Rio de Janeiro, 24 de Março de 2025

Juiz federal cita tortura de presos na ‘Lava Jato’ para obter delações

"Isso ocorreu em vários casos, inclusive envolvendo idosas, avós presas na frente dos netos e que não tinham nenhuma culpa, mas sabiam de detalhes (sobre possíveis crimes)“, denuncia o autor.

Quarta, 18 de Setembro de 2024 às 20:54, por: CdB

“Isso ocorreu em vários casos, inclusive envolvendo idosas, avós presas na frente dos netos e que não tinham nenhuma culpa, mas sabiam de detalhes (sobre possíveis crimes)“, denuncia o autor.

Por Redação – de Curitiba

O juiz federal Eduardo Appio, que chegou a liderar a ‘Operação Lava Jato’ durante um curto período, revela em livro ainda inédito uma série de denúncias de maus-tratos cometidos contra os presos para forçar confissões e delações. Sob o título: ‘Tudo por dinheiro: A ganância da Lava Jato segundo Eduardo Appio’, escrita pelo editor Salvio Kotter, expõe práticas que, segundo Appio, eram corriqueiras na condução das investigações e prisões.

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Titular da 13ª Vara Federal, o juiz Appio encaminhou o processo de Moro ao STF

O livro será lançado no próximo dia 2 de outubro, mas trechos da obra adiantados para o diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, nesta quarta-feira, já revelam detalhes sobre as condições desumanas a que os alvos da operação eram submetidos. No livro, Appio descreve que os presos, ao chegar à Carceragem da Polícia Federal em Curitiba, eram “jogados em uma cela imunda, com um colchonete inundado em urina e pulgas”.

De acordo com o juiz, os detidos ficavam em total isolamento até ser chamados para as negociações de delação premiada.

 

Inimigos

“Isso ocorreu em vários casos, inclusive envolvendo idosas, avós presas na frente dos netos e que não tinham nenhuma culpa, mas sabiam de detalhes (sobre possíveis crimes)“, denuncia o autor.

O livro também menciona o caso de Paulo Roberto da Costa, ex-diretor da Petrobras e o primeiro a fazer delação no âmbito da Lava Jato. Appio relata que Costa foi privado de banho por dias e sofreu ameaças contra sua filha.

“Era uma espécie de Guantánamo”, compara, referindo-se à prisão militar dos Estados Unidos. “Eu concedi um habeas corpus para Paulo Roberto da Costa em abril de 2014 e entrei para a lista negra de inimigos da Lava Jato”, conclui.

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