País registra mais de 314 mil infecções em apenas 24 horas. Segunda onda da pandemia levou a colapso do sistema de saúde, e cenas dramáticas como as vistas em Manaus em janeiro se repetem em solo indiano.
Por Redação, com DW - de Nova Délhi
A Índia registou nesta quinta-feira um novo recorde mundial de novos casos diários de covid-19. De acordo com dados divulgados por autoridades de saúde, nas últimas 24 horas, o país contabilizou 314.835 novas infecções, elevando o total para 15,9 milhões. Desde 14 de abril, a Índia registra mais de 200 mil casos da doença todos os dias.
O recorde anterior foi registrado nos Estados Unidos em janeiro, quando o país contabilizou 297.430 novos casos em um dia. Desde então, as novas infecções caíram drasticamente em território americano, que atualmente é um dos líderes da vacinação contra a covid-19.
A Índia registrou ainda 2.104 novas mortes em decorrência da covid-19 nesta quinta. Foi o segundo dia consecutivo em que os óbitos pela doença passaram a marca de 2 mil. Com isso, o total de mortes no país subiu para 184.657.
Após meses de estabilidade nos casos, a Índia enfrenta uma severa segunda onda da doença, com sistemas de saúde em colapso, falta de leitos, de medicamentos e de oxigênio. O governo indiano chegou a limitar o uso industrial de oxigênio para redirecioná-lo ao uso médico.
Falta de oxigênio
Autoridades de saúde de todo o norte e oeste do país, incluindo a capital Nova Délhi, reportaram hospitais lotados e falta de oxigênio. Médicos têm aconselhado pacientes a ficarem em casa. "No momento, não há leitos nem oxigênio. Todo o resto é secundário. A infraestrutura está desmoronando", afirmou o virologista Shahid Jameel, da Universidade Ashoka.
O vice-primeiro-ministro indiano, Manish Sisodia, disse que alguns hospitais na capital já estão sem oxigênio, e os estados vizinhos interromperam o fornecimento do gás para Nova Délhi para garantir a demanda local. "Pode se tornar difícil para hospitais salvar vidas aqui", ressaltou.
O Tribunal Superior de Nova Délhi ordenou na quarta-feira que o governo enviasse o oxigênio de uso industrial para os hospitais para salvar vidas. "Implorar, pedir emprestado ou roubar, é uma emergência nacional", disseram os juízes em resposta a uma petição de um hospital da capital que solicitou a intervenção.
Imagens dramáticas como as registradas em Manaus, em janeiro, estão sendo vistas na Índia. Imagens exibidas em reportagens na televisão mostram cenas de desespero, com aglomerações de pessoas com cilindros de oxigênio vazios em frente a instalações de reabastecimento.
Sem perspectiva de queda
Especialistas avaliam que a segunda onda da pandemia, que começou em meados de fevereiro, ainda não alcançou o pico, e eles não sabem estimar quando os casos começarão a cair.
A Índia é o segundo país do mundo mais afetado pela pandemia, atrás apenas dos Estados Unidos, que registrou mais de 31,8 milhões de casos.
Embora alguns especialistas acreditem que uma nova variante do coronavírus esteja por trás da alta de casos, outros fatores também contribuíram para a disseminação desenfreada da doença. Após meses de estabilidade no verão, com um índice baixíssimo de casos diários, o país permitiu reuniões e festas, relaxando as medidas de distanciamento social. Cinco estados realizaram eleições e até mesmo um jogo de críquete com a presença de mais de 130 mil espectadores foi autorizado.
Ainda não foi comprado que a variante indiana do coronavírus seja mais transmissível, mas especialistas acreditam que ela pode estar relacionada ao grande aumento de casos no país nas últimas semanas. Batizada de B.1.617, a nova cepa carrega duas mutações na proteína spike do vírus que já foram identificadas em outras variantes pelo mundo. Elas foram associadas a uma capacidade reduzida de neutralização do coronavírus por anticorpos ou células T.
A proteína spike é a parte que o vírus usa para penetrar nas células humanas. Já os linfócitos T são células com funções imunológicas de respostas antivirais, seja através da produção de citocinas ou eliminando ativamente células infectadas.
Isso significa que pessoas vacinadas ou que já tenham sido contaminadas podem estar menos protegidas contra a variante indiana.