Foram encontrados microplásticos no sal marinho há muitos anos, mas não estava claro em que medida pedaços de plástico estavam espalhados pelo tempero mais comum de todos.
Por Redação, com agências internacionais - de Berlim e Londres
É impossível não notar o lixo plástico que polui praias mundo afora. Enquanto isso, microplásticos permanecem invisíveis no fundo dos mares, na água potável, em alimentos e até mesmo no intestino humano, ameaçando a vida dos seres humanos, no planeta.
Foram encontrados microplásticos no sal marinho há muitos anos, mas não estava claro em que medida pedaços de plástico estavam espalhados pelo tempero mais comum de todos. Agora, uma nova pesquisa mostra microplásticos em 90% das amostras coletadas de marcas de sal de cozinha no mundo todo.
Das 39 marcas de sal testadas, 36 continham microplásticos, segundo uma nova análise de pesquisadores da Coreia do Sul e do Greenpeace do leste da Ásia. Utilizando como base estudos anteriores sobre o sal, esse novo trabalho é o primeiro de sua amplitude a examinar a distribuição geográfica de microplásticos no sal de cozinha e sua relação com os locais onde existe a poluição com plásticos no ambiente.
— Os resultados sugerem que a ingestão humana de microplásticos por meio de produtos marinhos tem forte relação com as emissões de uma determinada região — afirmou Seung-Kyu Kim, professor de ciências marinhas da Universidade Nacional de Incheon na Coreia do Sul.
Resíduos
Foram analisadas amostras de sal de 21 países da Europa, América do Sul e do Norte, África e Ásia. As três marcas que não contiveram microplásticos eram de Taiwan (sal marinho refinado), da China (sal de halita refinado) e da França (sal marinho não refinado produzido por evaporação solar). O estudo foi publicado neste mês no periódico Environmental Science & Technology.
A maior quantidade de microplástico no planeta, no entanto, provém do desgaste de pneus (1,229 quilo), do asfalto e da marcação rodoviária (319 gramas). Muito microplástico também é liberado no meio ambiente durante o descarte de resíduos (303 gramas), principalmente durante o processo de reciclagem e quando plástico, não degradável, vai parar no lixo compostável.
Quadras esportivas e playgrounds com grama sintética liberam, em média, 132 gramas de microplástico no meio ambiente por ano, segundo o estudo do Instituto Fraunhofer. Com o desgaste de solas de sapatos, cada pessoa gera 109 gramas de microplástico por ano; 99 gramas por meio do uso de embalagens plásticas; e 77 gramas durante a lavagem de roupas com fibras sintéticas. Outras 19 gramas provêm do microplástico presente em cremes dentais e cosméticos.
— Podemos partir do pressuposto de que já há microplástico em todas as áreas do meio ambiente. Isso se dá simplesmente porque usamos plástico em tudo, e o material é espalhado por meio do vento e da água. Não é de espantar que microplástico seja encontrado no ar, na água potável ou em alimentos — afirma Leandra Hamann, uma das autoras do estudo.
Aditivos
Atualmente, mais de 440 milhões de toneladas de plástico são produzidas anualmente no mundo. Estimativas indicam que a produção aumenta 4% a cada ano.
Segundo o instituto alemão nova-Institut, especializado em ecologia e inovação, 98% de todos os plásticos são produzidos a partir de petróleo e gás natural, e apenas 2%, de matérias-primas renováveis. Para que os plásticos adquiram determinadas propriedades, recebem aditivos, muitos dos quais são considerados substâncias perigosas.
Somente alguns tipos de plástico se decompõem no meio ambiente, sob certas condições, rápida e facilmente. Um deles são os biopoliésteres PHA, formados por bactérias. Em comparação com os plásticos comuns, os PHA são, no entanto, cerca de seis vezes mais caros e, por isso, pouco produzidos e vendidos, afirma Michael Carus, diretor-executivo do nova-Institut. São produzidas 5 mil toneladas de PHA por ano, o que, em comparação com as 440 milhões de toneladas de plástico produzidas anualmente, é muito pouco.
Meio ambiente
A maioria dos plásticos precisa de muito tempo para se degradar na natureza. Para metade dos produtos de plástico, são necessários até 100 anos; para a outra metade, os pesquisadores do Fraunhofer estimam que sejam necessários até mil anos.
Para proteger o meio ambiente, os cientistas recomendam que a poluição por microplásticos seja reduzida em 96%. Na Alemanha, por exemplo, cada pessoa deveria passar a ser responsável pela liberação de apenas 200 gramas de microplásticos no meio ambiente por ano, em vez dos 5,4 quilos atuais.
Os efeitos de longo prazo dos plásticos e de seus aditivos sobre os seres humanos e o meio ambiente ainda não estão claros, e a pesquisa nesse sentido ainda está na fase inicial. Para limitar as consequências da poluição, a recente Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente em Nairóbi, em meados de março, determinou que o uso de plásticos descartáveis seja significativamente reduzido até 2030.
Embalagens
Em dezembro de 2018, os países-membros da União Europeia (UE) chegaram a um acordo sobre a proibição de plásticos descartáveis. Pratos, canudos e outros artigos de plástico serão proibidos a partir de 2021.
A Comissão Europeia espera que a medida traga uma série de benefícios. Menos plástico pode significar uma redução das emissões de CO2 em 3,4 milhões de toneladas, por exemplo.
Especialistas em meio ambiente elogiaram as iniciativas da UE e da ONU, mas defendem que as ações não parem por aí. Para que a transição para uma economia sustentável seja bem-sucedida, são necessárias mais medidas, como cotas vinculativas para embalagens reutilizáveis de bebidas, taxas sobre produtos nocivos ao meio ambiente e proibição de alguns produtos.
— Um exemplo são os pequenos clipes de plástico azul usados na vinicultura. Esses clipes ficam no solo e, por isso, precisariam ser de materiais que se decompõem — afirma Carus.
Microfibras
Também tecidos poderiam se tornar menos nocivos ao meio ambiente ao serem fabricados com fibras naturais e degradáveis e sem produtos químicos tóxicos.
— Atualmente os consumidores sabem muito pouco. Eles não sabem que os tecidos são feitos de petróleo e que essas microfibras não se decompõem — diz Carus, defendendo um selo para tecidos sustentáveis.