Quinta, 21 de Fevereiro de 2019 às 08:21, por: CdB
A maioria dos fumantes adquire o hábito na adolescência. A curiosidade faz com que jovens experimentem novidades como narguilé e cigarro eletrônico.
Por Redação, com ACS - de Brasília
Os jovens são mais antenados e se tornam mais vulneráveis a modismos e novidades. Não é diferente em relação ao cigarro e suas variáveis. A pressão social, a influência de amigos e a superexposição a mensagens nas redes sociais, cinema e televisão faz com que eles tenham a curiosidade de experimentar variações do tabaco, como o narguilé e o cigarro eletrônico. O consumo de nicotina, no entanto, não é seguro, ainda que em doses mínimas, e pode causar câncer.
– A maior parte dos fumantes adquire o hábito de fumar e a dependência à nicotina na adolescência, pois a curiosidade inicial na experimentação de cigarros é um dos fatores determinantes da prevalência do tabagismo na vida adulta – explica a preceptora do Programa de Residência Médica de Psiquiatria do Hospital Universitário de Brasília (HUB), Maria Célia Vitor De Souza Brangioni.
– Daqueles que começam a fumar na adolescência, 50% morrem prematuramente na meia-idade, perdendo cerca de 20 a 25 anos de expectativa de vida em comparação aos não fumantes. O risco é maior naqueles que começam a fumar regularmente na adolescência – destaca Maria Célia, lembrando que a iniciação precoce do cigarro pode levar ao uso de outras substâncias, como álcool e drogas ilícitas.
Narguilé e cigarro eletrônico
Modismos como o narguilé e o cigarro eletrônico escondem riscos extras e ainda são porta de entrada para o vício em cigarro comum. “O tabaco tem sido apresentado sob diferentes formas de consumo. O narguilé e o cigarro eletrônico são tratados como menos nocivos mas podem impor danos semelhantes ou até piores do que o cigarro convencional”, chama a atenção a psiquiatra.
Por utilizar mecanismos de filtragem, o consumo de narguilé é visto como menos nocivo à saúde. Mas, na verdade, seu uso é mais prejudicial do que o de cigarro. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma sessão dura, em média, de 20 a 80 minutos, o que corresponde à exposição a todos os componentes tóxicos presentes na fumaça de 100 cigarros.
E os riscos são os mesmos associados ao fumo regular, que incluem as doenças cardiovasculares, respiratórias e alguns tipos de câncer. O uso coletivo ainda aumenta a exposição a doenças como herpes, hepatite C e tuberculose. Com o cigarro eletrônico, a história não é diferente.
Mesmas substâncias tóxicas do cigarro
Segundo nota técnica produzida pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), a nicotina nos produtos de narguilé é responsável por seu potencial de dependência. Além da nicotina, as mesmas 4.700 substâncias tóxicas do cigarro convencional estão presentes no narguilé, mas análises comprovaram que a fumaça contém quantidades superiores de itens como nicotina, monóxido de carbono e metais pesados.
Já o cigarro eletrônico é um dispositivo que produz vapor inalável. Estudos mostram que os jovens são mais propensos do que os adultos a usar cigarros eletrônicos e podem ser duas vezes mais propensos a avançar para cigarros convencionais do que aqueles que nunca usaram esses dispositivos. Também podem correr risco maior de overdoses acidentais de ingestão de fluidos de nicotina destinados aos cartuchos de e-cigarros.
Redução
Diante de todos os riscos e com os esforços de conscientização, o número de fumantes tem diminuído no Brasil. Segundo dados do VIGITEL/2016, o percentual total de fumantes com 18 anos ou mais no Brasil é de 10,2%, sendo 12,7 % entre homens e 8,0 % entre mulheres. “O número de fumantes no País diminuiu nos últimos 25 anos e a redução coloca o Brasil entre os campeões de quedas do volume de pessoas que consomem tabaco”, destaca Maria Célia.
Um levantamento que ouviu 75 mil adolescentes de 1.251 escolas públicas e privadas, feito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pelo Ministério da Saúde em 2016, sugere que 18,5% dos adolescentes brasileiros entre 12 e 17 anos já experimentaram cigarro. Dos jovens, 6% são fumantes, ou seja, saíram da fase de experimentação. Apesar do estudo indicar um índice alto de contato com o cigarro, a tendência é de queda desse percentual quando há comparação dos dados com outros estudos anteriores.
Faz mal à saúde
O tabagismo é reconhecido pela OMS como uma doença crônica, epidêmica, sendo a maior causa isolada evitável de adoecimento e morte precoce em todo o mundo. Está inserida dentro do grupo dos transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de substâncias psicoativas na Décima Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10).
É um importante fator de risco isolado para cerca de 50 doenças, muitas delas graves e fatais, como o câncer e as doenças cardiovasculares. Mais de 5 milhões de mortes são resultantes do tabagismo no mundo, por ano; 200 mil mortes no Brasil, por ano. Além dos prejudiciais efeitos à saúde dos fumantes, o tabagismo atinge também os não fumantes que convivem com fumantes em ambientes fechados, os denominados fumantes passivos.
– Prevenir o início do uso de cigarro e ofertar tratamento para os fumantes, além de proteger as pessoas do fumo passivo, são ações necessárias para combater esta grave e complexa patologia – completa Maria Célia.