As conversas na capital egípcia, envolvendo Estados Unidos, Israel, Egito e Qatar, terminaram na terça-feira sem qualquer sinal de avanço. Nenhuma data foi anunciada para a próxima reunião.
Por Redação, com Reuters - de Gaza
Os palestinos amontoados em seu último refúgio na Faixa de Gaza expressaram medo crescente, nesta quarta-feira, de que Israel lance em breve um ataque planejado à cidade de Rafah, depois que as negociações, no Cairo, sobre uma trégua terminaram de forma inconclusiva.
As conversas na capital egípcia, envolvendo Estados Unidos, Israel, Egito e Qatar, terminaram na terça-feira sem qualquer sinal de avanço. Nenhuma data foi anunciada para a próxima reunião.
A falta de acordo representou um novo golpe para os mais de um milhão de palestinos amontoados em Rafah, cidade próxima à fronteira com o Egito, onde muitos estão vivendo em acampamentos e abrigos improvisados após fugirem dos bombardeios israelenses em outras partes de Gaza.
Os militares israelenses afirmam que querem expulsar os militantes islâmicos dos esconderijos em Rafah e libertar os reféns que estão sendo mantidos lá após o ataque do Hamas a Israel no dia 7 de outubro, mas não deram detalhes de um plano proposto para retirar os civis.
– As notícias foram decepcionantes, esperávamos que houvesse um acordo no Cairo. Agora estamos contando os dias para que Israel envie tanques. Esperamos que eles não o façam, mas quem pode impedi-los? – afirmou à agência inglesa de notícias Reuters Said Jaber, um empresário de Gaza que está abrigado em Rafah com sua família, por meio de um aplicativo de bate-papo.
– Perdemos nossas casas, nossos empregos. Isso não é suficiente? Já estamos fartos dessa guerra e precisaremos de décadas para reconstruir Gaza e recuperar nossas vidas. Quando o mundo vai parar com o massacre de nosso povo por Israel?
Israel afirma que toma medidas para minimizar as baixas civis e acusa os combatentes do Hamas de se esconderem entre os civis, inclusive em hospitais e abrigos, algo que o grupo militante nega.
A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, que deve manter conversações com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu na quarta-feira, disse que uma ofensiva do Exército israelense em Rafah "comprometeria completamente a situação humanitária".
– Porque as pessoas em Rafah não podem simplesmente desaparecer no ar. Elas precisam de lugares seguros e corredores seguros para evitar serem pegas ainda mais no fogo cruzado. Elas precisam de mais ajuda humanitária. E precisam de um cessar-fogo – disse ela em um comunicado divulgado em Berlim.
Bombardeio
As forças israelenses bombardearam áreas do leste de Rafah durante a noite, segundo testemunhas palestinas.
Aviões e tanques israelenses bombardearam várias áreas de Khan Younis, no sul de Gaza, e houve combates pesados em algumas partes da cidade, segundo moradores.
O Ministério da Saúde do enclave governado pelo Hamas disse que as forças israelenses continuavam a isolar os dois principais hospitais de Khan Younis e que os tiros de franco-atiradores no Hospital Nasser haviam matado e ferido muitas pessoas nos últimos dias.
Falando em um vídeo de dentro do Hospital Nasser, um médico disse que a instalação estava sob cerco das forças israelenses há 22 dias e que escavadeiras protegidas por tanques haviam derrubado o portão norte do hospital.
– Um estado de pânico prevaleceu nesta manhã, quando acordamos com os sons de fortes explosões e bombardeios perto da área norte do hospital. É terrível, a comida está em falta – disse o Dr. Haitham Ahmed no vídeo, que a Reuters não pôde verificar imediatamente.
Moradores de Rafah disseram na terça-feira que dezenas de pessoas deslocadas começaram a deixar Rafah depois dos bombardeios e ataques aéreos israelenses nos últimos dias.
Rafah é vizinha do Egito, mas o Cairo deixou claro que não permitirá o êxodo de refugiados pela fronteira.
Tragédia em números
Pelo menos 28.576 palestinos foram mortos e 68.291 ficaram feridos nos ataques israelenses em Gaza desde 7 de outubro, informou o Ministério da Saúde de Gaza nesta quarta-feira.
Nas últimas 24 horas, 103 palestinos foram mortos e 145 ficaram feridos, acrescentou o comunicado do ministério.
Acredita-se que muitas outras pessoas estejam soterradas sob os escombros de prédios destruídos em toda a Faixa de Gaza, que é densamente povoada e está, na maioria, em ruínas. O suprimento de alimentos, água e outros itens essenciais estão se esgotando e as doenças estão se espalhando.
Ao menos 1,2 mil israelenses foram mortos e cerca de 250 foram feitos reféns no ataque do Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro, segundo os registros israelenses.