Novo presidente de painel intergovernamental do clima da ONU alerta contra "supervalorização" da meta de limitar o aquecimento global a 1,5 ºC, mas critica políticas insuficientes para lidar com as mudanças climáticas.
Por Redação, com DW - de Paris
O novo indicado para chefiar o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), Jim Skea, alertou contra uma supervalorização da meta de limitar o aquecimento global a 1,5 ºC em comparação com os níveos pré-industriais.

Em entrevista concedida à revista alemã Der Spiegel, publicada neste fim de semana, o cientista escocês disse que a comunidade internacional valoriza demais a meta estabelecida no Acordo de Paris.
– Não devemos nos desesperar e cair em um estado de choque se as temperaturas globais aumentarem nesse patamar – afirmou.
Em outra entrevista concedida à agência alemã de notícias DPA, ele explicou mais detalhadamente os motivos que o levaram a essa conclusão.
"Se comunicarmos constantemente a mensagem de que estamos fadados à extinção, isso vai paralisar as pessoas e evitar que elas adotem as medidas necessárias para controlarmos as mudanças climáticas", afirmou.
– O mundo não vai acabar com mais de 1,5 ºC – disse Skea. "De qualquer forma, será um mundo mais perigoso", acrescentou.
Ele observou que o fracasso em limitar o aquecimento global deve gerar inúmeros problemas e tensões sociais, mas ainda não implicaria em uma ameaça existencial à humanidade.
Estimativas da ONU sugerem que as medidas adotadas pelos países para conter o aquecimento do planeta não serão suficientes para atingir a meta estipulada pelo Acordo de Paris.
Skea, nascido em Dundee, na Escócia, é formado em física e elaborou sua tese de doutorado em pesquisas sobre energia. Ele trabalhava no Imperial College de Londres desde 2009.
O pesquisador de 69 anos esteve envolvido com o IPCC desde a sua fundação nos anos 1990, do qual foi nomeado como presidente na quarta-feira da semana passada.
À Spiegel, ele disse haver boas razões para sermos otimistas na batalha contra o aquecimento global.
– Cada medida que adotamos para enfraquecer as mudanças climáticas já ajuda – observou, acrescentando que isso se torna cada vez mais economicamente viável.
Para ele, o objetivo maior em curto prazo deve ser a expansão das energias renováveis para reduzir as emissões resultantes da geração de energia através dos combustíveis fósseis e da combustão dos veículos motorizados.
– A longo prazo, nós provavelmente não conseguiremos viver sem soluções tecnológicas como a captura de CO2 no subsolo.
Abstinências individuais não bastam
Skea acredita que uma área onde haverá grandes dificuldades será mudar os estilos de vida das pessoas. A seu ver, nenhum cientista deve dizer às pessoas como elas têm de viver e o que devem comer.
– A abstinência individual é algo bom mas, isoladamente, não trata as mudanças na extensão necessária – disse o cientista. "Se quisermos viver de maneira mais consciente em relação ao clima, precisaremos de uma infraestrutura completamente nova. As pessoas não passarão a utilizar bicicletas se não houver ciclovias", argumenta.
O escocês também quer adaptar o IPCC de modo a fornecer alertas melhores e mais direcionados a grupos específicos de pessoas, sobre de que modo elas podem combater as mudanças climáticas.
Ele se refere a grupos como planejadores urbanos, proprietários de terras e empresários.
– Tudo isso diz respeito a pessoas reais e suas vidas reais, não abstrações científicas – afirmou à DPA
Em seu mandato à frente do IPCC, Skea também espera obter avanços sobre de que forma e para onde as verbas devem ser enviadas no intuito de lidar com a questão globalmente.
– Há bastante dinheiro no mundo; o desafio é fazem com que seja direcionado para os lugares certos – concluiu.
Políticas insuficientes
Na semana passada, em um entrevista após derrotar a candidatura da pesquisadora brasileira Thelma Krug para a presidência do IPCC, ele disse que as políticas adotadas pelos países para lidar com o aquecimento global não foram suficientes.
– (Os governos) não colocaram em prática políticas suficientemente ambiciosas para possibilitar que as metas de Paris fossem alcançadas – afirmou, citado pela agência de notícias Reuters.
– O fato de essas coisas estarem acontecendo não é, de certa forma, surpreendente, mas, sim, a velocidade com que isso nos atingiu e, a não ser que adotemos novas ações para reduzir as emissões, veremos isso ficar pior.