Segundo a secretaria, o Censo mostrou que na população nessa condição, 752 pessoas responderam ter ido para as ruas depois do início da pandemia provocada pela covid-19, aproximadamente 20% do total de pessoas recenseadas.
Por Redação, com ABr - do Rio de Janeiro
Perda de emprego e de moradia e a queda de renda na pandemia levaram muitas pessoas a aumentar o contingente de população de rua na cidade do Rio de Janeiro.
De acordo com a Secretaria Municipal de Assistência Social, o Censo de População em Situação de Rua da Cidade do Rio de Janeiro 2020, que teve o levantamento dos dados no período de 26 a 29 de outubro de 2020, identificou 7.272 pessoas em situação de rua na cidade. Entre elas, 75,2% (5.469) estavam nas ruas e 24,8% (1.803) em unidades de acolhimento e comunidades terapêuticas.
Segundo a secretaria, o Censo mostrou que na população nessa condição, 752 pessoas responderam ter ido para as ruas depois do início da pandemia provocada pela covid-19, aproximadamente 20% do total de pessoas recenseadas. Para a pasta, isso significa que a pandemia levou a um aumento do número de pessoas nas ruas do Rio. O Censo é realizado de dois em dois anos.
O perfil predominante é de homens, negros, com idade entre 18 e 49 anos, e um grande percentual (40,1%) de nascidos fora do Rio. Ainda conforme a secretaria, a maior parte se encontrava efetivamente nas ruas, concentrada em bairros do Centro, Copacabana e Lapa. Os principais motivos que levaram essas pessoas a dormir nas ruas/unidades de acolhimento são: conflitos familiares, incluindo separação; alcoolismo e/ou uso de drogas; demissão do trabalho/desemprego ou perda da renda.
Capacitação
A secretária de Assistência Social, Laura Carneiro, informou que o Senai e o Senac têm apoiado projetos de capacitação com a intenção de preparar as pessoas acolhidas para a volta ao mercado de trabalho. “Não adianta só empregar se a gente não capacitar e tem alguns empresários ajudando”, pontuou.
“O que a gente está vendo nas ruas são as pessoas absolutamente sem dinheiro porque perderam seus empregos. Muitos conflitos familiares. É assustador o número e é um público diferente do público de sempre. É um público que não era e ficou vulnerável”, contou a secretária à Agência Brasil, acrescentando que muitos moradores são de outros municípios do Estado e também de Minas Gerais e de São Paulo.
Ações
A atuação de coletivos, de organizações não governamentais e projetos de administrações públicas busca identificar onde estão essas pessoas e levar até elas ações para melhorar a condição de vida. A advogada Pamella Oliveira, uma das fundadoras do coletivo Pretas Ruas, de atendimento a mulheres e homens trans em situação de rua, disse tem notado a presença de muitas famílias nas ruas.
– Muitas pessoas não tiveram mais condições de pagar aluguéis, então, a gente hoje vê muitas famílias nas ruas. As pessoas ficaram sem opção. No Centro [da cidade] a gente tem cinco ocupações na Praça Tiradentes de famílias que saíram de suas casas – afirmou.
Segundo a advogada foi necessário mudar a forma de trabalhar junto dessa população para poder atender a demanda que cresceu. “A nossa atuação teve que mudar muito, antes a gente fazia um trabalho mais noturno com rondas, mas precisou mudar totalmente e fez parcerias para um coletivo ajudar com banho, outra com lanche, e outra com kit. As ações isoladas que a gente fazia antes da pandemia, hoje não funcionam se a gente não tiver esse trabalho integrado”, revelou.
Entre o dia 1º de janeiro e a terça-feira, a Secretaria Municipal de Assistência Social fez 71.664 atendimentos e 6.029 acolhimentos de pessoas em situação de rua na cidade do Rio. Os abrigos da Prefeitura, junto com a rede conveniada, têm 2.600 vagas para atendimento da população em situação de rua. Nesse período de frio intenso foram criadas mais 170 vagas.
Na quinta-feira, no Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua, a secretaria lançou o Projeto Volta Por Cima, que de forma inédita, é gerenciado por pessoas que estiveram em situação de vulnerabilidade social e tem como objetivo incentivar a reinserção social dos que estão nos abrigos da Prefeitura do Rio.
A data de 19 de agosto foi escolhida em memória do chamado “Massacre da Sé”, em 2004, quando sete pessoas foram assassinadas e oito ficaram gravemente feridas enquanto dormiam na região da Praça da Sé, capital de São Paulo. E foi a partir da tragédia que começou a mobilização de grupos da população em situação de rua para construir o Movimento Nacional da População de Rua, que mantém a luta pela garantia de direitos. Dessa atuação surgiram políticas para esse público.