Rio de Janeiro, 05 de Dezembro de 2025

Jornalistas de Mediapart levaram Sarkozy à prisão

Descubra como o Mediapart, jornalismo investigativo francês, expôs escândalos que resultaram na condenação de Nicolas Sarkozy e outros políticos. Uma luta pela verdade.

Domingo, 05 de Outubro de 2025 às 11:07, por: Rui Martins

É normal a imprensa ser detestada pelos corruptos e golpistas. Sempre existe um repórter, atacado pelos extremistas, descobrindo e tornando públicos um negócio escuso, uma trama, um desvio de dinheiro, uma conta secreta, um documento escondido.

Por Rui Martins, editor do Direto da Redação
Jornalistas de Mediapart levaram Sarkozy à prisão | O jornalismo de investigação luta para sobreviver
O jornalismo de investigação luta para sobreviver

É o caso do processo e condenação a cinco anos de prisão do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, sob a acusação de organizador de uma associação de malfeitores financiada pelo líbio Muamar Khadafi, por coincidência alguns dias depois da condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro.

No caso de Sarkozy, existe uma organização francesa de jornalistas investigativos especializada em localizar e seguir, sempre denunciando e publicando, etapa por etapa, os resultados de suas buscas. Ao mesmo tempo, a condenação de Sarkozy assinala mais uma vitória do chamado jornalismo de investigação, corporificado e liderado na França pelo temido grupo de jornalistas do Mediapart, definido como uma espécie de fósforo cuja chama clareia e revela o lugar onde ocorre o escândalo ou crime, ao mesmo tempo que provoca o incêndio.

O Mediapart não quer exclusividade na investigação do escândalo revelado, contenta-se em mostrar e abrir o caminho para toda imprensa, seja o Le Monde, Libération, rádios e canais de televisão.

O caso Sarkozy começou há 14 anos com uma reportagem do jornalista Fabrice Arfi, até terminar com uma sentença de cinco anos contra o ex-presidente. O Mediapart foi também quem alertou a imprensa e a Justiça no recente caso de corrupção e desvio de fundos públicos envolvendo os assistentes parlamentares do partido Reunião Nacional, da líder da extrema direita francesa Marine Le Pen. Condenada a quatro anos de prisão, Marine se tornará inelegível à presidência da França se seus recursos contra a sentença não forem aceitos.

Foi também o Mediapart quem denunciou o ator Gérard Depardieu por agressão sexual, também condenado. Por isso, o dirigente da ONG francesa anticorrupção Sherpa declarou ser hoje reconhecido pelos juízes franceses o fundamento de acusações originárias do Mediapart.

Além disso, ajuntou, o Mediapart não deixa as acusações serem esquecidas, fazendo com que avancem no passar dos anos com novas investigações e revelações, como foi no caso de Sarkozy com o financiamento de parte de sua campanha eleitoral pelo ditador líbio Muamar Kadhafi.

Embora alguns julguem serem os políticos de direita ou extrema direita os alvos do Mediapart, uma rápida pesquisa afasta essa hipótese, pois a extrema esquerda, França Insubmissa, e seu líder Jean-Luc Melenchon já foram também alvos de denúncias quanto às contas relacionadas ao financiamento da campanha eleitoral de Mélenchon. Houve também denúncias também contra a deputada da França Insubmissa Sophia Chikirou por abuso de bens sociais na última campanha eleitoral.

Apesar de sua importância, força e influência, Mediapart tem a estrutura de um jornal de investigação, editado apenas online nas redes sociais YouTube, Facebook, X e Instagram, com 245 mil assinantes contribuintes e um milhão de inscritos no Youtube. Foi criado em 2008 por um grupo de jornalistas liderado por Edwy Plenel e é presidido pela jornalista Carine Fouteau.

Rui Martins, Jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.

Edições digital e impressa