A nota, divulgada anteriormente na edição online, causou furor junto aos setores jurídico e de marketing do Nubank, que chegou a emitir uma notificação extrajudicial ao CdB, nesta segunda-feira, com a ameaça de mover uma ação contra o jornal se a matéria não fosse retirada do ar, no prazo máximo de 12 horas.
Por Redação - do Rio de Janeiro
Ao enfrentar a pior crise desde sua fundação, em 6 de maio de 2013, após uma das mais comemoradas aberturas de capital no mercado financeiro, o Nubank chega, nesta segunda-feira, ao seu valor mínimo de mercado. Na véspera, um conceituado empresário do setor imobiliário, ao analisar as condições econômicas dessa e de outras fintechs, chegou a duvidar se o banco digital permanecerá de pé até dezembro.
— Não sei se aguenta até o fim do ano — disse no domingo o executivo, em condição de anonimato, à reportagem do Correio do Brasil.
A nota, divulgada anteriormente na edição online, causou furor junto aos setores jurídico e de marketing do Nubank, que chegou a emitir uma notificação extrajudicial ao CdB, nesta segunda-feira, com a ameaça de mover uma ação contra o jornal se a matéria não fosse retirada do ar, no prazo de 12 horas.
Risco
“No dia 08 de maio de 2022, às 13h47min, a redação do Jornal Correio do Brasil (“Correio do Brasil”), ora Notificado, veiculou notícia intitulada “Ações do Nubank declinam e banco digital pode fechar até o fim do ano”, na qual narra, sem qualquer fundamento verídico, que “o Nubank enfrenta dificuldades praticamente insuperáveis e terá meses tensos adiante”, escreveram os advogados do Nubank.
Nervoso, ao telefone, o assessor de Comunicação Social do banco digital protestou contra o título da matéria e afirmou, categoricamente, que “o Nubank tem mais de 7 mil funcionários e não vai quebrar”, ao que foi alertado para o fato de que qualquer empresa, no mundo capitalista, pode sim fechar as portas. Foi o caso de outros grandes bancos brasileiros, alemães e norte-americanos, nas últimas décadas, devido ao esfacelamento de suas condições financeiras. O risco de falência, portanto, existe para qualquer um.
Ainda na notificação extrajudicial, os advogados do Nubank afirmam que “a divulgação de conteúdo jornalístico inverídico e sensacionalista a respeito de instituições financeiras, além de ilícitos civis, pode, em tese, caracterizar os crimes de difamação e crime contra o sistema financeiro nacional”. O Correio do Brasil, no entanto, rejeitou o argumento de que haja algum “conteúdo jornalístico inverídico e sensacionalista”, uma vez que não apenas a fonte ouvida pela reportagem, mas analistas financeiros balizados já vêm alertando para o risco que corre a instituição financeira.
Ameaças
“Cabe ao Correio do Brasil, diante da dúvida relevante de um empresário experiente quanto à resiliência econômica de uma instituição financeira, falando em condição de anonimato por uma questão de segurança e embasado na realidade dos fatos, ser fiel aos seus leitores, interesse único deste diário ao longo dos seus 22 anos de circulação ininterrupta”, respondeu o editor-chefe do CdB, o jornalista Gilberto de Souza.
— Não aceitamos ameaças de qualquer tipo — acrescentou o jornalista.
Insistente, a ponto de pedir que o jornal mudasse o título da matéria, o assessor de imprensa do banco — que também solicitou, e foi atendido, para não ter seu nome veiculado na reportagem — disse que a “grande mídia” não divulgou nada parecido com o conteúdo do texto divulgado. Embora não tenha qualquer relevância o fato de a mídia conservadora e capitalista não se aprofundar em assuntos que não sejam de seu interesse, a pauta adiantada na nota aparece em outros veículos nacionais de comunicação, nesta segunda-feira.
Segundo a jornalista Fernanda Guimarães, do diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo (OESP), em artigo publicado nesta manhã — após a notícia veiculada pelo CdB — “a alta de juros e o menor crescimento global se transformaram em uma combinação fulminante para o valor das fintechs em todo o mundo. Isso inclui o brasileiro Nubank, que acaba de chegar ao seu valor mínimo de mercado, poucos meses depois de protagonizar uma das mais badaladas aberturas de capital do planeta”.
Reticentes
“O Nubank roda perto de seu preço mínimo, com um recuo de cerca de 40% em relação ao preço de largada de sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), em dezembro de 2021 - no ano, a desvalorização é de 42%. Entre outras brasileiras também listadas nos Estados Unidos, PagSeguro registrou um tombo de cerca de 45% e Stone, de mais de 50%. Fintechs estrangeiras também registram quedas expressivas”, acrescenta.
— Nenhum investidor, com um mínimo de sagacidade, ficaria alheio ao risco de o Nubank perder o seu ponto de equilíbrio e ser obrigado a encerrar as operações, não apenas no Brasil mas nos demais países onde atua, a continuar no declínio acelerado de seu valor patrimonial. O risco, aliás, não é apenas do Nubank, mas de outras fintechs similares — acrescentou a fonte entrevistada pelo CdB.
“Com esse cenário, nas últimas semanas, analistas do setor financeiro passaram a escrever relatórios mais reticentes. O principal ponto de cautela tem sido a qualidade do crédito concedido pelas fintechs. A pergunta mais frequente é se o cliente que fez o empréstimo terá fôlego para pagá-lo”, ressalta a redatora do OESP.
Guimarães cita, ainda, o fato de que ”isso aumenta o risco de o Nubank eventualmente ter de frear a originação (concessão de crédito), diminuindo o ritmo de monetização e diminuindo as esperanças para 2023’, segundo relatório do Itaú BBA, assinado pelos analistas Pedro Leduc, Mateus Raffaelli e William Barranjard”.
Expectativa
“A ação do Nubank também sofre por conta do sinal verde para a venda de papéis da companhia, que estavam bloqueados desde o IPO. Procurado (pelo OESP), o Nubank disse que seu ‘foco é impulsionar o crescimento de longo prazo e gerar valor para nossos acionistas e clientes’ e que busca investidores ‘alinhados à nossa visão estratégica para o negócio”.
Outro ponto de preocupação, conforme cita o OESP, ”é o fato de essa ser a primeira grande crise vivida por muitas fintechs, lembra Bruno Diniz, sócio da consultoria Spiralem”.
— Os players listados estão em situação bem ruim, como reflexo de uma expectativa negativa de como elas irão se segurar nessa grande crise — afirmou Diniz, reforçando a questão do empresário ouvido pelo CdB, que avalia a capacidade de o Nubank permanecer, ou não, de pé nos próximos meses.
Revolução
A dúvida se o neobanco, neologismo para a categoria de serviços financeiros, corre o risco de fechar as portas, no entanto, é reduzida diante do fato de o Nubank estar “muito capitalizado para enfrentar o novo panorama”, segundo observa Carlos Macedo, analista do setor financeiro da Ohmresearch.
Em linha com a tese de Macedo, para Felipe Miranda, coordenador da equipe de Investimentos da revista especializada InfoMoney e ex-analista do Deutsche Bank, há uma movimentação intensa no setor. Mas o volume de notícias negativas sobre as fintechs tem crescido e o Nubank enfrenta “talvez, sua maior crise de relações públicas, com o caso da remuneração de seus executivos”, emenda o economista.
“De repente, virou pop falar mal daqueles que há poucos meses foram capa de revista com o título de ‘revolução no capitalismo”, conclui Miranda.