A chegada ao poder da horda bolsonarista iniciou uma nova fase: a da destruição maciça dos direitos dos trabalhadores, sem nenhuma desfaçatez. O próprio presidente, numa das suas patéticas “lives”, se solidarizou com os “coitados dos empresários”, presos nas “armadilhas” dos direitos sociais, o que levou a uma “operação desmonte”, sob a batuta de Guedes.
Por Wellington Duarte – de Brasília
Desde que Dilma Rousseff recebeu um golpe, quando a Câmara de Deputados, em 17 de abril de 2016, por 367 votos contra 167, num dos espetáculos mais grotescos já vivenciados por esta república, que possibilitou a continuidade do processo de impeachment a ser julgado pelo Senado, que no dia 12 de maio, por 55 votos a favor e 22 contras (com 2 ausências), autorizou a abertura do processo e, por conseguinte, Dilma foi afastada, sendo posteriormente julgada, e condenada, no dia 30 de agosto, por 60 votos a favor e 20 contra, o país mergulhou num dos seus momentos mais sombrios para a classe trabalhadora.Reforma da previdência
A reforma da previdência (novembro), a lei de liberdade econômica (dezembro) e a famigerada carteira verde e amarela (abril de 2020) formaram a espinha dorsal desse desmonte, mas o governo também desestruturou as representações dos trabalhadores, acabou com o Ministério do Trabalho e Emprego, instalando um caos na administração pública reguladora das relações de trabalho; enfraqueceu a Justiça do Trabalho; e trabalhou diariamente, com medidas provisórias, e outras normas, para colocar o trabalhador na pior condição laboral desde a criação da CLT, em 1943. Agora, o governo enfiou goela abaixo, uma nova reforma trabalhista, através da MP 1.045, que eduz jornadas e salários em meio à pandemia a fim de proteger empresas. Em meio aos delírios autoritários do Mandrião, que acabaram desviando o foco das discussões no parlamento, o texto cortou proteções trabalhistas, reduzia a renda dos trabalhadores, criou categorias de empregados de “segunda classe”, piorou as condições de trabalho dos mais jovens e criaram regras que atrapalharão até fiscalização da escravidão contemporânea. Há uma previsão de aumento da precarização do trabalho, com menos direitos trabalhistas, com enormes impactos tributários e na Previdência Social. A MP é uma calamidade e até os membros do Ministério Público do Trabalho (MPT) já alertaram para a insegurança jurídica e consequências altamente danosas para a sociedade, sem alcançar geração de empregos de qualidade. Na verdade, o que temos é um descalabro, pois são mais de 15 milhões de trabalhadores desempregados, sem falar nos subempregados, desalentados e aqueles outros milhões mergulhados no mundo dos autônomos. Bolsonaro e sua horda, seguindo os passos de Temer, aprofunda o desespero dos trabalhadores, entregues à própria sorte, ou seja, no BraZil a relação entre o Capital e o Trabalho degringolou e tornou-se um suplício ser trabalhador nesse país. Estamos, agora, ameaçados de ter uma geração inteira de trabalhadores em condições semi-servis.Wellington Duarte, é professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Gande do Norte - UFRN, doutor em Ciência Política e presidente do Sindicato dos Professores da UFRN (ADURN-sindicato).
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