Pesquisa na China envolvendo vacina contra o HPV, vírus que causa de câncer do colo do útero, mostrou que usuários que pesquisam o tema em chatbot têm duas vezes mais chances de imunizar seus filhos.
Por Redação, com DW – de Pequim
Com o aumento de doenças preveníveis por vacinas, encontrar novas maneiras de levar às pessoas informações médicas acessíveis e sem julgamentos pode ajudar a reconstruir a confiança nos imunizantes. A tecnologia de inteligência artificial (IA) pode ajudar nessa tarefa, de acordo com um novo estudo publicado na revista Nature Medicine.

Quase 2,7 mil adultos com filhos em escolas de comunidades urbanas e rurais chinesas participaram da pesquisa. Metade teve acesso a um chatbot de IA por duas semanas, enquanto outra recebeu aconselhamento padrão sobre a vacina contra o papilomavírus humano (HPV).
O estudo descobriu que pais com alto engajamento no chatbot tinham duas vezes mais chances de vacinar seus filhos do que aqueles com baixo engajamento.
– Disponíveis 24 horas por dia, sete dias por semana, os chatbots oferecem um espaço acessível e sem julgamentos para fazer perguntas, o que é especialmente importante para tópicos delicados ou estigmatizados – disse Leesa Lin, codiretora do Projeto de Confiança em Vacinas da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, sediada no Reino Unido.
– Isso é particularmente relevante em áreas como a saúde da mulher, onde normas culturais ou sociais podem limitar uma discussão aberta.
Bots impulsionaram a adesão à vacina contra o HPV
A adesão à vacina e as consultas agendadas foram três vezes maiores no grupo do chatbot em comparação com o grupo de controle. Em áreas rurais, onde o acesso à saúde é frequentemente limitado, as taxas de vacinação foram mais de oito vezes maiores entre os pais que interagiram com o chatbot.
– A escalabilidade e a acessibilidade móvel [dos chatbots de IA] os tornam especialmente úteis em ambientes remotos ou com poucos recursos, onde a infraestrutura de saúde pode ser limitada – disse Lin.
Além da vacinação em si, o uso do chatbot também aumentou o engajamento com os profissionais de saúde. Quase metade dos pais no grupo do chatbot consultou posteriormente profissionais de saúde sobre a vacinação contra o HPV, em comparação com apenas um quinto daqueles que receberam aconselhamento geral. Os pesquisadores também constataram uma melhora na conscientização em relação às vacinas entre os pais que interagiram com a IA.
– Os pais geralmente perceberam o chatbot como uma fonte de informação confiável, clara e acessível, principalmente quando ele usava linguagem culturalmente apropriada e era apresentado por instituições de saúde confiáveis – disse Lin.
O que é o HPV?
O papilomavírus humano é a principal causa de câncer do colo do útero, tendo matado mais de 300 mil pessoas em todo o mundo em 2022. A vacina contra o HPV é notavelmente eficaz. Um estudo britânico de 2021 mostrou que programas de vacinação escolar, estabelecidos na década de 1990, levaram a uma queda drástica nos casos de câncer do colo do útero no Reino Unido.
Enquanto países como Eslovênia e Finlândia têm visto os casos de câncer do colo do útero caírem drasticamente nos últimos anos, outras regiões, como China, Índia, Indonésia e Brasil, ainda enfrentam taxas persistentemente altas.
Esses quatro países registram metade dos casos de câncer do colo do útero no mundo, e a China sozinha responde por quase um quarto desse peso. Apesar disso, apenas um décimo das mulheres chinesas com idades entre 9 e 45 anos recebeu a vacina contra o HPV.
As barreiras que alimentam essa hesitação incluem a falta de conhecimento sobre o HPV, atitudes conservadoras em relação à discussão sobre saúde sexual e a falta de informações sobre saúde.
Um chatbot pode melhorar a adesão à vacina?
Coincidindo com a Semana Mundial da Imunização, a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Aliança Gavi para Vacinas emitiram um comunicado conjunto no último dia 24 alertando sobre o aumento de surtos de sarampo, meningite e febre amarela.
A OMS afirma que as taxas de vacinação infantil ainda estão abaixo dos níveis pré-covid e que os órgãos de saúde pública, preocupados com a hesitação em relação à vacina, estão buscando novas maneiras de lidar com isso.
A inteligência artificial pode ser parte da solução, com algumas ressalvas. Primeiro, as vacinas contra o HPV não são financiadas publicamente na China, o que pode afetar a tomada de decisão dos pais.
Diferentes vacinas também enfrentam níveis diferentes de hesitação em relação ao imunizante. As preocupações em torno das vacinas infantis ou da imunização contra a covid-19 podem exigir abordagens totalmente diferentes daquelas para o HPV.
– A eficácia dos chatbots depende significativamente do contexto da doença e do resultado comportamental específico almejado – disse Lin. “Por exemplo, em nosso estudo, a ferramenta foi projetada para informar e auxiliar na tomada de decisões e promover a adesão à vacina, um resultado claramente definido e mensurável para uma condição bem reconhecida.”
Mais pesquisas são necessárias para verificar se os chatbots de IA podem melhorar a adesão à vacina para outras doenças e em outros países.
Encontrando equilíbrio entre humanos e IA
Embora a ascensão da IA tenha causado preocupação em relação ao seu impacto no mercado de trabalho, este estudo constatou que o chatbot atuou como uma ponte para aumentar o engajamento com os profissionais de saúde.
Ainda assim, os riscos permanecem. “Os riscos incluem desinformação se não for desenvolvida e monitorada de forma responsável, falta de personalização em casos complexos e a possibilidade de excesso de confiança”, disse Lin.
Para lidar com esses riscos, a pesquisadora afirmou que eles “seguem um rigoroso processo de desenvolvimento semelhante a outras intervenções científicas em saúde”. “O uso responsável da IA na saúde, especialmente em áreas como vacinação e saúde reprodutiva, requer salvaguardas tecnológicas e design ético.”