Dirigentes e atletas selam acordo que prevê "mudanças profundas e imediatas" na estrutura da federação espanhola de futebol, após crise gerada por beijo forçado de ex-presidente da instituição em jogadora na final da Copa.
Por Redação, com DW - de Madri
As atletas campeãs mundiais de futebol da Espanha decidiram nesta quarta-feira encerrar o boicote à seleção nacional do país após a Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) prometer realizar "mudanças profundas e imediatas" em sua estrutura.
A decisão foi tomada após uma reunião de mais de sete horas em um hotel próximo a Valência que incluiu jogadoras, autoridades da RFEF, do Conselho Nacional de Esportes (CSD) e do sindicato de futebolistas Futpro.
As jogadoras haviam decidido não representar a seleção espanhola até que houvesse mudanças na federação, aprofundando a crise deflagrada após o ex-presidente da entidade Luis Rubiales dar um beijo forçado na atleta Jenni Hermoso durante a entrega das medalhas às campeãs, após a final da Copa do Mundo na Austrália.
– Uma comissão conjunta será criada entre a RFEF, a CSD e as jogadoras para o acompanhamento do acordo, que será assinado amanhã – disse o presidente do conselho, Victor Francos.
– As jogadoras expressaram suas preocupações com a necessidade de mudanças profundas na RFEF, que se comprometeu a implementá-las imediatamente – relatou.
Uma só seleção
A RFEF anunciou a unificação do nome da seleção espanhola de futebol, que não mais será chamada de "masculina" ou "feminina", removendo a referência de gênero e harmonizando o nome das duas equipes.
– Além de ser um passo simbólico, queremos que seja uma mudança de conceito e o reconhecimento de que o futebol é (apenas) futebol, não importa quem o pratique – disse o presidente da RFEF, Pedro Rocha. A decisão, afirmou, deve ajudar a promover um "conceito mais igualitário" no esporte.
As demais mudanças na estrutura da RFEF ainda não foram xanunciada.
Após a maioria das jogadoras que se sagraram campeãs mundiais na Copa do Mundo terem sido convocadas para os próximos jogos da seleção, elas disseram que tomariam a melhor decisão para seu futuro profissional e sua saúde depois de avaliar as implicações legais de estarem incluídas em uma lista de convocação da qual haviam pedido para ficar de fora.
Elas alegaram ainda que a convocação não foi divulgada de acordo com os padrões da Fifa. As jogadoras poderiam estar sujeitas a multas de até 30 mil euros, além da suspensão de suas licenças na federação por um prazo de dois a 15 anos, caso rejeitassem a convocação.
Rubiales vai responder na Justiça
No início do mês, a Justiça espanhola acatou uma denúncia do Ministério Público contra Rubiales pelos crimes de agressão sexual e coação.
O caso tramita na Audiência Nacional, tribunal espanhol com sede em Madrid e de jurisdição nacional, que julga delitos mais graves e de maior relevância social, além de crimes cometidos no exterior por cidadãos espanhóis.
O ex-dirigente pode ser condenado a uma pena que varia do pagamento de uma multa até quatro anos de reclusão, uma nova lei sobre consentimento sexual aprovada no ano passado na Espanha extinguiu a distinção que havia entre "assédio sexual" e "agressão sexual", punindo quaisquer atos sexuais não consensuais.
A seleção da Espanha fará sua estreia na Liga das Nações contra a Suécia em Gotemburgo nesta sexta-feira, na competição que definirá a classificação das equipes europeias para os Jogos Olímpicos de Paris em 2024.