Apesar de críticas, partido governista já rebatizou várias cidades indianas e há planos para mais trocas de nomes. Tendência pode prejudicar secularidade do Estado e afeta pluralidade cultural do país.
Por Redação, com DW - de Nova Délhi
Na última semana, o ministro-chefe do estado indiano de Uttar Pradesh, Yogi Adityanath, rebatizou as cidades de Allahabad com o nome de Praygraj e de Faizabad com Ayodhya.
Adityanath e o partido governista Bharatiya Janata Party (BJP, sigla em inglês), liderado pelo primeiro-ministro Narendra Modi, justificaram a ação dizendo que estavam apenas retomando os nomes históricos das cidades. De acordo com eles, estes foram alterados por imperadores muçulmanos que governaram o subcontinente indiano antes do domínio britânico, que oficialmente começou em 1858.
– Ayodhya é um símbolo de nossa honra, orgulho e prestígio – disse Adityanath, depois de anunciar o novo nome de Faizabad.
A moda de alterar nomes de cidades não se restringe ao estado de Uttar Pradesh. Ministros-chefes de outros estados governados pelo BJP estão adotando medidas similares e rebatizando cidades, aeroportos e ruas.
No estado ocidental de Gujarate, o governo do BJP avalia substituir o nome da ex-capital, Ahmedabad, por Karnavati. O deputado do BJP Raja Sing, em Telengana, no sul, recentemente propôs o nome de Bhagyanagar para a capital estadual, Hyderabad.
No estado de Bihar, no nordeste, o legislador Giriraj Kishore, também do BJP, exigiu que a cidade de Bakhtiyarpur seja rebatizada. Também houve tentativas de mudar o nome de Agra, onde fica o famoso mausoléu Taj Mahal, para Agravan ou Agrawal.
Num movimento parecido, Sangeet Som, outro legislador do BJP, quer que o nome da cidade de Muzaffarnagar seja modificado para Laxmi Nagar.
Quase todos os nomes que deverão ser substituídos ou para os quais há propostas de alteração possuem raízes muçulmanas. Analistas políticos argumentam que o BJP, uma legenda nacionalista hindu, quer mudar os nomes das cidades e de outras localidades históricas para agradar seus eleitores antes das eleições gerais de 2019.
Cidades são rebatizadas no mundo inteiro, mas os críticos do BJP afirmam que a motivação do partido governista é política e que a agremiação pretende "hinduizar" a Índia.
Desde o seu início, o Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS), organização central que serviu de inspiração ideológica para o BJP, trabalha para expandir os hindus de comunidade religiosa para força eleitoral. Críticos dizem que o objetivo é estabelecer uma hegemonia hindu num país que é majoritariamente hindu, prejudicando as minorias religiosas.
– É uma tentativa de enfraquecer a identidade plural da Índia. O BJP está agradando aos eleitores hindus conservadores do país antes da eleição de 2019, mas a mensagem que estão transmitindo durante esse processo é extremamente preconceituosa – avalia o sociólogo Sanja Srivastava.
O economista Parikshit Ghosh, acredita que o impulso de mudança de nomes do BJP é uma tentativa de desviar a atenção do grande público dos erros administrativos do partido nos últimos quatro anos.
Políticos
Vários políticos seculares indianos atacaram a onda de rebatismo do BJP, argumentando que as trocas aumentarão rixas sociais e políticas num país multiétnico e multirreligioso. "A motivação do BJP é um desafio para o multiculturalismo da Índia, que dominou a paisagem social e política do país desde a independência do domínio britânico, em 1947. Desavergonhadamente, o partido está rebatizando cidades que têm nomes muçulmanos", afirma Sharad Yadav, líder do partido Loktantrik Janata Dal.
Renomear cidades, ruas e outras referências históricas é um processo corrente na Índia. Em muitos casos, governos pós-independência rebatizaram nomes britânicos para estabelecer uma identidade exclusivamente indiana. Mas esta é plural e envolve a variedade de crenças praticadas no país.
– Nos últimos 50 anos, pelo menos cem vilas e cidades foram rebatizadas. Desta vez, porém, isso está sendo feito com base puramente religiosa – afirma Srivastava.
Por outro lado, nacionalistas hindus negam as acusações de que suas políticas sejam discriminatórias. "Nosso nacionalismo tem como base a unidade e a integridade de nossa pátria amada. Trata de explicar às pessoas sobre as grandes tradições de Bharat (lendário rei hindu) e a herança cultural da Índia. Nosso objetivo é a unidade cultural", diz o advogado Raghav Awasthi, membro do RSS.
Liberais indianos acusam o governo do BJP de propositadamente criar rixas entre hindus e muçulmanos e encorajar extremistas de direita. Desde que Modi assumiu o poder, em 2014, aumentaram os casos de "vigilância de vacas" (veneradas por grande parte da população e cujo abate é proibido em muitos estados) e de assassinatos de muçulmanos por hindus radicais.