No ambiente virtual conhecido como “servidor 466”, esses usuários promoviam sessões de tortura contra animais, incitavam o racismo, faziam apologia ao nazismo entre outros.
Por Redação, com Agenda do Poder – do Rio de Janeiro
Uma investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro, em parceria com o Ciberlab do Ministério da Justiça, revelou o funcionamento de uma rede criminosa virtual centrada na disseminação de violência extrema e discursos de ódio. A apuração, divulgada originalmente pelo portal G1, culminou na prisão de jovens e adolescentes que atuavam por meio da plataforma Discord, sob apelidos como Jihad, Sync, Mikay e Fearless.

No ambiente virtual conhecido como “servidor 466”, esses usuários promoviam sessões de tortura contra animais, incitavam o racismo, faziam apologia ao nazismo, incentivavam automutilação e articulavam ataques a pessoas em situação de rua. As transmissões, assistidas por dezenas de internautas, contavam com aplausos virtuais, risos e reverência às figuras mais ativas do grupo, que exercia um controle hierárquico rigoroso entre seus membros.
O ‘Jihad’ e a face oculta do ativismo
Apontado como líder da organização, Bruce Vaz de Oliveira, de 24 anos, usava o codinome Jihad e era o principal executor das cenas mais brutais. Em uma das transmissões ao vivo, ele foi flagrado esfaqueando um gato enquanto segurava o animal pelo pescoço. A cena chocante foi exaltada pelos outros membros. “O Jihad é um monstro, velho, perfeito”, escreveu um deles.
Publicamente, Bruce se apresentava como ativista ambiental e chegou a participar de eventos vinculados ao G20, em novembro do ano passado. O Ciberlab classificou seu comportamento como “dissimulado e altamente preocupante”. Em redes sociais, ele defendia a preservação da vida e agradecia por “partilhar ideias sobre nosso planeta natal”.
Sync, Mikay e Fearless: cúmplices na engrenagem do horror
Caio Nicholas Augusto Coelho, de 18 anos, o “Sync”, era considerado o braço direito de Bruce. Ele estimulava a violência durante as transmissões, articulava o recrutamento de adolescentes e fazia declarações abertamente racistas. Em uma das cenas investigadas, incentivou: “Corta a patinha dele, abre a garganta”.
Outro membro, um adolescente de 17 anos conhecido como Mikay, era responsável por pressionar vítimas a se automutilarem ao vivo. Ele também promovia desafios humilhantes e de conteúdo sexual entre os usuários, sempre com o objetivo de causar sofrimento psicológico.
Já Kayke Sant Anna Franco, de 19 anos, o “Fearless”, participava das sessões mais degradantes. Ele se envolvia diretamente com incitação à automutilação, humilhação e planejamento de ataques físicos. Segundo a Polícia, era um dos principais responsáveis pelo recrutamento e pela imposição de regras violentas dentro do grupo.
Estrutura organizada e atuação além do virtual
O servidor “466” funcionava com uma estrutura hierárquica bem definida. Os “oradores”, como eram chamados os líderes, tinham poder absoluto sobre os demais. Havia provas de lealdade, recompensas simbólicas e sanções internas. Em alguns momentos, até 170 usuários estavam conectados simultaneamente.
A ação do grupo não se restringia ao ambiente digital. Um posto policial chegou a ser pichado com a sigla “466”, como uma marca do grupo. A Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) e a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente atuam em conjunto para identificar e prender todos os envolvidos.
Parte dos investigados já foi denunciada pelo Ministério Público por associação criminosa, maus-tratos a animais, intolerância racial, induzimento ao suicídio e incitação ao crime. As investigações continuam.
Denúncias e canais de ajuda
A Polícia Civil reforça a importância das denúncias anônimas para identificar crimes dessa natureza. Informações sobre grupos que promovam violência contra animais, incitação à automutilação ou ataques a pessoas em situação de rua podem ser repassadas ao Disque-Denúncia, pelo telefone (21) 2253-1177, ou diretamente à DRCI, nos números (21) 2202-0280, 2202-0273 e 2202-0630.
Atenção: Esta reportagem contém informações sensíveis que podem servir como gatilho para pessoas com histórico de sofrimento psicológico ou traumas relacionados à violência. Em caso de necessidade, procure ajuda especializada.