A cientista de Cambridge e do Darwin College Jane Goodall destaca, ainda, que a destruição das florestas e outros ambientes selvagens está intrinsecamente relacionada à crise climática.
Por Redação, com BBC – de Viena
Antropóloga, etóloga e primatologista reconhecida mundialmente, a cientista londrina Jane Goodall advertiu, em entrevista à agência britânica de notícias British Broadcasting Corporation (BBC) nesta segunda-feira, que o planeta Terra ingressou em uma nova era de destruição e transformação das espécies nativas.
— Estamos em meio à sexta grande extinção. Quanto mais pudermos fazer para restaurar a natureza e proteger as florestas existentes, melhor — alertou Goodall ao programa ‘Inside Science’, da ‘BBC Radio 4’.
Goodall lidera um projeto de plantio de árvores e restauração de habitat conduzida em Uganda, pela fundação que leva seu nome e pela empresa de tecnologia sem fins lucrativos Ecosia. Nos últimos cinco anos, com a ajuda de comunidades locais e pequenos agricultores, as duas organizações já plantaram cerca de dois milhões de árvores.
Habitat
O objetivo central do projeto de Goodall é restaurar o habitat ameaçado dos cerca de 5 mil chimpanzés de Uganda. Tudo o que restou após séculos de caça ilegal e destruição do meio ambiente. A cientista estuda e defende a proteção dos primatas há décadas, mas também deseja destacar a ameaça ao nosso clima representada pelo desmatamento.
— As árvores precisam crescer até um certo tamanho para poderem realmente fazer o seu trabalho. Mas todo este (plantio de árvores) está ajudando a absorver dióxido de carbono — observa.
Entre 11 e 22 de novembro, líderes mundiais se reuniram em Baku, no Azerbaijão, para a COP29, nova rodada de discussões das Nações Unidas sobre o clima encerrada sem nenhum avanço decisivo sobre a crise climática planetária.
Sem tempo
Para Jane Goodall, é mais urgente do que nunca tomar ações para desacelerar o aquecimento do planeta.
— Ainda temos uma janela de tempo para começar a retardar as mudanças climáticas e a perda da biodiversidade. Mas é uma janela que está se fechando — adverte.
A cientista de Cambridge e do Darwin College destaca, ainda, que a destruição das florestas e outros ambientes selvagens está intrinsecamente relacionada à crise climática.
— Tanta coisa mudou durante o meu tempo de vida — lamenta Goodall, do alto de seus 90 anos, cada vez mais lúcidos.
Nas florestas da Tanzânia, onde começou a estudar os chimpanzés, mais de 60 anos atrás, “você conseguia definir o calendário pela época das duas estações chuvosas”.
— Agora, às vezes chove na estação seca e, às vezes, fica seco na estação úmida. Isso faz com que as árvores frutifiquem na época errada, o que prejudica os chimpanzés, os insetos e as aves — explica.
Devastação
Goodall conta que, ao longo das décadas que passou estudando e defendendo a proteção do habitat dos chimpanzés selvagens, ela acompanhou a destruição de florestas em toda a África.
— E observei a redução dos números de chimpanzés. Se não nos unirmos e impusermos regulamentações rigorosas sobre o que as pessoas podem fazer para o meio ambiente; se não abandonarmos rapidamente os combustíveis fósseis; se não suspendermos a agricultura industrial, que está destruindo o meio ambiente e matando o solo, com efeito devastador sobre a biodiversidade; o futuro estará fatalmente condenado — acrescentou.
A voz calma, porém firme, em que aquela mulher aparentemente frágil ecoa a informação cataclísmica quanto à chegada de um novo período Permiano, quando a Terra se transformou em um cemitério para 95% das espécies marinhas e 70% dos seres terrestres, “ouvir Jane Goodall falar desta forma oferece um vislumbre de firmeza que contraria seu comportamento sempre gentil e articulado”, observou a apresentadora Victoria Gill.
Mensagem
“Quando começou a observar e estudar os chimpanzés no Parque Nacional Gombe Stream, na Tanzânia, Goodall era uma desbravadora. Suas pesquisas, hoje consideradas revolucionárias, geravam controvérsias. Ela foi a primeira pessoa a testemunhar e documentar os chimpanzés criando e usando ferramentas, quando os primatas preparavam espetos para caçar cupins. Antes das suas observações, acreditava-se que essa fosse uma característica exclusiva dos seres humanos”, acrescentou a jornalista.
Diante dos desafios que a Humanidade enfrenta, em face do extermínio em massa que se aproxima, Goodall deixa uma mensagem definitiva:
— As pessoas certamente querem um futuro para seus filhos. Para isso, precisamos ser mais rigorosos sobre a legislação (ambiental). Não temos muito tempo para começar a ajudar o meio ambiente. Já fizemos muito para destruí-lo.