Rio de Janeiro, 15 de Junho de 2025

Guevara, Mujica e a tergiversação midiática

A análise de Luciano Siqueira sobre como a mídia distorce as trajetórias de Che Guevara e Pepe Mujica, transformando símbolos revolucionários em produtos.

Quinta, 15 de Maio de 2025 às 15:02, por: CdB

A mídia transforma símbolos revolucionários em produtos e distorce trajetórias como as de Che Guevara e Mujica, apagando seus ideais em nome da narrativa dominante.

Por Luciano Siqueira – de Brasília

Quando em 2007 se assinalavam 40 anos do assassinato de Ernesto Che Guevara, em La Higuera, Bolívia, pelo Exército boliviano e pela CIA, vivíamos o ambiente da maior campanha mundial de culto ao individualismo de todos os tempos, encetada na virada do século. 

Guevara, Mujica e a tergiversação midiática | Mujica em 2023
Mujica em 2023

A debacle da União Soviética e das democracias populares do Leste europeu servia como pano de fundo. A suposta superioridade do capitalismo marcava um hipotético “fim da História”.

A solidariedade passara a ser démodée, valia a ambição individual como meio de ascensão social numa sociedade marcada pela exploração e pela desigualdade. A calça jeans US Top desbotada passara a símbolo de liberdade.

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O ideal do socialismo devia ser arquivado. 

Entretanto, dando razão a Karl Marx, para quem o capitalismo tudo transforma em mercadoria, a força de trabalho, sobretudo, mundo afora se comercializaram milhões de camisetas, bonés, chaveiros e amuletos estampando a figura do revolucionário argentino-cubano, precisamente a encarnação de que vale dar sentido à vida abraçando uma causa justa, inclusive correndo todos os riscos individuais que a luta revolucionária implica. 

Na grande mídia, então, estatísticas das vendas realizadas eram saudadas como eficiência do mercado. 

Pepe Mujica

Agora, com a morte do líder uruguaio Pepe Mujica, ex-guerrilheiro tupamaro na resistência à ditadura militar (1973 e 1985), aprisionado por 13 anos e vítima de terríveis torturas; e, posteriormente, presidente da República (2010 e 2015) pela via eleitoral, o que se vê, lê e ouve, na grande mídia, é a distorção da personalidade do militante revolucionário. 

Mujica agora é saudado não como um líder político que foi capaz de travar a luta pelos mesmos ideais sob as condições da legalidade democrática, mas falsamente como quem teria aberto mão de suas convicções e adotado como objetivo central de sua militância a conciliação de classes. 

A mesma grande mídia que hipocritamente critica a guerra cultural pela via digital, que a tudo deturpa em favor de uma realidade paralela, na qual se explora a desinformação, o ódio e a falsa aspiração à ascensão individual como ideal de vida, faz a sua parte.

Entretanto, como bem escreveu Priscila Lobregatte aqui no ‘Vermelho’, os braços de Mujica se foram, como os de Guevara, mas nós ainda estamos aqui.

 

Luciano Siqueira, é médico, membro do Comitê Central do PCdoB e secretário nacional de Relações Institucionais, Gestão e Políticas Públicas do partido, foi deputado estadual em Pernambuco e vice-prefeito do Recife.

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

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