Dicastério para a Cultura e Educação, "constituído pela Seção para a Cultura, dedicada à promoção da cultura, à animação pastoral e à valorização do patrimônio cultural, e da Seção para a Educação, que desenvolve os princípios fundamentais da educação de referência nas escolas, os institutos superiores de estudo e pesquisas católicas e eclesiásticas e é competente para gerir os recursos em tais matérias". O documento ainda pontua a necessidade de apoio da Cúria Romana ao trabalho desenvolvido pelos bispos e pede um "incremento da comunhão recíproca, afetiva e efetiva do sucessor de Pedro e os bispos". O texto ressalta também a importância dos laicos na vida da Igreja e pontua que "cada cristão é um discípulo missionário" - sendo que essa missão não é apenas uma tarefa dos religiosos consagrados, mas de todos que fazem parte da instituição. "Cada cristão, em virtude do batismo, é um discípulo-missionário 'na medida na qual se encontra com o amor de Deus em Jesus Cristo'. Não se pode não levar em conta na atualização da Cúria, a qual a reforma, portanto, deve levar em consideração o envolvimento das laicas e laicos, também um papel de governo e de responsabilidade. A sua participação é imprescindível porque eles cooperam para o bem de toda a Igreja", diz o texto. O documento, assim, coloca por escrito uma atitude tomada por Francisco ao longo dos seus nove anos de pontificado: de colocar pessoas "comuns", sem vida consagrada na Igreja, na chefia de departamentos - algo bastante visto nos setores de economia e finanças nos últimos anos - e de também inserir as religiosas mulheres na gestão das entidades - como no caso da freira Alessandra Smerilli, a primeira a liderar uma secretaria da Cúria.
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