Inteligência alemã diz que operações de espionagem da Rússia no país aumentaram em 2022 e devem crescer mais neste ano. Enquanto isso, extrema direita alemã explora oposição à ajuda militar à Ucrânia, afirma relatório.
Por Redação, com DW - de Berlim
O Departamento Federal de Proteção da Constituição da Alemanha (BfV), agência de inteligência interna do país, alertou que as operações russas de espionagem e desinformação em solo alemão aumentaram significativamente em 2022, e devem continuar crescendo também neste ano.
Um relatório divulgado pelo BfV na terça-feira afirma que a Rússia vem demonstrado interesse cada vez maior nas campanhas de desinformação. O documento também menciona a China como um dos "principais atores" nas atividades de espionagem na Alemanha.
"No futuro, podemos esperar ações mais clandestinas e agressivas por parte da Rússia, assim como atividades no ciberespaço", diz o relatório. Segundo o texto, os ciberataques seriam "destinados regularmente à obtenção de informações, mas também podem ter como objetivo a sabotagem ou servir o propósito de exercer influência."
– A guerra da Rússia contra a Ucrânia também significa um ponto de inflexão para a segurança interna – afirma a ministra alemã do Interior, Nancy Faeser, na introdução do relatório. "Especialmente em tempos de guerra, as lideranças no Kremlin se apoiam no trabalho dos serviços de inteligência."
– O relatório do BfV destaca mais uma vez os perigos para a segurança interna da Alemanha: espionagem, operações cibernéticas e tentativas de serviços externos de inteligência de exercer influência se tornaram mais irrestritas e sofisticadas – declarou o presidente do órgão, Thomas Haldenwang.
As atividades da China, no entanto, estariam mais voltadas à coleta de informações sobre a indústria alemã, assim como instituições científicas e militares.
"Em 2022, suspeitos de serem agentes do Estado ou orientados pelo Estado chinês continuaram a perpetrar ciberataques a empresas, agências governamentais e indivíduos, assim como a instituições políticas", diz o relatório.
Cresce o extremismo de direita
O BfV também registrou um aumento no número de extremistas de direita na Alemanha, que chegou a 38,8 mil em 2022, em 2021, eram 33,9 mil, dos quais 14 mil são considerados potencialmente violentos.
A agência também destacou que os movimentos de extrema direita mudaram o foco com que operam em público. O relatório apontou que, enquanto no início de 2022 esses grupos ainda instrumentalizavam os protestos contra as restrições impostas na pandemia de covid-19, no final do mesmo ano eles tentavam explorar a oposição à ajuda militar alemã à Ucrânia e uma potencial crise energética.
Uma vez que esses temas fracassaram em conquistar apoio do público mais amplo, a extrema direita, segundo o relatório, voltou a se dedicar a instigar sentimentos anti-imigração.
Segundo as pesquisas, o maior partido de ultradireita do país, a Alternativa para a Alemanha (AfD), tem atualmente cerca de 20% de apoio entre os eleitores, sendo este o percentual mais alto obtido pela sigla em muitos anos. O BfV estima que cerca de 10.200 dos 29.000 apoiadores da legenda sejam extremistas.
No ano passado, um tribunal alemão autorizou o BfV a exercer vigilância sobre a AfD, ao concluir que há indícios suficientes de aspirações anticonstitucionais dentro do partido.
Apesar de o BfV não comentar questões políticas publicamente, o presidente Haldenwang se viu no papel de fazê-lo. "Vemos dentro do partido (AfD) correntes significativas que se opõem à ordem democrática fundamental. O que quer dizer isso?", perguntou a jornalistas durante uma coletiva de imprensa em Berlim na terça-feira.
– Talvez os eleitores devam observar isso. Isso significa que partes da AfD disseminam ódio e agitações contra todos os tipos de minoria aqui na Alemanha, especialmente os migrantes. Partes da AfD também espalham opiniões antissemitas – alertou.
Haldenwang disse ainda que setores da AfD estariam sendo "fortemente influenciados por Moscou".
Extremismo de esquerda também preocupa
Embora Faeser e Haldenwang tenham enfatizado que a extrema direita segue sendo a maior ameaça à democracia alemã, o BfV também registrou um aumento no número de extremistas de esquerda no país. Eles chegaram a 36,5 mil em 2022, ante 34,7 mil no ano anterior, sendo mais de um quarto deles considerados potencialmente violentos.
Haldenwang afirmou que a agência está de olho em "grupos pequenos e clandestinos que atacam especialmente extremistas de direita", mas também naqueles que "enxergam o aparelho de Estado como inimigo, levando a atos de violência brutais contra as forças policiais".
O presidente do BfV disse que uma garrafa contendo um líquido inflamável e explosivo foi atirada contra policiais em um protesto de extrema esquerda em Leipzig, o que os promotores locais consideram uma tentativa de assassinato.
Ambentalistas fora da lista
Por outro lado, um grupo que sequer foi mencionado nas 380 páginas do relatório é o Letzte Generation (Última Geração), o coletivo de ativistas do clima que vem realizando atos com perturbações cada vez maiores da ordem pública nos últimos meses.
Apesar de a polícia alemã ter realizado operações em todo o país contra o grupo, com a prisão de vários membros antes que pudessem realizar suas intervenções, Haldenwang disse que o BfV não os considera extremistas.
– Vemos um quadro heterogêneo no movimento dos ativistas do clima – explicou. "Em grande parte, vemos pessoas que atuam por mais proteção ao clima, que utilizam seus direitos básicos para protestar, o que está sob a proteção da Constituição. Por outro lado, temos pequenos grupos que agem claramente de maneira extremista. O Letzte Generation se encontra em algum lugar dentro desse espectro."